(Sylvio Coutinho/Divulgação)
Quem diria que um acidente e consequentes dois anos sem andar trariam ainda mais movimento ao olhar do fotógrafo Sylvio Coutinho. Após uma orientação médica, o artista subiu em sua bicicleta e foi desbravar Belo Horizonte. Na trajetória, muitas descobertas. A mais importante delas: a cidade era dele. Assim como pode ser de todos nós. Levantando essa bandeira, Sylvio mostra a capital mineira em uma exposição na Casa Fiat de Cultura e lança o livro “BH 120”, uma homenagem aos 120 anos da capital mineira.
A bordo de sua bicicleta, Sylvio conta que deixou de ver Belo Horizonte apenas como uma cidade fotografável, passando também a senti-la e vivê-la. É esse o espírito que ele busca trazer com seu novo projeto, composto por fotografias, gravuras, vídeos e réplicas de monumentos importantes da capital.
“95% as fotografias foram produzidas tendo a bicicleta como transporte”, conta Sylvio, que ressalta: “Ela é rápida o suficiente para ver a cidade por vários ângulos e lenta o bastante para enxergar seus detalhes”.
As características da capital não ficaram mesmo para trás. Sylvio conta ter percorrido Belo Horizonte por meses para construir sua obra. “Fiquei de fevereiro a setembro levantando às 5h da manhã e passando por vários pontos de BH”, lembra.
Pelas lentes de Sylvio e sob as rodas de sua bicicleta, Belo Horizonte foi retratada tal qual é. Seus belos monumentos dividem espaço com ambientes negligenciados. “Fotografei a cidade verdadeira. A obra tem os lugares que acho mais bonitos na cidade, mas também os mais feios. Sem maquiagem”, pontua o artista.
Levantando bandeiras
Apesar de ter finalizado o livro “BH 120” em dezembro do ano passado, quando a capital comemorou seus 119 anos, Sylvio decidiu adiar o lançamento. “Eu segurei o livro, porque para mim é importante esse lugar (a exposição na Casa Fiat de Cultura) para dar um recado para cidade”, revela o artista, que vê a apresentação de suas obras como uma oportunidade para promover diálogos sobre a capital, para pensá-la.
“Eu quero uma cidade bonita, legal. O que eu puder fazer por Belo Horizonte, farei”, afirma.
Além de ser um convite para a ocupação dos espaços, o artista também deixa evidente em seu discurso a preocupação com o futuro.
Em uma de suas obras, ele produz aquilo que considera ser sua cidade ideal. Projetando seus anseios para a capital, o artista cria uma Belo Horizonte sem carros ou caminhões.
No vídeo, gravado a partir de uma maquete reduzida da cidade, o fotógrafo ocupa Belo Horizonte com bicicletas, velocípedes e outras variadas formas de transportes alternativos.
“Estou com um netinho de 8 meses. Tenho um compromisso com ele, com seu futuro. O que eu puder fazer por ele, até que ele chegue à universidade, farei”, afirma.
Cenários são representados em diferentes formas e formatos
A pluralidade dos cenários belo-horizontinos ganha corpo em uma variedade de formas e formatos pelas mãos de Sylvio Coutinho.
Os monumentos turísticos da cidade surgem produzidos em réplicas em 3D. A Igrejinha da Pampulha, o Mineirão, o Pirulito da Praça Sete, o Viaduto Santa Tereza e o Edifício Niemeyer tornam-se visíveis para todos.
Acompanhados de áudios descritivos – em textos do arquiteto João Diniz narrados por Sylvio Coutinho e com trilha sonora do violonista Gilvan de Oliveira – os símbolos da capital ganham uma nova forma de representação.
“Estou super feliz por apresentar isso”, afirma Sylvio, que lembra ter se emocionado com os primeiros testes. “Enquanto os cegos escutam a descrição, eles vão tateando e sentindo o monumento. Uma amiga minha testou e funcionou. Ela me disse que conseguiu ‘ver’. Foi impossível não me emocionar. Acho que vou ter essa mesma emoção quando a exposição abrir”.
Homenagem ao Grafite
Sylvio ressalta a importância dada aos grafiteiros em sua obra. “Fiz uma homenagem a eles. Às vezes, eles são tratados como bandidos, mas a meu ver são grandes talentos que fazem coisas boas para nossa cidade. Assim como arquitetos fazem grandes obras, eles transformam ambientes abandonados”, avalia.
Serviço: Exposição Sylvio Coutinho mostra Belo Horizonte na Casa Fiat de Cultura(Praça da Liberdade, 10, Funcionários). Visitas de 6 de junho a 30 de julho, de terça a sexta-feira, das 10 às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10 às 18h.Entrada franca