“Por Enquanto Agora”: um registro entre a verdade e a recriação

Elemara Duarte - Hoje em Dia
05/05/2013 às 18:00.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:25

Aos 71 anos, autora admite que “quase pirou” ao escrever seu primeiro livro, que chegou às livrarias semana passada – o lançamento foi na última terça-feira, na Livraria Mineiriana, na Savassi. Mas “Por Enquanto Agora” (Editora Apicuri) é o resultado de um esforço mais que sadio de uma mineira radicada no Rio de Janeiro. Nele, a jornalista Maria Christina Drummond Monteiro de Castro relata memórias que vão da família dividida entre um udenista e um guerrilheiro, até encontros com gente como Caetano Veloso, na sala de espera do psicanalista. Sim, ela admite que romanceou parte dessas memórias para proteger uma história que também é de outras pessoas. Mas avisa, no início: “Esta não é uma história de verdade. Esta não é uma história de mentira”.   Durante o ensaio para enlouquecer, Christina se perguntava o tempo todo: “Quem vai ler isso?”. Mas continuava nos relatos. E diz que vendeu um apartamento em Ipanema (comprou um menor) e que largou o jornalismo – mais precisamente a assessoria de imprensa. Tudo para escrever.   Dos dois lados
Filha de um deputado da antiga sigla UDN, Christina teve irmão guerrilheiro preso na Revolução de 1964. “Vivi dentro de casa a divisão do Brasil. Mas ambos (pai e irmão) eram pessoas incríveis. Seria mais fácil para entender essa contradição se um fosse um filho da p... e o outro um super herói”, entende.   “Casei aos 19 anos, tive cinco filhos, foi um casamento fruto daquele tempo. Parecia que o script da vida já estava pronto”, diz. Como a vida nem sempre segue a favor dos automatismos, Christina se separou do, até então, amor eterno da juventude. “Viver é aceitar que a vida é um mistério sem resposta”, filosofa. E ao desvendar seus próprios mistérios é que ela chegou à necessidade de escrever sobre essas descobertas. “Antes, tinha medo de me expor, medo de parecer uma velhinha saliente”, debocha.   Com Caê no divã   No livro, Christina não poupa autocríticas bem-humoradas. “Nos anos 1970, fiz análise no mesmo local que o Caetano”. Ali, de frente ao ícone da Tropicália “de bustiê e tiara na cabeça”, mas igualado aos demais numa sala de espera, pensava: “Esse analista deve ficar doido para eu ir embora. Fico aqui falando de marido, de empregada, uma chatinha de classe média. Enquanto o Caetano deve falar de neuroses mirabolantes, maravilhosas”.   Mas “de perto ninguém é normal”, já justificou o próprio Caetano, de forma indireta. E para provar que não há nariz torcido entre analista e analisado, eis que o primeiro deu sua contribuição, escrevendo a orelha do livro dela.

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