(Lucas Prates)
O tema divide opiniões. Para uns, as novas tecnologias ajudam no processo cognitivo como ferramenta importante na aprendizagem. Para outros, internet, smartphones, tablets e afins atrapalham o desenvolvimento de crianças e adolescentes de maneira geral.
As discussões são necessárias, e uma mostra do que vem sendo debatido no meio acadêmico pode ser conferida no evento “Juventude e Virtualidade”, fruto da parceria PUC-MG e UFMG. Na programação, mesas-redondas sobre cultura digital, novas formas de amor, jogos on-line, os riscos da internet e expressões nas redes sociais. Trata-se de uma prévia do Primeiro Simpósio Internacional Subjetividade e Cultura Digital, em março de 2017, na universidade federal.
A historiadora e coordenadora do Centro de Convergência de Novas Mídias da UFMG, Regina Helena Alves da Silva, vai tratar de um fenômeno recente: Pokémon Go. Embora haja muita crítica sobre o jogo que virou febre em todo o mundo – sobretudo por conta de pessoas que se descuidam nas ruas enquanto caçam os bichinhos virtuais – a pesquisadora defende o aplicativo.
Interação positiva
“Esse tipo de jogo possibilita uma interação que vai além da tela. O jogador pode caminhar pela cidade. O jogo está tirando as pessoas de determinados lugares. Fui à Praça da Liberdade três ou quatro vezes para observar e vi muitas pessoas usando o espaço. Pode parecer um motivo meio bobo, de início, mas houve uma mudança no uso da praça”, pondera.
Desafio
Na avaliação da professora Shirlei Sales, da Faculdade de Educação da UFMG, pesquisas têm mostrado que a escola não conseguiu ainda se adaptar às transformações promovidas pela evolução digital. </CW><CW-30>“De modo geral, especialmente nos centros urbanos, os jovens têm vivido, pensado, namorado, se divertido, estudado, têm feito várias coisas de diversas dimensões de forma conectada com as tecnologias digitais, especialmente o celular. Mas a cibercultura não tem sido incorporada pelas escolas”.
Segundo a professora, no momento em que a escola deveria incorporar a tecnologia ao currículo escolar, normalmente afasta esse universo.
Para ela, a questão não é somente a diferença de gerações entre professor e aluno, mas a dificuldade em imaginar uma lógica de ensino diferente da simples transmissão de conhecimento em sala de aula. “Parece que há uma prevalência da cultura escolar, que é muito tradicional”, diz Shirlei.
“O uso da informação disponível no ciberespaço não é tão intuitivo quanto a gente imagina. Tem jovens que sabem navegar nas redes, mas não sabem selecionar o que é mais importante. A escola tem o papel, inclusive político, de mostrar qual é o caminho para se buscar uma informação mais precisa. A escola não pode concorrer com o Google, mas trabalhar com ele”. </CW>
Diários virtuais
Professora do curso de Psicologia da UFMG e uma das organizadoras do evento da próxima quinta-feira, Nádia Laguardia vai falar sobre os diários virtuais de adolescentes (mulheres, em sua maioria). De acordo com a pesquisadora, o ideal romântico da espera por um “príncipe encantado”, um homem bom para se construir uma família junto, aparece forte nos textos das jovens. Mas já é possível, diz ela, observar que não há mais padrão entre os discursos das meninas, ressalta a pesquisadora.
“Tem meninas que ainda se envergonham de falar sobre sexualidade, mas também existem aquelas que assumem um comportamento antes tido como masculino...de falar que elas tomam a iniciativa, que ficam com quem querem, que possuem uma abertura para a diversidade de gênero”, conta Nádia.
A questão é que, se antes essas conversas ficavam entre amigos, agora são expostas para o mundo por meio dos blogs. Alguns jovens acabam se tornando famosos com isso, observa Nádia.
“Há um declínio dos limites entre o público e o privado para os jovens. Ainda não temos conclusões sobre os efeitos disso, mas algumas coisas já vêm acontecendo, como as jovens que mandam “nudes” para os rapazes. Elas fazem isso para serem aceitas e a aceitação hoje passa pelas redes sociais”, opina.
Caminho profissional
O contato com a cultura digital na adolescência pode ser importante definição dos caminhos profissionais de um jovem, defende Matheus Oliveira, de 18 anos, que conciliou o Ensino Médio com o curso técnico de Informática. A internet está sempre presente no dia a dia do estudante. “Uso para passar o tempo, para estudar, para desenvolver um trabalho. Estou sempre conectado”, diz o rapaz, que começou a usar a rede com intensidade a partir dos 12 anos. Ele ainda não se decidiu sobre o que deve estudar no Ensino Superior, mas sabe que será relacionado à tecnologia. “Penso em biomedicina ou biotecnologia”.
Conciliação
Para a estudante Tainá Dabes, de 18 anos, também não há problema em acessar as redes sociais para estudar. Ao contrário. Na opinião dela, a Internet é uma ferramenta indispensável para obtenção de informação. A jovem faz cursinho para buscar vaga no curso de Veterinária da UFMG, tem rotina dura de estudos, mas não abandona o celular. É exemplo de jovem que consegue associar responsabilidades com o uso intenso das mídias digitais. “Tem muita coisa que não aprendo no cursinho, mas, nas redes sociais, como todas essas mudanças políticas que estão acontecendo no Brasil. É um conhecimento muito necessário”, diz a estudante.
Para participar do evento na UFMG, basta acessar o site http://bit.ly/2cLuDbo. Inscrição a R$ 30