Pode parecer absurdo, mas “Star Wars” não é unanimidade

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
02/01/2016 às 08:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:51
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Luke Skywalker, Darth Vader, Princesa Leia, Han Solo, R2D2. Tantos personagens icônicos que, mesmo para quem nunca viu um filme da saga de ficção-científica “Star Wars”, cujo sétimo episódio está nos cinemas, batendo recordes de bilheteria, é impossível desconhecer o universo fantasioso criado pelo diretor George Lucas em 1977, quando “Guerra nas Estrelas” estreou nas salas mundiais.

Quer dizer, quase impossível. Há ainda um grupo (pequeno, é verdade) que tem resistido bravamente à “força” publicitária da franquia que já envolve três gerações de cinéfilos. Um desses “rebeldes” é o jornalista Hélio Guimarães, que postou recentemente no facebook uma indagação que criou polêmica entre seus amigos, a ponto de ter que apagar a mensagem – “Será que só eu no mundo não tem a mínima de vontade de ver Star Wars?”.

Alguns apoiaram a coragem de Hélio em admitir seu desinteresse por um dos assuntos mais comentados na rede virtual atualmente. Mas outros viram nessa ação uma manifestação clara do “lado negro da força”.

Avesso a Modismos

O jornalista explica que, tão afiado quanto um sabre de luz, é o seu desejo de cortar modismos de sua vida. “Nunca tive vontade (de conhecer). Não só Star Wars, como o Senhor dos Anéis e Harry Potter. Nada disso me atrai”, reforça Guimarães. A postagem, porém, não teve nenhum sentido conspiratório, como as tramóias do senador Palpatine para derrubar a República. “Não tinha a dimensão do que iria virar. Não era a minha intenção julgar”, observa Hélio.

"Nunca me pegou. Gosto de histórias mais concretas, como policiais e documentários”, indica.
Mesmo em outras áreas, ele não faz o tipo fã incondicional, que tem o pôster do ídolo na porta do guarda-roupa e objetos disputados por colecionadores (memorabilia). “Não tenho culto a nada. Tenho os cantores e grupos que mais gosto, o que não quer dizer que será assim sempre. Pode ser que, num trabalho futuro, já não goste tanto, por ser o CD não tão bom quanto os anteriores”, justifica.

A designer de interiores Luciana Evangelista bem que tentou ver um capítulo da saga interestelar (“na TV, há muitos anos”, afirma), mas a sua avaliação ao final foi de que tudo era “irreal demais”. Fã de comédias românticas, besteirol e do ator Vin Diesel, ela não cedeu aos apelos dos sobrinhos que queriam a sua companhia para ver um dos filmes do bruxinho Harry Potter. “Eles me pediram, mas nada daquilo me atraiu”.

Diferentemente de Hélio, porém, a designer já evidenciou o seu lado tiete. Foi com a banda Backstreet Boys, durante a década de 1990. “Tinha os discos, gravava os programas em que eles apareciam... Depois a febre passou. Tanto que, quando eles vieram agora ao Brasil para fazer uma turnê, não fui de pirraça. Porque quando eu era fã eles nunca vieram se apresentar aqui”, registra Luciana.

Gosto pela saga pode vir dos pais

Muitos fãs de “Star Wars” trataram de transmitir às próximas gerações o gosto pela saga. No caso da empresária carioca Elena Sfirri, tudo começou com o pai, José, que levou a filha ainda pequena para ver “Guerra nas Estrelas” em 1977.

“Não sabia o que aquilo significava ainda. Mas a paixão foi crescendo aos poucos, muito porque o meu pai foi cultivando isso na gente”, lembra Elena, que hoje tem uma loja que vende roupas e bolsas artesanais que remetem ao universo de “Star Wars”.

O destino fez com que outro apaixonado pela franquia cruzasse o seu caminho: o marido, Álvaro, que é designer de moda. “Ele é mais nerd do que eu. ‘Star Wars’ é um prazer único para ele, que chega a usar o capacete de Darth Vader nas aulas que dá na faculdade”, revela.
 
Os três filhos Luísa, de 11 anos, Leonardo, de dez, e Lucas, de quatro, seguiram a mesma trilha. O mais novo tem uma máscara de Chewbacca, que reproduz os urros característicos do copiloto de Han Solo. Seu pedido para Papai Noel foi um sabre de luz. Alguém tem dúvida se recebeu o presente?

Confira a opinião da jornalista Cristina Barroca

A pior hora daquela conversa entre amigos é quando alguém levanta um assunto que você não consegue nem mesmo identificar os termos, que dirá opinar sobre o conteúdo. Isso tem acontecido com frequência comigo desde a estreia de “Star Wars: O Despertar da Força”, que, para mim, é só mais um capítulo da saga da qual não assisti a nenhum frame (e não tenho vergonha disso).

Sempre ouço a mesma pergunta, em tom de piada: “Onde você viveu até agora? Em uma bolha?” Não gente, eu não habitei uma redoma. Foi só a força do meu interesse que não foi despertada (com perdão do trocadilho) até o momento – vale ressaltar – e isso porque, hoje, tenho, sim, muita vontade de me redimir.

Até “O Retorno de Jedi”, eu nem tinha nascido e, para conseguir essa justificativa, eu precisei fazer uma consulta na internet por datas de estreia de cada filme. E, provavelmente, aos 14, 16 e 19 anos, estava fazendo da minha vida coisas que eu julgava mais interessantes que sentar para assistir a todos os atrasados de “Guerra nas Estrelas”.

Imagina eu, no auge dos 16 anos, quando saia da casa dos meus pais no interior para morar sozinha na cidade grande, ficar mais de dez horas na frente da TV para recuperar os episódios a tempo de assistir à última estreia no cinema? Eu tinha muitas outras coisas para explorar além do espaço. Nem a insistência da publicidade em produtos, assim como o penteado da princesa Leia (que é o mesmo que minha mãe usava há anos) me convenceram.

O gênero fantasia científica até faz meu tipo, mas não fui fisgada naquelas épocas. Agora é diferente, confesso que estou animada a prestar meu precioso e mínimo tempo dividido entre família que mora longe, trabalho, a casa, o marido e uma filha de um ano, para conhecer a saga. E se você quiser saber o que me fez mudar de ideia, eu te respondo com um determinado “não sei”. Talvez me sinta hoje mais conectada e com necessidade de estar antenada sobre muitos assuntos. E porque cansei de flanar na rodinha de amigos, e nem mesmo o clima tem cooperado para mudança de assunto.

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