“Rapsodia para el Mulo” trata da realidade atual de Cuba

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
23/05/2014 às 08:11.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:42
 (Eduardo Rodriguez)

(Eduardo Rodriguez)

Diferentemente do que o senso comum possa prever, sim, há espaço para o questionamento no teatro de Cuba sobre a realidade atual do país. Prova disso é o espetáculo “Rapsodia para el Mulo”, que a companhia El Ciervo Encantado traz para o Galpão Cine Horto, dentro da programação final do Festival Internacional de Teatro de Palco & Rua (FIT).

Escrita por Nelda Castillo a partir de um poema homônimo de José Lezama Lima, a peça faz uma alegoria da realidade da ilha após o desmoronamento do socialismo. Se propõe a fazer um contraponto entre a ideologia e a batalha pela mais simples sobrevivência.

“Escolhemos um personagem muito simbólico da realidade desse campo de batalha vivenciado nas ruas que é a mula. Trabalhamos ainda vários outros símbolos para tratar a ideia de ruína”, afirma a diretora, explicando que Cuba pode ser vista como um espaço de um capitalismo primitivo, onde ainda há muitas trocas e negócios pequenos – já que é impossível pensar em prosperidade num país onde se ganha tão pouco (um ator recebe US$ 30 por mês).

Sozinha em cena, a atriz Mariela Brito interpreta a mula, um ser em busca da mais sofrida sobrevivência. Está sempre nua e há uma razão para isso. “O personagem não é mais uma figura humana, é um animal, dia e noite em busca de um prato de comida”, diz Mariela.

Arte representativa de pensamentos que passam por milhares de mentes. “O problema é que o cubano não tem tempo de questionar. Tem que se preocupar em lutar pelo que há de mais elementar na vida. Não tem energia. Por isso na peça falamos de um acontecimento em um tempo tão vagaroso”, diz Nelda.

Humor e terror marcam solo de Enrique Diaz

Em 2010, Enrique Diaz começou a se dedicar a montar textos do dramaturgo canadense Daniel MacIvor. Vieram “In on It”, “A Primeira Vista” e “Cine Monstro” – este último, atração do Festival Internacional de Teatro de Palco & Rua (FIT), com apresentações desta sexta-feira (23) a domingo, no Teatro Marília.

No espetáculo solo, Diaz interpreta 13 personagens que narram histórias curiosas em um ambiente que remete a uma sala de cinema.

“Eu li os textos de Daniel MacIvor, percebendo as características de seus textos que são reincidentes. Gosto muito do jogo de camadas dramatúrgicas que ele faz, da metalinguagem e também do humor, muito especial”, afirma.

Em “Cine Monstro”, o artista viu uma oportunidade de fazer um contraponto às duas peças anteriores, mais ligadas a um afeto que redime – embora problemático. “Esse texto especificamente tem uma ousadia ao falar do mal e usar o cinema para isso, entre outras coisas”, explica o ator peruano, radicado no Brasil.

O processo de criação foi diferente do que Diaz já havia feito em sua carreira. Dessa vez, em vez de trabalhar a criação durante os ensaios, procurou focar no texto – estudando e mexendo no que havia sido desenvolvido por MacIvor em 1998.

“A simplicidade e o minimalismo são as características básicas desse conceito de espetáculo, ator e texto e o auxílio sensacional de imagem e som, o lado cinema da peça”, afirma Diaz, completando que a reação do público é sempre inesperada. “Como a peça tem elementos mais ou menos pesados, mas também tem muito humor, as pessoas decidem se elas se soltam para rir de coisas terríveis”.

“Cine Monstro” já passou por algumas capitais brasileiras, como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília (dentro do festival Cena Contemporânea), além do Festival Temps D’Image, em Paris.

Duas peças complementares e simultâneas no FIT

“À Distância”, espetáculo da companhia catarinense Dearaque, promete impressionar os espectadores pelo seu formato. Presente na programação do FIT, a obra é formada por duas peças autônomas, complementares e simultâneas, que serão apresentadas em dois galpões da Funarte. O público pode escolher começar por “Lado A” ou “Lado B” – tanto faz – para depois assistir o complemento.

A trama gira em torno da história real de uma rádio clandestina criada em Florianópolis na década de 50 – que anunciava transmitir notícias direto do século 21. No “Lado A”, a companhia conta a história da rádio, enquanto no “Lado B”, se dedica à trama de dois irmãos que brigam pela herança da casa onde a rádio era transmitida.

“A ideia nasceu de uma separação do grupo. Houve uma época, em que um integrante viajou para Buenos Aires e outro para Lyon, na França. Queríamos continuar trabalhando juntos e desenvolvemos uma pesquisa via Skype”, conta o diretor André Felipe.

Depois que o grupo voltou a se reunir em Florianópolis, a experiência da distância foi levada para a criação. “Os dois espetáculos foram desenvolvidos ao mesmo tempo. Primeiramente, ensaiávamos na mesma sala. Depois, passamos a usar a tecnologia em salas separadas. É a mesma história contada de pontos de vista diferentes”, explica André, complementando que essa será a primeira vez que “À Distância” será apresentado fora de Santa Catarina e com proximidade espacial entre os dois “lados”.

De acordo com o diretor, a companhia está estudando a possibilidade de apresentar “Lado A” e “Lado B” simultaneamente em cidades distantes. Caso a circulação pelo país seja aprovada, o público receberá as duas peças em dias diferentes.

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