Em determinado momento de “Redemoinho”, quando não quer mais escutar um ex-amigo de infância que acaba de reencontrar, Luzimar retira o aparelho de surdez do ouvido. Esse ato é muito simbólico do que propõe o filme, uma das estreias de amanhã nos cinemas.
Baseado em livro de Luiz Ruffato e filmado em Cataguases, terra natal do autor, “Redemoinho” é um dolorido acerto de contas com o passado, sobre fatos silenciados pelo tempo e pela distância e que repentinamente retornam como um tufão, para tirar o sossego de quem prefere deixar as coisas como estão.
É assim que um trabalhador de tecelagem (Irandhir Santos) tem o que seria um dia típico de Natal virado do avesso. Ele sai do serviço para se encontrar com a esposa (Dira Paes). É nesse ínterim que a história se concentra, em algumas poucas horas que a vida passa por Luzimar ao rever Gildo (Júlio Andrade).
O amigo, vindo da cidade grande, é o desencadeador do caos, segurando Luzimar e postergando o encontro com a mulher. No caminho do casal, duas tragédias são evocadas, no passado e no presente, interligadas por esse atraso, por essa hora errada que o tecelão passa pela rua da mãe de Gildo (Cássia Kis Magro).
O diretor José Luiz Villamarim segue ritmo lento e angustiante, em que desde o primeiro momento sabemos que algo ruim se efetivará. Falta descobrir quando e como. Contraditoriamente, o que interessa como história é o antes, a impotência e o dilaceramento interior de Luzimar.
Auto-exílio
Nesse aspecto, o filme tem muito em comum com “Estive em Lisboa e Lembrei de Você”, outro livro de Ruffato levado para o cinema e filmado em Cataguases. Nos dois, prevalece a sensação de uma pequena cidade em que, apesar da rejeição à vida cotidiana, não sai dos personagens.
Essa dúvida permanente e aparentemente sem resposta entre o ficar e o sair é o que movimenta esses filmes. O ficar pode ser entendido como um castigo, um auto-exílio, enquanto o sair é representativo de uma fuga que nunca se completa. Como um inferno provisório, título do livro em que “Redemoinho” se baseia.