Perto de completar 100 anos, o samba ganha força em Belo Horizonte

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
07/03/2016 às 07:44.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:42
 (Divulgação/Necup)

(Divulgação/Necup)

O samba é paulista, baiano, carioca e também é mineiro. Vindo lá do Continente Mãe, ganhou forma por aqui e se espalhou por todo o Brasil. Tem a fama de nascer para o prazer, se formar às custas da tristeza e de não deixar ninguém parado: aquele que não gosta, bom sujeito não é. Perto de completar o centenário, o gênero se consolida em Belo Horizonte e ganha fôlego com o renascimento do Carnaval na cidade.

Apesar dos bons números da folia na capital (os gastos de turistas chegaram a R$54 milhões este ano), é bom lembrar que o samba não surgiu ontem em Minas. Pelo contrário, lembra o jornalista Zu Moreira, que prepara um almanaque com 50 perfis de sambistas mineiros. “Nomes como Ary Barroso, Ataulfo Alves, Geraldo Pereira e Clara Nunes foram fundamentais para consolidar o samba como um símbolo brasileiro”, lembra.

Se hoje o ritmo ganha as ruas da capital, quando chegou por aqui, na década de 30, não era bem assim. Desde que começou, na região da Pedreira Prado Lopes, houve uma ascensão da cena em Belo Horizonte. “Antes o sambista vivia nas periferias. Essa realidade mudou. Há mais espaços e eventos”, conta Moreira, que salienta a importância de se pensar o samba enquanto mercado. “O samba (também) é negócio. Não vejo problema em capitalizá-lo, mas tem que ser uma via de mão dupla. A cultura do samba sempre foi e vai continuar sendo popular”, conclui.

Presença feminina
Aline Calixto leva o samba de Minas pelo Brasil afora (Foto: Lucas Prates/Hoje em Dia)

Da nova leva de músicos, a mineira Aline Calixto se destaca ao levar Minas por onde vai, firmando-se como uma grande sambista. “Tenho uma carreira consolidada no meu Estado e fora dele. Levo o samba mineiro para todos os cantos do Brasil e do mundo”, conta Calixto, que tem shows marcados no Rio de Janeiro, Bahia e em Paris no mês de março. Recentemente, a cantora estreou um programa dedicado ao gênero na rádio Inconfidência, o “Papo de Samba” (domingo, às 11h). “É um espaço para divulgar sambas de todos os tempos, desde os mais antigos até aqueles feitos pela nova geração”, divulga a cantora.

A presença feminina não está somente nos vocais de Aline. Você sabia, por exemplo, que Belo Horizonte tem uma bateria de escola de samba composta só por mulheres? A ideia surgiu nas aulas do projeto Percussão Brasil, criado por Rafael Leite, mestre de baterias e diretor do Núcleo de Estudos de Cultura Popular, o Necup. “O contingente de mulheres era grande. Então surgiu essa ideia de criarmos uma bateria de mulheres, a primeira do Estado, e nasceu a Imperatriz Mineira”.

Apesar do crescimento, mercado sente falta de profissionais preparados e de incentivos

Na seara das agremiações de samba, a capital caminha distante da cadência que o ritmo pede. Apesar de termos escolas tradicionais, com mais de cinco décadas de existência, o investimento público é insuficiente. “As escolas de samba não são respeitadas. A falta de incentivo ainda é muito grande, e é um Carnaval muito antigo. Durante o ano não recebem nada, e não há quadra para ensaios”, destaca Rafael Leite, que está à frente de baterias como a Acadêmicos de Venda Nova.

Com a intenção de formar novos profissionais e multiplicadores, Leite dedica parte de seu trabalho no Necup ao samba. “Toda quarta-feira temos aulas gratuitas de escola de samba. Lá tem todos os instrumentos, a pessoa não precisa levar nada. BH tem uma dívida com a cultura. E cultura é educação”, afirma.

Desafio

Segundo Leite, o descaso com as escolas de samba fica ainda mais latente com o crescimento da festa momesca. “Os blocos de rua com certeza ajudaram bastante no crescimento do Carnaval de BH, mas as escolas de samba sempre estiveram aí desfilando”.

Embora crescente, o samba de Belo Horizonte ainda não chegou ao lugar desejado pelos profissionais. Uma das carências do mercado é justamente o investimento na profissionalização de sambistas. “O maior desafio é romper com o amadorismo. É transformar os sambistas em gestores do próprio trabalho”, ressalta Zu Moreira. Se depender do povo mineiro, demanda para aprender não faltará. “O contato com o Carnaval em BH cresceu, a cultura enraíza. O interesse só cresce”, conclui Leite.

 

 

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