Publicação discute o trágico, o sublime e a melancolia na atualidade

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
12/08/2016 às 19:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:20
 (Divulgação)

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O título, à primeira vista, pode trazer uma impressão errada. Não se trata de uma obra pessimista, ancorada no espírito da tristeza e da tragédia. Pelo contrário. Os dois volumes de “O trágico, o sublime e a melancolia” (Relicário) surgem justamente para quebrar paradigmas destes elementos e demonstrá-los como conceitos-chave da Estética desde seu surgimento como disciplina filosófica. 

A obra é fruto do 12º Congresso Internacional de Estética, realizado em 2015, em Belo Horizonte. Nos dois volumes, os organizadores e pesquisadores Verlaine Freitas, Rachel Costa e Debora Pazetto apresentam artigos analisando a obra de nomes que vão de Homero, Shakespeare e Samuel Beckett, da escola clássica, a outros que abordaram a Estética e a crítica, como Edmund Burke e Immanuel Kant, passando também pela Teoria Crítica, como Adorno, e outros nomes recentes, como Gilles Deleuze e Arthur Danto.

Doutora na linha de Estética e Filosofia da Arte pela UFMG, a pesquisadora Rachel Costa falou ao Hoje em Dia sobre a organização dos dois volumes e sobre aspectos atuais que a obra traz ao leitor.

Qual a importância desta obra em contexto onde o conceito estético passa por tantas transformações?
Esta coletânea de palestras e artigos selecionados do evento “O Trágico, o sublime e a melancolia” expressa a fortuna crítica dos conceitos que dão nome ao evento trazendo à tona tanto o cenário oitocentista que orienta a discussão contemporânea dos três problemas quanto suas reverberações e releituras atuais. Os três conceitos podem ser tomados enquanto organizadores de leituras basilares e singulares da produção artística contemporânea.

Há como explicar de maneira sumária como se dá essa potência do trágico, do sublime e da melancolia nas escolas estéticas?
Os três conceitos apontam para movimentos de contradição, ultrapassagem e superação da negatividade no vínculo entre sujeito e objeto, dando origem a um rico corpus teórico na tradição dos escritos filosóficos sobre o fenômeno estético, desde os gregos até a contemporaneidade. No fiml do século 18 e início do 19 intensificou-se a interpretação “moderna” desses conceitos por filósofos como Kant, Schiller, Hegel, Schopenhauer e Nietzsche e, até hoje, não se pode negar a importância deles para nossa contemporaneidade, como pode ser visto em filósofos como Adorno, Benjamin, Heidegger e Lyotard.

Nas artes visuais, com a presença do sublime, como vocês avaliam a relação do público com obras que partem desta estética?
Desde o Romantismo, passando pelo Expressionismo Abstrato e chegando à arte contemporânea, a discussão acerca da possibilidade da experiência do sublime por meio de obras de arte aparece tanto nas artes quanto na filosofia. Essa controvérsia pode ser percebida tendo em vista a discussão realizada por Lyotard, que mostra que a figuração romântica retrata o sublime nas limitações da tela, o que pode ser visualizado na famosa tela de Caspar Friedrich “Viajante sob o mar de névoas”, enquanto Barnett Newman e outros artistas abstratos, por meio de suas gigantescas pinturas, ultrapassam a representação do sublime ao apresentar o inexprimível abstratamente. Assim, o sentimento do sublime passaria a ser incitado, também, pela obra de arte. A arte disturbativa é aquela que perturba o observador, que traz à tona uma série de sentimentos controversos, como pressuposto pelas conceituações oitocentistas do problema.

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