(FÊNIX/DIVULGAÇÃO)
Agnès Varda está com 89 anos e confessa para a câmera que não consegue enxergar direito e que as pernas ficaram frágeis. Assim, em “Visages, Villages”, um dos favoritos ao Oscar de melhor documentário em longa-metragem, a diretora nascida na Bélgica faz a sua despedida do cinema, pouco mais de seis décadas após a sua estreia. Como tem feito em seus últimos trabalhos, Agnès retorna a vários pontos de sua carreira, relembrando com vivacidade e bom humor “seus bastidores” ao visitar alguns de seus cenários. Em “Visages”, além de prestar tributo às personagens e lugares de seus filmes, a cineasta parece querer prestar contas a si mesma. Dividindo a condução e a narração com o jovem fotógrafo JR, conhecido pelas imagens gigantescas de pessoas comuns afixadas em muros, Agnès recorre ao codiretor para estabelecer um diálogo inusitado e muito rico sobre a vida, o fazer documentário e o aprendizado com os muitos personagens que encontrou pelo caminho. JR lembra Godard do início da Nouvelle Vague, sem tirar os óculos escuros do rosto. Parece um novo personagem por quem Agnès se encanta prontamente. Com ele vai para a casa do verdadeiro Godard, mas o recado irônico afixado pelo cineasta à porta de entrada a deixa triste e mais apaixonada pelo não real. Piscar de olhosEm “Visages”, Agnès quer o “truque”, a transformação provocada pelo encontro do criador com as suas crias. As grandes fotos em preto e branco têm esse efeito do deslumbre, ainda que efêmero, podendo desaparecer com a chuva ou a força da maré. Um piscar de olhos que resume, em 90 minutos, o pensamento de vida da diretora. JR clica Agnès, exatamente os olhos e pés, que parecem fraquejar, e os amplia em vagões de trem que percorrerão a França. A visão e o desejo de desbravar novos territórios continuarão em circulação, seja com JR, num passar de bastão carinhoso, ou com qualquer pessoa que identifique no outro a possibilidade de encontrar-se.