'Vermelho Russo' acompanha a jornada de duas atrizes brasileiras em Moscou

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
05/05/2017 às 16:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:25

Já com “Vermelho Russo” nas telas de cinema do país, o diretor Charly Braun ainda vê seu segundo longa-metragem como um grande mistério, que começou a ser gestado há oito anos, após ele ler o diário de Martha Nowill publicado na revista “Piauí”, reunindo relatos de sua passagem por Moscou e o interesse em se aprofundar no célebre método de atuação Constantin Stanislavski, na terra de seu criador.

“Foi um grande desafio. Fiquei encantado com o relato dela e a procurei para fazermos o filme. A ideia era aproveitar algumas coisas do texto e inventar outras. Na verdade, havia o questionamento de que um diário já é, por si, uma autoficção em certa medida. Botamos isso no roteiro e, na hora de filmar, surgiram outras coisas. Ao longo de várias etapas, até a montagem, essa mistura foi se depurando”, registra Charly.

Mistura que o cineasta já tinha experimentado – “de uma maneira menos arrojada” – em seu trabalho anterior, “Além da Estrada”, lançado em 2010, que também envolvia uma viagem de autoconhecimento. “Não queria algo que soasse uma coisa hermética sobre a arte da interpretação. O cinema não é nada disso. Ao mesmo tempo em que mostra certo prazer, há uma reflexão ali, permitindo diferentes leituras”, destaca.

Laboratório
Charly também vislumbrou a possibilidade de transitar numa fronteira em que a busca da verdade absoluta na representação – um dos fundamentos do método stanislavskiano – move as atrizes (Martha viaja acompanhada de Maria Manoella) e contamina a própria linguagem do filme. “Assim brincamos do que é verdade e do que não é verdade, como um grande laboratório, amplificando essa ideia em várias camadas”, salienta.

Enquanto “Vermelho Russo” acompanha a jornada de Martha e Maria, as duas participam da encenação da peça “Tio Vânia”, do dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904), cujas personagens carregam algumas semelhanças com a vida real. Assim como na ficção, a relação das amigas sofre desgastes, especialmente por estarem num país e cultura diferentes, num ambiente invernal que não estavam acostumadas.

“Há muita ilusão sobre o trabalho do ator. Acham que é algo fácil, mas quem acompanha sabe como foi difícil chegar àquele resultado. Só vemos o resultado e não o processo”Charly Braun


O realizador buscou manter no longa o humor muito próprio de Martha, já presente no diário. “É algo quase chapliniano, um jeito de ver tudo com certa graça. A história do romance no filme poderia ter se tornado um drama imenso, mas acaba virando uma coisa engraçada. Já no texto de Martha havia muita despretensão”, afirma. 

Por sinal, o roteiro, assinado pela atriz e por Charly, foi premiado na última edição do Festival do Rio.

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