Um foco sobre os arquivos

A cineasta mineira Anita Leandro gosta de dizer que fez “um dos milhares de filmes” que podem ser produzidos a partir dos arquivos dos órgãos de repressão na época da ditadura militar. O documentário dela, “Retratos de Identificação”, atração deste sábado (29) da programação do forumdoc.bh, reconstrói a história de quatro militantes valendo-se do material encontrado nesses arquivos.   “Descobri imagens de presos políticos em todas as situações que você pode imaginar: em investigações, prisões, torturas, exames de corpo delito e laudos cadavéricos”, registra a diretora de Belo Horizonte.   Anita ressalta que o filme é o primeiro a fazer desses arquivos o personagem principal. “Outros se limitaram a usar imagens como complemento de uma fala ou personagem”, ressalta.   Entre as muitas histórias ali encontradas, muitas delas ainda desconhecidas, ela juntou as peças de quatro personagens, entre eles, a da mineira Maria Auxiliadora Barcelos, a Dora.   A militante é o fio condutor do documentário, com a história dos outros (Antônio Espinosa, Chael Schreier e Reinaldo Guarany) passando pela dela, que pertenceu à organização VAR-Palmares e foi presa em 1969. Dora abandonou a faculdade de Medicina na UFMG para integrar o grupo armado, mudando-se para o Rio de Janeiro. Capturada poucos meses depois, foi torturada com choques elétricos na vagina, seios e orelhas.   Em 1971, Dora foi banida para o Chile, ao lado de outros 70 presos políticos, em troca da vida do embaixador suíço Giovanni Bucher. Traumatizada, se suicidou em 1976, jogando-se na frente de um trem, em Berlim.   “Não escolhi a história de Dora. Foi ela (a história) que me escolheu”, assinala Anita, que costura o material iconográfico com depoimentos da militante para dois filmes realizados durante o exílio no Chile.   “Histórias como a dela nos ensinam muito sobre o passado recente do país. Há ainda muitas histórias singulares para serem contadas”, define.   “Retratos de Identificação” – Exibição no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1537), neste sábado, às 17h. Entrada franca.