Para Ofri Cnaani, o papel da arte é provocar uma visão crítica e reflexiva

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
07/12/2015 às 08:07.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:14
 (william gomes/divulgação)

(william gomes/divulgação)

Esse trabalho com mediadores, abrindo os olhos de quem tem contato com visitantes a museus, já havia sido feito por Ofri Cnaani em outras instituições de Israel e Estados Unidos (MoMa, Metropolitan). A diferença é que as iniciativas anteriores foram feitas com pessoas que já trabalhavam como mediadores/guias, mas de forma voluntária (algo muito comum nos países mais ricos).

A ideia de fazer com funcionários do Inhotim, especialmente com a turma menos escolarizada, surgiu ano passado, quando a artista visitou o museu e conheceu o projeto “Encontro Marcado”, que promove a troca de experiências e conhecimento entre funcionários de várias áreas.

“Foi uma experiência muito interessante, uma das melhores semanas da minha vida. Mandava fotos para a minha família e perguntava: vocês acreditam que este é o meu trabalho?”, contou Ofri.

Ela estava encantada com os resultados da performance de sexta passada. Usou um caso para exemplificar a beleza da dinâmica. “Um rapaz da manutenção levou uma senhora e a filha para a Galeria Mata e, quando elas estavam de olhos fechados, e descreveu uma pintura. Depois, perguntou a elas: ‘vocês têm ideia do que eu faço no museu?’ E elas disseram ‘não’. Ele prosseguiu: ‘abram seus olhos. Fui eu que pintei. Não a pintura, a parede’”, lembrou a artista. “É uma ironia que mostra que a instituição não é feita apenas de obras de arte”.

Para Ofri, a arte não é algo restrito aos que receberam, digamos assim, uma educação formal. “Arte é algo que deve oferecer uma perspectiva diferente sobre o mundo, oferecer uma visão crítica ou reflexiva sobre as coisas”.

A performance “Que Lugar É Esse?” não foi a única dinâmica proposta pela artista. Inhotim também recebeu a performance “Recalculando Rotas”, na qual visitantes foram convidados a entrar em um grupo de WhatsApp por uma hora e interagir durante o passeio. De cinco em cinco minutos, a artista enviava mensagens com direções (olhe para o alto, pense grande) e os participantes enviavam fotos correspondentes ao comando. “No final, temos várias interpretações de uma ideia”, disse Ofri.
 

Troca

O professor da UFMG Enrico Colosino foi uma das pessoas que participaram da performance. Caminhou pelo Inhotim com Walisson Silva, que trabalha na pavimentação do parque. “Foi a minha quinta vez no Inhotim e achei interessante ver aspectos que só um funcionário poderia ver melhor”, contou.

Um dado que ele não conhecia é que o popular painel “Rodoviária de Brumadinho”, do porto-riquenho Rigoberto Torres e do americano John Ahearn, traz rostos de pessoas da cidade. E um dos retratados é a mãe de Walisson.

Mas falar sobre esse incrível lugar em que trabalha não foi fácil para Walisson. O rapaz teve de vencer sua timidez. Durante toda a semana, ele viveu a ansiedade de se sair bem na performance. “Aprendi a perder um pouco o nervosismo. Tive que aprender a passar informações, sinto que estou mais preparado”, disse o rapaz. Para Ofri, ele ganhou muito com o processo. “Quando você assume uma responsabilidade, acaba se impondo e vencendo as barreiras”.

A israelense Ofri Cnaani mora em Nova York, onde é professora da Escola de Artes Visuais e do Centro Internacional de Fotografia. Veja mais em ofricnaani.com

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