(VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO)
No momento em que o cinema brasileiro pôr na balança o que aconteceu com o setor durante a pandemia, a diretora Sandra Kogut acredita que o seu mais recente filme, “Três Verões”, despontará como um caso emblemático. A produção estrelada por Regina Casé estava para ser lançada nas salas de exibição em 19 de março, justamente na semana em que a cultura no país entrou em estado de suspensão.
“Estávamos na boca de estrear. Seis dias antes tivemos que suspender tudo”, registra Sandra. Curiosamente, o filme acompanhou, ao mesmo tempo, o baque ocorrido na cultura europeia, por onde o coronavirus passou primeiro. “Ele já tinha sido exibido na França e, quando as salas reabriram, voltou em cartaz num circuito ainda maior”, assinala.
No Brasil, com os cinemas ainda fechados por tempo indeterminado, “Três Verões” não terá a mesma sorte. Sandra não viu outra alternativa a não ser partir para os drive-ins e as plataformas digitais. “Chegamos a conclusão que é o único caminho possível. Se lá fora eles já conseguiram controlar a pandemia, aqui a gente ainda não sabe como ficará”.
Ela defende o cinema como uma experiência única, de prazer individual e coletivo, mas lembra que as outras formas de exibição não são menos importantes por isso. “Existem muitas maneiras de assistir. O drive-in, que remete à minha infância, renasceu agora em muitos países e é uma ideia genial. E o streaming tomou outro tamanho na vida das pessoas. Ao final, quando se faz um filme, o que você quer é que ele chegue ao maior número de pessoas”, analisa a cineasta.
Falência
O assunto do filme também é sombrio, mas tratado com certa leveza por Sandra, que aborda a falência da sociedade brasileira. “É o retrato de um país imediatamente anterior à ascensão da extrema-direita em 2018. Passado entre 2015 e 2017, período que escolhi por ser o apogeu dos escândalos políticos, mostra que as coisas já estavam evidentes naquele momento, só que não queríamos enxergar”, observa.
O desmantelamento de uma família, em função do vendaval político, é visto pelo olhar da personagem de Regina Casé, a Madá, que é caseira de um condomínio de luxo à beira-mar. “Ela vive entre dois mundos, como empregada e chefe dos outros empregados, traduzindo um Brasil onde todos têm de se virar, do cada um por si, em que tudo é potencialmente um mercadoria”.