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“No Rancho Fundo”, de Ary Barroso e Lamartine Babo, é um dos maiores clássicos do nosso cancioneiro e é difícil encontrar um brasileiro que não reconheça a música nos primeiros acordes. Mas no álbum “Daqui”, que o grupo Pau Brasil acaba de lançar, a composição ganha contornos bem diferentes, mais ligados à música instrumental contemporânea, com uma beleza harmônica que só poderia vir dos arranjos do mestre Nelson Ayres.
“O nosso desafio é criar o interesse, tocar no conhecido de forma diferente. O ouvinte conhece a melodia, já sabe pra onde vai, mas quando ouve a nossa versão, é como ele estivesse conhecendo de novo a música”, conta o saxofonista Teco Cardoso, que forma o Pau Brasil ao lado de outros quatro mestres da música instrumental: Ricardo Mosca (bateria), Nelson Ayres (piano), Paulo Bellinati (violões) e Rodolfo Stroeter (contrabaixo).
Em “Daqui”, o grupo decidiu dividir meio a meio o repertório entre o autoral e as versões de mestres – além de “No Rancho Fundo”, estão aqui “Pai” (Bande Powell/ Paulo César Pinheiro), “Bachianas Brasileiras nº 1 – Prelúdio/Modinha” (Heitor Villa-Lobos”, “Agora Eu Sei” (Moacir Santos) e “Saudades do Brasil (Tom Jobim).
“De certa forma, o disco é síntese destes 30 e muitos anos de Pau Brasil, pois traz um repertório equilibrado. Temos cinco arranjos nossos para grandes compositores que têm a ver com caminho do grupo e são referências para a gente”, diz Cardoso.
Feras
Todos os integrantes do Pau Brasil são compositores e arranjadores, permitindo que o trabalho de criação seja bem dividido entre os colegas. Aqui não há um diretor musical, o desenvolvimento do trabalho se dá de forma democrática.
E se o mercado de festivais não dá conta de absorver shows do grupo por crise no setor cultural, o quinteto não se deixa abalar. Agora tem se apresentado em casas de jazz de São Paulo. “Há uma grande vantagem em se apresentar em uma casa noturna: poder experimentar. Podemos aproveitar o momento e trabalhar o que temos com maior possibilidade de improvisar, algo mais difícil de fazer em um teatro”, explica Cardoso.
“É muito interessante ver que há muitos filhotes nossos fazendo música instrumental brasileira, buscando uma antropofagia que fez parte do nosso trabalho", Teco Cardoso, saxofonista.