Primeiro álbum de César Melo une estilos para abordar temas pontuais

Bernardo Almeida
29/07/2019 às 10:01.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:44
 (Vitor Vieira/Divulgação)

(Vitor Vieira/Divulgação)

Com uma mistura de black music e samba, César Melo passeia entre canções animadas e sons cadenciados em seu álbum de estreia, “Ela é Afro”, lançado este mês e com distribuição em plataformas digitais. Em uma pegada leve, o artista não se furta a abordar temas contemporâneos em suas composições, em alguns casos de ordem bem pessoal, e pretende marcar suas obras de forma bem datada, o que fica evidente pelo uso criativo de recursos sonoros de áudio de WhatsApp na simulação de uma diálogo na faixa “Música para Viagem”. O presente também se pauta nos temas escolhidos, como o resgate de origens africanas e a força da mulher, tópicos em destaque na faixa que dá nome ao disco. 

“Quero ser um artista do meu tempo e estabelecer uma relação com meu público para refletir sobre assuntos atuais”, apresenta-se o cantor, que conta com a participação de Paula Lima na faixa-tema. “É uma ode à beleza da mulher preta”, explica César, que estende em suas letras a beleza feminina para além do clichê do elogio aos corpos das mulheres. Personalidade e intelecto de mulheres que querem se ver como atores participantes de forma ativa do mundo são os alvos. 

Assim também o faz nas faixas “Saudade” e “Amélia Mulher de Verdade”. Nessa última, há um diálogo e evolução dos anseios da personagem imortalizada no samba de Ataulfo Alves, mantendo a estrutura alegre do clássico dos anos 40 da MPB. 

A música “Ela é Afro” nasceu há cerca de cinco anos, diante da visão da atriz Lupita Nyong’o, que à época havia acabado de ganhar o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel no filme “12 Anos de Escravidão” e, além de Paula Lima, contou com a colaboração do rapper Sasquat, que foi aluno do então professor de Literatura César Melo há 14 anos, em um cursinho da rede pública de Barueri (SP). Foi do rapper que surgiram trechos contrastando a imagem da mulher moderna com o papel submisso nos versos “Quem te falou que ela quer ser do lar? Quem te falou que ela quer ser recatada?”. 

Fã da cantora Maria Rita, César também dedica a ela uma faixa, em que vem bem a calhar a expressão “bossa tipo exportação”, quando pensamos que a mãe de Maria Rita, Elis Regina, foi justamente um dos grandes nomes do estilo musical mais favorável à balança comercial da MPB na história. 

O rol de homenagens a figuras femininas elenca também a cantora e compositora mineira Clara Nunes.

PALCOS DISTINTOS

César Melo adentrou o meio artístico por meio da dramaturgia, com trabalhos como ator em novelas da TV Globo como Viver a Vida, Lado a Lado, Sangue Bom e Babilônia. Daí surgiu a amizade com Lázaro Ramos, que lhe acompanha na faixa “Conte até Três”. 

A música faz jus ao título tanto na letra quanto na melodia, um momento de calmaria que nasceu do estresse que vivia ao conciliar uma rotina exaustiva entre o trabalho em novela com a performance em um musical. “Achei que estivesse com alguma inflamação na região da barba, fui ao médico e diagnosticado com estresse”, lembra César.

Já a associação às origens africanas é mais marcante nos tambores das canções “Pés” e “Vento de Outono”, que compôs para a esposa, celebrando empoderamento e ancestralidade, na qual canta com o congolês Yannick Delass. Radicado no Brasil há alguns anos, Yannick recita trechos em francês e em iorubá, oriundo da África subsaariana. 

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