"Velha guarda do samba" guarda memória de quando o Carnaval não tinha fim

Clarissa Carvalhaes - Do Hoje em Dia
12/02/2013 às 15:06.
Atualizado em 21/11/2021 às 00:56
 (Arquivo/Hoje em Dia)

(Arquivo/Hoje em Dia)

Foi um descuido de menino. Um baita susto. E Mestre Conga rolou rua abaixo após ser atropelado durante um desfile de Corso. O episódio marcou aquele que seria o primeiro dos seus Carnavais – a paixão pelo samba nascera ali: atropelou o coração do menino que, hoje, aos 86 anos, é uma das mais importantes figuras carnavalescas da capital.

Baluarte como ele, existem poucos: apenas dez integrantes formam, por exemplo, a Associação Velha Guarda da Faculdade de Samba de Belo Horizonte que, na última quarta-feira, pôs-se a rememorar um Carnaval tão bom quanto festivo. Cabe a Mestre Conga, o mais velho do grupo, dar a palavra.

“Era muito bonito: os blocos de Rancho e de Choro desfilavam por toda Afonso Pena. Nas ruas, ninguém saía sem fantasia e as escolas de samba ainda não tinham caído na besteira de copiar o Carnaval do Rio. Tínhamos a nossa própria festa, nossa própria competição: a Batalha de Confete, desfiles de blocos, Corsos enfeitados de serpentina, rapazes e moças cantando marchinhas...”, recorda Mestre Conga.

Origem

O primeiro desfile que se tem notícia em BH foi criado por carroceiros que trabalhavam na construção da capital. Numa terça-feira de Carnaval, um comboio atravessou as ruas da cidade, abrindo as portas para dias de festa.

A partir da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) a folia passou a prevalecer nos clubes, onde imperavam os bailes. “Mas o que esquentava a gente mesmo era o lança-perfume. Aquilo era bom demais! Todo mundo cheirava e ficava com um porrezinho gostoso. Tínhamos liberdade de ir e vir, passávamos noites na rua e o Carnaval não tinha fim. Mas tudo isso acabou”.
 

VELHA GUARDA DE BH: Benjamin Borges, Ana Elise de Souza, Lúcia Santos, Mestre Conga, Sílvio Luciano, Lucinha Bosco, Juarez de Araújo e Clélia dos Santos


"É preciso ter dendê para se fazer carnaval"

Neste carnaval, o pequeno grupo de baluartes do samba não estará presente na avenida como manda a tradição. Fundadores de extintas escolas e blocos caricatos de Belo Horizonte, homens e mulheres, que hoje vivem entre seus 60 e 86 anos, já não são mais convidados a participar da festa.

“Alguns ficarão deitados, outros vão assistir à TV. Há também os que vão assistir de longe... Queríamos tanto receber aquele convite: ‘desfila na nossa escola!’ Sim, não somos jovens e temos baixa resistência, mas estamos vivos”, emociona-se Lúcia Santos, presidente da Associação Velha Guarda. “Quem tenta fazer Carnaval hoje não sabe que samba tem dendê. Não é só chegar metendo a cara, não é só malandragem”, garante Mestre Conga.

Ao lado de Lúcia e Mestre Conga, outros oito baluartes formam a Associação – grupo que chegou a ter 19 membros. “A presença de uma Velha Guarda bonita, bem vestida, está à frente de todas as grandes escolas em qualquer lugar, mas Belo Horizonte não tem. Estamos aqui, pedindo: ‘olha a gente aqui!’, mas não fomos convidados para nada. Assim o Carnaval acaba”, lamenta Lúcia.

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