São muitas as semelhanças entre a comédia brasileira “Tô Ryca!”, disponível no Telecine Play, e duas produções americanas da década de 80 – “Trocando as Bolas” (1983), com Eddie Murphy, e “Chuva de Milhões” (1987), estrelada por Richard Pryor.
Além do fato de ser protagonizado por um ator negro (uma atriz, Samantha Schümtz, no caso do nacional), “Tô Ryca!” reprisa o mesmo mote de “Chuva de Milhões”, dando a oportunidade de um pobre ter todo o dinheiro do mundo que deseja.
A ironia é a mesma: a felicidade não é completa, pois ao ganhador de uma bolada milionária só será permitido gastar com coisas que não constituem um bem. Mais: há um prazo de 30 dias para torrar uma grande quantia. Se não conseguir, perde tudo.
A esse personagem impõe-se uma lição moral: se é dinheiro o que quer, nada melhor que se entupa dele para mostrar que é preciso certo pedigree para saber lidar com altas cifras. E é justamente o que Selminha (Samantha) não tem, assim como Pryor.
O riso surge principalmente dessa“incompatibilidade”. Selminha desfila palavrões e trejeitos “de pobre” enquanto passa por lojas chiques. Maior contraste ocorre quando se candidata à prefeitura do Rio – afinal, nada melhor do que gastar à toa do que investir em política.
A mesma situação acontece no longa-metragem de 1987, mas como a política brasileira tem virado uma comédia pastelão, os roteiristas souberam tirar bom proveito dessas sequências, cheias de referências ao cenário atual.
Uma questão presente em “Trocando as Bolas” é também trabalhada em “Tô Ryca!”, ao mostrar a manipulação feita por setores econômicos da sociedade, que têm no povo uma marionete, dando o destino que querem aos pobres