'Ted Bundy' acompanha história real de serial killer em 'A Irresistível Face do Mal'

Paulo Henrique Silva
24/07/2019 às 18:15.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:41
 (PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO)

(PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO)

 Numa situação ideal, o melhor seria entrar no cinema sem saber nada sobre Ted Bundy, o protagonista do filme “A Irresistível Face do Mal”, uma das estreias de hoje (25) nos cinemas. Ter conhecimento sobre o terrível passado deste personagem – o da realidade, não o da ficção – irá comprometer muito a relação do espectador com o longa-metragem dirigido por Joe Berlinger. Principalmente porque o filme “gosta” de Bundy, se assim podemos dizer. O fato de já não explicar, desde o início, a razão de ele estar preso, enseja uma vontade de fazer perdurar, o quanto puder, a ambiguidade do personagem. Outras opções apontam para este caminho, como não mostrar cenas dos bárbaros crimes que supostamente teria cometido. Quase tudo é verbalizado, por detetives e pelo noticiário. Vivido por Zac Efron, Bundy nos é apresentado justamente no momento em que conhece Liz (Lily Collins) e boa parte do primeiro movimento do filme dedica-se a exibir um rapaz carinhoso, dedicado e que não se importa em ter uma namorada que é mãe solteira. Da maneira como este detalhe é explorado na narrativa, já seria o bastante para Bundy ir para o céu. Mas o que é mais curioso na construção do filme é o contraste entre os trejeitos suaves e simpáticos do personagem e o gestual e vocabulário confusos, feios e intimadores daqueles que tentam lhe pôr na cadeia. Até mesmo quando foge da prisão, há um quê divertido na maneira como isso acontece, como se desafiasse as instituições arcaicas em busca de sua liberdade, nos fazendo realmente acreditar que estamos vendo uma nova versão de “Papillon”.  Esse conflito é bastante acentuado se lembrarmos da primeira cena de “Ted Bundy”, ao vermos um cartaz num bar que estimulava as pessoas a não se apresentar às Forças Armadas (a trama começa em 1969, quando os Estados Unidos estavam no auge da Guerra do Vietnã). A todo instante este ato de rebeldia e desconfiança é evocado, reforçado pela caracterização dos personagens secundários. Entre eles um promotor meio desengonçado vivido por Jim Parsons (o nerd Sheldon de “The Big Bang Theory”). No caso de vários deles, o estilo anos 70 (cabelos e roupas) também joga contra qualquer tentativa de empatia. Um dos poucos a se salvar é justamente Liz. Curiosamente, ela representa um dos pontos negativos do filme. Na verdade, apesar do título, a história é sobre ela, baseada num livro autobiográfico. Uma das questões mais interessantes do longa é – em contraposição às mulheres assassinadas de maneira rápida e horrenda – como a namorada vive uma morte lenta, pautada pela culpa e pela perda de quem amava. Seu personagem cresce ao final, mas tardiamente: o filme se deixou levar completamente pela simpatia e inteligência de Bundy, criando polêmica por romantizar a história de um criminoso. O último encontro entre Liz e Bundy é muito significativo do que é o filme. Durante anos, ela guarda um envelope entregue por um detetive, sem jamais ter coragem de abri-lo. Aquele momento, quando exibe a imagem para Bundy, com este já no corredor da morte, prestes a ser eletrocutado, será a única vez em que veremos uma foto da brutalidade cometida contra uma das vítimas. 

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