Peça com Maria Ribeiro discute vida sem estigmas

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
19/11/2020 às 07:26.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:05
 (BOB WOLFENSON/DIVULGAÇÃO)

(BOB WOLFENSON/DIVULGAÇÃO)

Não é por levar aos palcos a adaptação do livro “Pós-F, para Além do Masculino e Feminino”, de Fernanda Young, que a atriz Maria Ribeiro irá concordar com 100% do que foi escrito pela autora. Como a maneira de enxergar o feminismo, pontuado por críticas no livro lançado em 2018.

“Sou super feminista. Não tenho nenhum problema com o termo. Pelo contrário. Mas, ao mesmo tempo, acho muito interessante que alguém questione o ‘ismo’ da moda, porque, ao não se dizer feminista, a Fernanda está sendo muito mais feminista do que muita feminista”, assinala.

É este lado questionador de Fernanda Young, falecida no ano passado, devido a uma crise asmática intensa, que atraiu Maria Ribeiro e resultou na peça que será apresentada nesta sexta no Cine Theatro Brasil, em formato híbrido, com presença de público e transmissão on-line.

Ainda sobre o feminismo, a atriz ressalta que hoje há muito discurso e pouca prática. “Fernanda era uma pessoa que torcia por outras mulheres e que abria caminho para elas. Não tem nada mais feminista do que isso”, registra Maria Ribeiro, que estará sozinha no palco.

Tanto no livro como na peça, Fernanda expõe as suas experiências, defendendo a liberdade para fazer o que vier à cabeça, amar quem quiser – fundamental, para ela, antes de se definir a sexualidade – e viver à sua maneira. Para Maria Ribeiro, Fernanda não tinha medo de pensar de forma independente.

“Ela tinha um pensamento muito singular, muito próprio e não tinha medo dele. Era isso que me encantava nela, uma pessoa realmente que tinha coragem de bancar as suas opiniões, às vezes”, sintetiza. A autora, por sinal, estaria no palco junto com Maria Ribeiro, se estivesse viva.

“O que a gente iria fazer era outra peça. Faríamos como se fossem duas Fernandas, uma discutindo com a outra, que é bem uma característica dela, de mudar de ideia, de ter esse pensamento bem dialético, contraditório, uma coisa levando à outra”, compara.

Com a pandemia e a possibilidade de fazer um monólogo em formato on-line, ela e a diretora Mika Lins retomaram o projeto. “Buscamos o que considerávamos mais relevante, quanto tempo as pessoas conseguiriam ficar à frente da tela e qual era o nosso ponto de encontro com o pensamento dela”, explica.

Maria Ribeiro aparece discutindo com a sua equipe de criação num vídeo, a respeito de uma opinião de Fernanda sobre mudança no corpo. “A gente acredita neste tipo de teatro, que é feito de forma coletiva.  A gente discorda dela e achamos que ela também discordaria dela mesma”.

Para a atriz,  o vídeo representa uma forma de colocar o processo dentro da apresentação. “Eu, particularmente, gosto muito de ver isso: a feitura dos processos, como as pessoas chegaram ao resultado. Gosto disso em documento e gosto disso em teatro também”, analisa

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