Com quatro indicações a prêmios (Shell, Cesgranrio, Botequim Cultural e APTR) na bagagem, o espetáculo “Os Cadernos de Kindzu” conta a história de um jovem que decide deixar o país onde nasceu por conta das atrocidades da guerra civil. A partida se transforma numa viagem iniciática não solitária, acompanhada ora de longe ora de perto por outros igualmente à procura de um lugar seguro, uma vida com mais sentido.
Inspirado no romance “Terra Sonâmbula”, do escritor moçambicano Mia Couto, o espetáculo dirigido por Ana Teixeira e Stephane Brodt faz uma incursão na África pós-colonial marcada pela violência.
O livro é de 1992, mas a história é atemporal, ressalta uma das diretoras. “Mesmo falando de um contexto histórico e geográfico específico, por meio do texto, é possível olhar para a humanidade. Uma peça de Shakespeare é atual porque ali está o ser humano”, compara Ana Teixeira.
“Nós reinventamos um pouco a história. Trata-se de uma releitura, com as mesmas palavras de Mia Couto, mas com muita liberdade”, diz.
A montagem do grupo carioca Amok Teatro chega a BH para cumprir temporada de amanhã a 8 de maio, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Camadas narrativas
O tema é uma continuidade da peça anterior do Amok, “Salina (A Última Vértebra)”, que também recorreu à matriz africana, porém, de um ponto de vista mais ancestral. O grupo mantém a guerra como eixo central de seus trabalhos nos quase 20 anos de trajetória.Daniel Barboza/Divulgação / N/ASONORIDADE – Uma das marcas da peça é a música, elemento forte na cultura africana
A diretora Ana Teixeira esclarece ainda que é marca forte da peça a narração, a oralidade, assim como a música. “Há diferentes sotaques, como o português do Brasil e o de Moçambique. É um espetáculo muito sonoro, não só porque é narrado, mas pelas muitas camadas narrativas como a música. Não existe na África narração sem música. Aliás, não existe vida sem música no país”.
Relação com o Brasil
Na visão de Ana, “Os Cadernos de Kindzu” apresenta ainda um elo com o Brasil – a violência do dia a dia vivida pela juventude negra.
“Viemos trazer uma reflexão sobre a questão, pois esse é o papel do teatro, o de aprofundar, dar um rosto, um nome, e levar as pessoas a compreenderem uma situação por meio de um outro olhar, que é o da humanização”, pondera.
Um outro aspecto também faz uma ligação entre a obra e o país. “Existe uma conversa com a conjuntura atual do Brasil. Veremos ecos do que estamos vivendo”, aponta a diretora.
Serviço:
“Os Cadernos de Kindzu”, do grupo Amok Teatro, no palco de amanhã a 8 de maio, de quinta a segunda, sempre às 19h, na Sala Multiuso do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)