Com Criolo e Emicida, o rap nacional tomou novo fôlego. Artistas que sabem dialogar muito bem, entreter sem abrir mão do peso do conteúdo contestador, eles provam que o rap pode ter uma cara brasileira e atrair a atenção de pessoas das mais diferentes classes sociais. Caminho aberto, outros talentos têm a possibilidade de ganhar público. Caso de Rael (ex-da Rima), que disponibilizou em março o download gratuito de seu segundo álbum, "Ainda Bem que Eu Segui As Batidas do Meu Coração".
Complicado dizer que é o trabalho de um rapper. A escola de Rael está presente, é claro, mas aqui o músico comprova que tem voz para trafegar por qualquer ritmo popular brasileiro. Tem rap, mas também reggae, pop, samba, afrobeat e música romântica. Lançado pelo selo Laboratório Fantasma, de Emicida, o álbum está recheado de candidatos a entrar para a programação de uma rádio pop.
Rael explica que a afinidade com outros estilos já estava presente em seu trabalho anterior, "MP3 – Música Popular do Terceiro Mundo" (2010), mas agora a mistura foi ainda melhor explorada. "Meu pai tocava vários instrumentos, meu irmão sempre tocou violão. Naturalmente, desenvolvi esse lance de cantar. Meu primeiro contato com a música foi através do rap, mas aos poucos eu trouxe de volta o contato com coisas mais melódicas", diz Rael.
O conteúdo foi trabalho logo depois do convite de Emicida para entrar para o elenco da Laboratório Fantasma. Mostrou suas músicas compostas no violão para os produtores, os norte-americanos Beatnick e K-Salaam (que já trabalharam com 50 Cent), para definir a linguagem durante o processo, gravado no estúdio Trama. "Foi um trabalho mais sólido, mais profissional. Muito do material surgiu no estúdio".
A variedade sonora pode ser percebida pela lista de participações. Mariana Aydar canta na pop "Coração", Msário está no reggae "Tudo Vai Passar", enquanto Emicida e Péricles soltam a voz no samba "Oya" (a única do disco não autoral). "Quando vi esses amigos todos no estúdio, vi tudo acontecendo, me veio o nome do álbum. Ainda bem que segui o caminho da música", diz.
Perguntado por dez entre dez jornalistas porque abandonou o nome de Rael da Rima, o músico conta que a alcunha lhe rendia momentos constrangedores. "Às vezes eu fazia participações na televisão e vinha alguém e soltava: ‘então manda aí uma rima’. Só que eu sou péssimo de improviso e não dava certo", admite. Dessa forma, seu nome para de ser atribuído somente ao rap e o artista mostra melhor a sua pluralidade.
Rael fez o lançamento do álbum mês passado no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, com casa cheia. No fim deste mês, começa por Curitiba a turnê de divulgação. Belo Horizonte deve estar no roteiro.
Baixe o álbum gratuitamente em http://www.raeloficial.com