Premiado longa do bósnio Danis Tanovic estreia em BH

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
08/05/2014 às 08:05.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:29
 (Zeta Filmes/Divulgação)

(Zeta Filmes/Divulgação)

Uma informação que o espectador precisa logo saber sobre “Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho”: o filme, que estreia nesta quinta-feira (8) no Belas Artes, não é um documentário, apesar de seu estilo e proposta remeterem a um trabalho do gênero.   Os protagonistas do quinto longa-metragem do diretor bósnio Danis Tanovic (do celebrado “Terra de Ninguém”) formam, de fato, uma família pobre de ciganos, mas a diferença está no interesse do realizador em refazer um acontecimento na vida deles.   Esse artifício é o bastante para dar tintas de ficção à produção, perspectiva encampada pelo Festival de Berlim, que, em sua edição 2013, deu ao pai de família e vendedor de sucata Nazif Mujic o prêmio de melhor ator (o filme também ganhou o Grande Prêmio do Júri).   Encenação   A ciência dessa encenação descarta uma discussão moral, já que o drama escolhido por Tanovic seria de fácil resolução para aquele que o filma: a esposa grávida de Nazif, Senada, precisa urgentemente de transporte e dinheiro para não ter complicações com o feto.   Mesmo o espectador mais desavisado poderá perceber que não se trata de um fato que está se desenrolando diante de nós, bastando observar a mudança no posicionamento da câmera, muito incomum a documentários confeccionados no calor do momento.   Na peregrinação dos Mujic em busca de atendimento médico, a câmera surge, por exemplo, afixada na parte externa do carro e, na sequência seguinte, num plano do lado de fora, ela não está visível. Ou seja, os realizadores pararam diversas vezes para pôr e retirar a câmera do lugar.   Prioridades   A descoberta desses mecanismos, que nos fazem lembrar da obra do iraniano Abbas Kiarostami, não diminui a força da narrativa, até porque Tanovic tira bom proveito das duas filhas pequenas (Sandra e Semsa), que oferecem frescor às situações.   Não interessa ao realizador dar acento a questões políticas e étnicas. Pouco se fala da Bósnia massacrada pela guerra, embora Nazif tenha participado dela. Ou sobre a vida nômade e despojada dos ciganos. Tanovic vai ao mais essencial, nos fazendo indagar sobre nossas prioridades.   Salta aos olhos o desapego de Mujic, que não pensa duas vezes antes de transformar seu carro num monte de ferro para venda, na cena mais emblemática do filme. Ele parece nos dizer que, cedo ou tarde, todo acúmulo material terá destino semelhante.   Simplicidade   Mas os outros não entendem o lado efêmero desse estilo de vida consumista, que é onde está a mensagem do longa, mais otimista do que aparenta. Ela entra em choque com a comunhão dos parentes e vizinhos de Nazif, que seguem em frente a despeito de tanto descaso público.   Na cena final, o personagem-título faz o mesmo trabalho de quando foi apresentado, indo buscar lenha. Esse retorno ao ponto de partida é significativo, podendo representar a luta diária de quem ganha seu sustento. Ou uma certa beleza encontrada na simplicidade.

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