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Ainda na adolescência, na descoberta de sua sexualidade, Ana Luiza Gonçalves se deparou com um cenário de falta de “informações disponíveis para lésbicas e bissexuais”, como ela próprio relata. “A falta de conteúdo e diálogo voltado para nós me causou um grande vazio”, ressalta. Tempos depois, o fim de um relacionamento no qual a outra pessoa “tinha atitudes abusivas”, conta, levantou uma questão: “Será que uma mulher pode ser abusiva com outra?”.
Essas situações, aliadas a diálogos com outras pessoas, tiveram um impacto sobre Ana. E após uma conversa com a amiga e poeta Bárbara Esmenia em São Paulo, ela voltou a Belo Horizonte com uma ideia em mente e não tardou para colocá-la em prática. Nascia então a revista “Lésbi”, lançada na última segunda-feira (8) e que traz conteúdo voltado para mulheres que se relacionam com mulheres.
A revista foi realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. “O projeto foi aprovado em outubro de 2019 para começar a ser executado em janeiro deste ano”, sintetiza a editora e criadora da publicação. “Abrimos nossas redes pessoais, e disponibilizei um e-mail, para que as pessoas pudessem nos enviar pautas. Em nossa primeira reunião de pauta, havia várias sugestões do público. Essa construção precisa ser coletiva, é preciso ouvir outras vozes”, complementa.
Com uma equipe formada apenas por mulheres, obviamente, a primeira edição conta com matérias de vários assuntos, como maternidade homoafetiva, sexualidade, relacionamento abusivo e outros temas.
“A equipe fixa é formada por quatro jornalistas, uma designer, uma fotógrafa, duas psicólogas e uma engenheira, todas lésbicas ou bissexuais. Quando fizemos a reunião de pauta, eu disse que todas poderiam escrever no seu estilo próprio. Minha revisão e minha edição seriam ortográficas, mas jamais invadiria o estilo. Aí veio uma surpresa. Recebi o primeiro texto todo escrito em primeira pessoa. O segundo texto, também. O terceiro, também. E pirei nisso! É impossível a gente se excluir dessas narrativas. Esse estilo de narrativa também proporciona mais aproximação e identificação com a leitora”, destaca Ana.Divulgação
Parte da equipe de 'Lésbi'
Há espaço ainda para a poesia. “Os poemas da Erika Araújo foram selecionados por meio de uma chamada pública. Os poemas trouxeram uma leveza para a revista, que já trata de temas tão densos. Além disso, eles apresentam uma linguagem simples e bonita, que tem tudo a ver com a linguagem da revista. E terá outra chamada na segunda edição também”, comenta.
Futuro
A intenção é que a próxima edição seja lançada entre outubro e novembro. “Agora estamos pensando em propor alguns conteúdos para disponibilizar apenas online. E estamos tentando outros editais e formas de ampliar a interação com o público, com a produção de podcasts, por exemplo”, revela.
A primeira edição da revista “Lésbi” tem 36 páginas e possui distribuição gratuita. A publicação também traz um pôster. Outras informações podem ser encontradas nas redes sociais da publicação.Divulgação