Suspense argentino, 'No Fim Do Túnel' tem toques de Hitchcock

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
05/10/2016 às 17:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:07
 ( WARNER/DIVULGAÇÃO)

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Um deficiente físico que não sai de casa. Uma garota insinuante ao lado dele. Um crime próximo dali e o protagonista é o único a reparar. Esse tom voyeurístico presente em “No Fim do Túnel”, uma das estreias de hoje nos cinemas, tem como principal inspiração o clássico do suspense “Janela Indiscreta” (1954), de Alfred Hitchcock.

Assim como o personagem de James Stewart, um fotógrafo que quebrou a perna e vive entediado em seu apartamento, Joaquin também está numa cadeira de rodas, consequência de um acidente automobilístico. Pouco depois de aceitar uma nova inquilina, uma garota que exala sexualidade (não platinada, como Grace Kelly), ele descobre um plano criminoso na vizinhança. 

Não se trata de falta extrema de criatividade, até porque a produção argentina de Rodrigo Grande agrega outros elementos interessantes à trama – como a desconfiança permanente, na maioria das vezes justificada. 

No filme de Hitch, há uma ingenuidade dos personagens centrais, além de uma dose de altruísmo, sendo a dúvida o que nossos olhos não podem responder.

Sucessivos buracos
O olhar também é importante em “No Fim do Túnel”, mas não exatamente como contraponto à falta de mobilidade. 

“Janela Indiscreta” é recheado de metáforas sexuais, como a teleobjetiva do fotógrafo engessado, que também encontra prazer em observar a vida alheia. Joaquin, vivido por Leonardo Sbaraglia, não está interessado nos outros, a não ser que possa tirar algum benefício.

É por isso que Joachin abre uma fenda na parede para acompanhar a movimentação de bandidos que pretendem roubar o banco ao lado. Mais tarde, cria outro buraco para ter acesso ao túnel construído por eles. Os sucessivos buracos que atravessa são significativos para identificar o personagem e suas escolhas, estando ele ainda preso ao seu passado.

Essas nuanças são importantes para dar movimento ao filme. Há um movimento horizontal, com os desdobramentos dos planos (dos ladrões e de Joachin). E outro vertical, refletido na própria casa, em torno da moral do protagonista – ele não é o solitário espertinho que descobre que está sendo passado para trás e arma uma arapuca para salvar sua pele e pegar os adversários. 

Mas “No Fim do Túnel” está longe de ser um suspense psicológico. A ação é constante, trabalhada de forma hábil por Rodrigo, mesmo que algumas opções se tornem mais catárticas, imprimindo exagero – como o confronto final, que não escapa ao heroísmo, deixando de lado tudo que envolve a persona de Joachin. Além da sensação de recompensa, mesmo que não seja econômica.

O que mais incomoda é o simplismo com que o roteiro pincela a inquilina, como ao sustentar a ideia de que ela era inocente ao se envolver com um criminoso, colaborando para que o plano tenha êxito. Não precisava dar a Joachin a função de abrir-lhe os olhos, especialmente após uma “descoberta” no auge dos acontecimentos.

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