(Diana Basei)
Mesmo com recursos inferiores aos captados em anos anteriores, o “Savassi Festival” chega à 12ª edição com uma programação de alto nível. Realizado entre este sábado (16) e o dia 24 (domingo), o evento está “menor”, mas ainda primando por seus projetos diferenciados – como a citada (na capa) parceria com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais para a première de Rafael Martini, por exemplo.
Outro diferencial é a residência artística. Neste ano, o convidado foi o trombonista americano Chris Washburne, que criou uma peça inédita para ser executada pela Big Band do Palácio das Artes no encerramento do festival, e para ser registrada em disco.
A tradicional festa na rua acontece, dessa vez, em um único quarteirão da rua Antônio de Albuquerque. Por isso, os interessados deverão retirar os ingressos gratuitos antecipadamente, nas duas unidades do Café com Letras (Savassi e CCBB).
O organizador do evento, Bruno Golgher, explica que, a partir do ano que vem, o processo de levantamento de recursos do festival deve mudar. “Um dos grandes problemas de trabalhar com cultura no Brasil é não saber com antecedência quanto dinheiro você tem para realizar o evento. Mas já fomos aprovados em um edital da Petrobras e os recursos serão aplicados na edição do ano que vem. A ideia é que o processo de captação passe a ser feito com um ano de antecedência”.
Ilana volcov
Onze espaços da capital mineira serão usados durante o festival. A programação tem início hoje, com o show “Paso” do violonista André Rocha. Amanhã, é a vez de Ilana Volcov e Trio Improvisado conciliarem apresentação musical com uma feira de vinis (comandada pela Discoteca Pública).
O festival conta ainda com vários lançamentos de discos e shows especiais – destaque para Egberto Gismonti e André Mehmari.
Peça inédita de Rafael Martini será executada pela Orquestra Sinfônica no “Savassi Festival”
Peça será executada pelo sexteto de Martini junto à Orquestra Sinfônica e ao Coral Lírico de Minas Gerais (Foto: Lucas Prates/Hoje em Dia)
Quantos músicos brasileiros do universo popular tiveram a oportunidade de compor um material para uma orquestra? Certamente poucos. Por isso, o mineiro Rafael Martini, 32 anos, sabe que vivenciará uma experiência única na próxima sexta-feira. É quando acontece a première de sua “Suíte Onírica”, criada sob encomenda para o “Savassi Festival” para ser executada pelo seu sexteto em conjunto à Orquestra Sinfônica e ao Coral Lírico de Minas Gerais.
Este é o quarto ano de parceria entre o festival e a Fundação Clóvis Salgado, prevendo a première de uma composição inédita, mas a primeira vez em que o compositor convidado é brasileiro. A proposta foi feita em 2012, logo após Bruno Golgher, organizador do evento, ter se apaixonado pelo disco “Motivo”. Martini se preparou para o desafio em 2013 e iniciou a criação em janeiro deste ano – por sinal, mesma época do nascimento de sua filha, Isadora.
Para que o Coral Lírico também fosse integrado ao projeto, Martini convidouo compositor Makely Ka para a produção das letras. “Na época, estava lendo Jung e decidimos falar sobre sonhos. O Makely se valeu de simbologias do mundo todo, do iorubá ao grego, passando pelos remédios que as pessoas tomam para dormir”, afirma Martini, explicando que os cinco movimentos da peça são inspirados em momentos do sono.
Oportunidade
Além de orquestra e coral, a “Suíte Onírica” conta com piano, baixo, bateria, flauta, clarinete e saxofone – formação com a qual Martini costuma se apresentar. Além do Grande Teatro do Palácio das Artes no dia 22, a peça também poderá ser conferida no dia 24, domingo, no Parque Municipal. “Mesmo músicos consagrados não tiveram essa oportunidade. Vai ser incrível poder ouvir pela primeira vez uma composição feita para orquestra, porque, por enquanto, não sei como vai ser. Eu compus, escrevi os arranjos para todos os instrumentos, mas só saberei como ficou a composição durante a apresentação”, diz Martini, que já recebeu do maestro Lincoln Andrade, do Coral Lírico, algumas sugestões de alterações.
O jovem músico sabe que essa oportunidade pode abrir portas, especialmente no exterior – onde há vários projetos que unem jazz à sonoridade sinfônica. Currículo não falta: formado em composição pela Escola de Música da UFMG, ele venceu o Prêmio BDMG Instrumental em três ocasiões e ganhou o primeiro lugar no Festival Instrumental de Guarulhos (2007).