'Punhos de Sangue' revela origens de Rocky Balboa

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
24/05/2017 às 18:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:42

O verdadeiro Rocky Balboa não tinha nada de ingênuo ou carente, muito menos sangue italiano. Ele nunca correu atrás de galinhas ou socou pedaços de carne em frigoríficos. Uma das estreias de hoje nos cinemas, “Punhos de Sangue” mostra que a inspiração de Sylvester Stallone para a criação do famoso boxeador das telas estava mais para lutadores erráticos vistos em “Touro Indomável” e “Hurricane”. Chuck Wepner realmente tinha um queixo duro, uma resistência que o tornou célebre ao permanecer 15 rounds em pé contra Muhammad Ali, um dos maiores campeões da história. Foi o que chamou a atenção de Sly, enxergando nessa luta uma disputa entre Davi e Golias e, principalmente uma história de superação e esperança. No mundo real, se houve redenção, ela veio a custo de muitas perdas. Stallone até tentou mostrar o outro lado do sucesso em “Rocky 3” (o embate entre “Balboa” e um campeão de luta livre aconteceu de verdade), mas nada que chegasse ao fracasso familiar, às traições constantes, ao pouco cuidado com a filha, ao mergulho nas drogas e à prisão. Esse contraste são reforçados em “Punhos de Sangue” justamente quando Chuck encontra Stallone, para a sequência de “Rocky”. FraturaDrogado, Chuck não consegue decorar as falas e deixa claro que o personagem fictício só aumenta a sua angústia, acelerando a derrocada. Ela não é diferente de outros lutadores frente às pressões da sociedade e a falta de preparo, principalmente familiar. Aos poucos o filme mostra essa fratura nas relações com um irmão que nunca vê. Curiosamente, Rocky também era sozinho, mas sem ser afetado por isso. Uma das características da franquia, por sinal, foi exibir “pais” postiços para Rocky, como o treinador Micky e o próprio oponente do primeiro filme, Apolo. A premissa era sempre a superação dos desafios, cada vez maiores. Enquanto Chuck foi o oposto, sem nenhum outro foco a não ser manter-se de pé, sendo socado de todos os lados.  O que prevalece no filme de Philippe Falardeau é a história de um sobrevivente, abordada com certa ironia, a partir da narração em off do próprio Chuck. O que não quer dizer que o filme não seja condescendente com o protagonista. Até por se tratar de um personagem vivo, o caminho percorrido é o da identificação pelo o que tem de humano, com seus erros e acertos. Vida simplesPor isso não espere lutas sangrentas e climáticas como em outros trabalhos do gênero. Mesmo a luta pelo cinturão dos pesos-pesados, contra Ali, é mostrada de forma patética, com Chuck querendo apenas não tombar diante das câmeras. Não há raiva como em Rocky Balboa, no seu confronto com um mundo de maldades. Gordo, quase careca e com próteses no rosto, Liev Schreiber se entrega na composição de Chuck (ele também é o produtor do filme), ao promover esse deslocamento da ficção, em que há a percepção tardia de que uma vida simples é o bastante.

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