(Carlos Henrique/Hoje em Dia)
Este é um ano de marco nas mais de três décadas de carreira do grupo Uakti. O percussionista Décio Ramos deixou o projeto, fazendo com que o palco ficasse mais vazio – afinal, o compositor Marco Antônio Guimarães já não vinha participando dos shows há alguns anos. Para que a música continuasse a ser levada ao público, o grupo se abriu para convidados especiais. Assim, nos próximos shows do Uakti, o percussionista Paulo Sérgio dos Santos e o flautista Artur Andrés Ribeiro vão continuar contando com as esposas – a percussionista Josefina Cerqueira e a pianista Regina Amaral, respectivamente – e outros três reforços: o flautista Alexandre Andrés (filho de Artur), o violonista Kristoff Silva e o percussionista José Henrique. Até o momento, são três datas previstas: dia 8 no CCBB-BH, dentro do Savassi Festival; dia 18, na praça Floriano Peixoto; e dia 1º de agosto na Praça Milton Campos, em Betim, sendo essas duas últimas dentro do Circuito Unimed-BH. No repertório, estão músicas que fizeram parte dos primeiros álbuns do grupo, em especial o debute, “Uakti – Oficina Instrumental”, de 1981. “Convidamos um violonista para as apresentações, porque na época fizemos as músicas com dois violões. Eram temas mais densos, mais intrincados”, afirma Paulo Sérgio. Planetário Nesse novo show, intitulado “UAKTI”, o grupo deve experimentar também algumas faixas de “Planetário”, álbum que começa a ser gravado hoje, no Estúdio Acústico, com 14 instrumentistas de cordas. Além de poder contar com violas, violinos e violoncelos, a novidade desse trabalho está na composição. Como Marco Antônio está envolvido com a trilha do próximo espetáculo do Grupo Corpo, as criações dessa vez ficaram nas mãos de Paulo e Artur. “Vai ser uma sonoridade diferente porque cada um tem a sua forma de pensar. Mas posso dizer que tivemos um grande mestre chamado Marco Antônio Guimarães”, afirma Artur, adiantando que Mônica Salmaso fará uma participação no álbum. “Planetário” está sendo feito por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (via Natura Musical), mas o grupo continua a buscar recursos para a construção do Centro de Referência Musical, em um terreno próximo ao Hospital da Baleia. O projeto está aprovado na Lei Rouanet, mas ainda não tem patrocinador. É um lugar onde poderão acontecer oficinas para jovens e onde poderão ficar acondicionados os exemplares de mais de cem instrumentos criados para o grupo. MET Outra grande novidade do Uakti é que o grupo se apresentará ano que vem no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, ao lado do americano Phillip Glass, com quem trabalhou em várias ocasiões. Aumentar o diálogo com a juventude é uma prioridade Os integrantes do Uakti acreditam que é preciso haver um processo de renovação e nada melhor para isso do que o diálogo com os mais jovens. Isso começou a ser feito no projeto anterior – “Uakti Beatles”, quando os filhos dos instrumentistas foram convidados a participar da criação – e tende a se ampliar com o tempo. A vontade de se abrir para os mais jovens se intensificou no final de 2013, quando o Uakti se apresentou no Palácio das Artes com alguns vencedores do Prêmio BDMG Instrumental. “Essa geração é mais bem preparada e mais aberta, tem boa formação sobre a nossa música popular e sobre o jazz e a improvisação. Hoje eles têm mais acesso por conta da internet, adquirem uma boa bagagem de conhecimento, mesmo sendo muito jovens”, diz Artur, elogiando músicos como André Mehmari e Rafael Martini. Natural A participação de Alexandre Andrés nesse processo é bastante natural. O músico de 25 anos vivenciou o universo do Uakti desde a tenra infância. “Minha mãe me levava aos shows quando era pequeno. Sou influenciado por eles todos, especialmente pelo meu pai e pelo Marco Antônio. Tanto que eles participaram de dois discos meus e no terceiro eu fiz arranjo para uma composição do Marco Antônio”, diz. A primeira vez em que Alexandre participou de um projeto do Uakti foi com “Uakti Beatles”, em 2012. Depois disso, atuou ao lado do pai na criação da trilha sonora do filme “Território de Brincar”, de David Reeks e Renata Meirelles. “Vai ser bom para eles atuar ao lado de outros músicos. É uma nova fase, novos ares”, opina. Kristoff Silva conta que o Uakti foi como uma “paixão de adolescência” em sua vida. Ele chegou a participar de oficinas do grupo no Conservatório da UFMG e gravou com o Uakti no álbum “Oiapok Xui” (2005). Escolha afetiva O artista foi convidado para integrar o novo show com violão, mesmo que esse instrumento não seja seu foco principal há muitos anos. “Acredito que a escolha tenha sido bastante afetiva. Essa afetividade entre todos tornou os ensaios mais ensolarados, cheios de piadas e alegrias tomando conta de todos encontros”, completa. Assista ao vídeo: