"Serra Pelada" retrata a violência que dominou o sonho do eldorado

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
18/10/2013 às 08:36.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:26

"Não sei se é coragem ou loucura". Heitor Dhalia manifesta esse questionamento já na primeira resposta, ainda em dúvida sobre como o público receberá o filme "Serra Pelada", uma das principais estreias dsta sexta-feira (18) nos cinemas.

A única certeza é que ele não poderia fazer o longa-metragem de outra forma, transformando a famosa região de garimpo no Pará, que promoveu uma corrida do ouro na década de 80, numa trama de gângsteres.

Dhalia tinha consciência que, por envolver ambição, jogo de poder, violência extrema e prostituição, a reconstituição dos fatos históricos estava recheada de armadilhas. "A maior delas era fazer um filme grande e ser conservador".

Demandas sinceras

Adotou o que ele chama de "atitude suicida", que pode não agradar os que esperam por uma obra oficial e também aqueles que queriam uma pegada mais comercial. "Busquei um filme que respondesse apenas a demandas sinceras", sublinha.

Assim nasceu a história de dois amigos que largam tudo atrás da ideia de riqueza rápida. "O filme é um estudo de personagem, reunindo duas personalidades diferentes que se transformam a partir dessa aventura", destaca Dhalia.

Vivida por Júlio Andrade e Juliano Cazarré, a dupla reproduz as bifurcações que nos deparamos na vida. Apesar de amparado por documentos e fotos de época, o filme se assume plenamente como ficção.

"Fizemos um profundo trabalho de pesquisa para compreender o universo dos garimpeiros e tornar a história envolvente. A verdade histórica, porém, não é o objetivo do cinema. A ficção possui lógica e narrativa próprias", argumenta.

O respeito está estampado fundamentalmente na recriação de um universo popular e genuinamente brasileiro, marcado pelo brega e por amores malucos. "Serra Pelada era muito representativa do Brasil daqueles tempos", analisa o cineasta.

Terra sem lei no apagar da ditadura militar

O revestimento ficcional dado por Heitor Dhalia nos remete aos filmes de Máfia dirigidos por Martin Scorsese, como "Os Bons Companheiros" e "Cassino", em que a entrada na criminalidade se torna uma descida aos infernos, mas sem perder o enfoque humano.

"É um filme de gângster de fato", concorda o realizador. "Lembra sim os filmes de Scorsese, bem como ‘Scarface’ e ‘O Poderoso Chefão’, trabalhos que nos levam ao interior desses grupos criminosos", compara.

Em seu quinto longa (assinou também "O Cheiro do Ralo" e "12 Horas", investida mal-sucedida no cinema americano), Dhalia observa que Serra Pelada era uma espécie de terra sem lei na década de 80.

São aspectos que, segundo ele, estabelecem uma narrativa mais sofisticada. "É um filme que emociona, mas que também documenta o Brasil, dando-lhe um viés político, como o fato de se transcorrer no último governo militar", salienta.

Gênio

O elenco é um dos destaques de "Serra Pelada". Produtor do filme, Wagner Moura faria o protagonista, mas, devido a compromissos no exterior, acabou interpretando um personagem secundário violento e cheio de cacoetes.

"O Wagner é um gênio. Ele realmente rouba a cena, ao fazer um antagonista brilhante e irônico. É um contraponto sarcástico para a história", elogia. Também estão nos créditos Matheus Nachtergaele e Sophie Charlotte, no papel de uma sensual prostituta.

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