Major Layla Brunnela, porta-voz da PM, falou sobre a série “Segunda pele – o preço da ordem”, que estreia na quarta-feira (FERNANDO MICHEL)
As atividades policiais-militares exigem o uso de processos comunicativos nas mais diversas áreas, como a administrativa e de policiamento. A Polícia Militar é solicitada, a todo o momento, para dar esclarecimentos. Ciente da importância da comunicação, em tempos de redes digitais e conexões multimídia, a corporação de quase 250 anos, está se reinventando para garantir mais proximidade com a população.
Entre as ações que fazem parte deste novo modelo em Minas está o lançamento da série “Segunda pele – o preço da ordem”, que estreia na quarta-feira. Segundo a major Layla Brunnela, porta-voz da PM, esta é a primeira série produzida por uma corporação militar na América Latina.
Layla, que se tornou, em 2021, a primeira no cargo na história da Polícia Militar, conversou com o Hoje em Dia. A comandante da sala de imprensa falou sobre o novo modelo de comunicação e sua trajetória.
Como funciona a coordenação da comunicação da PM?
Temos uma formação mista, mas a maior parte das pessoas que atuam na comunicação é formada por militares, que não têm formação em comunicação. Nós tentamos aproveitar os militares que têm habilidades ligadas à área, assim conseguimos ter a comunicação na polícia espalhada por todas as regiões do Estado. Temos o que a gente chama de sistema de comunicação e, em cada grande cidade, em cada uma dessas regiões, nós temos um major ou um tenente que vai responder pela comunicação. São eles que vão fazer o elo com a comunicação aqui em Belo Horizonte, que é onde está o centro de jornalismo, comandado pelo tenente coronel Santiago, o porta-voz que me antecedeu e ficou cinco anos nessa função. Hoje ele é o nosso chefe, quem faz a gestão da comunicação da polícia tanto no atendimento ao jornalista, feito pela sala de imprensa que eu chefio, como a parte multimídia e propaganda, que abarcam as nossas multimidialidades, as redes sociais, todo o marketing da polícia militar.
Algumas mudanças têm sido percebidas com relação à comunicação da PM. Ela tem deixado de ser somente reativa, no sentido da informação, e se tornado mais proativa. Por que esta mudança?
As transformações institucionais são necessárias para a própria sobrevivência da corporação e temos consciência que a Sala de Imprensa sempre foi muito reativa mesmo, sempre voltada para dar a informação do boletim de ocorrência para o jornalista apurador e, quando necessário, um posicionamento institucional em uma situação de crise, em alguma situação em que houvesse qualquer problema com uma intervenção policial. Mas ao longo dos últimos anos, e com a criação da Diretoria de Comunicação, nós percebemos que tínhamos espaço e precisávamos ocupá-lo, falando também das atividades de polícia, levando uma informação positiva do nosso trabalho cotidiano. Nós mudamos o pensamento com relação à comunicação, entramos na era das redes sociais, dos memes, das brincadeiras, da proximidade com o cidadão. Hoje, o nosso militar que atua na ponta da linha sabe que, para reportar uma ocorrência para as TVs, por exemplo, ele precisa gravar um vídeo na horizontal, pois, às vezes a emissora não vai ter uma equipe para mandar ao local. Se ele tem uma boa ocorrência, se ele tem uma boa informação sobre a instituição, então ele mesmo produz o conteúdo e encaminha isso para a imprensa para conseguir mostrar o trabalho que é realizado no dia a dia. É assim que gente sai daquele campo só da reação, só do problema institucional, e passa a difundir as boas práticas com vídeos promocionais, com posts e inclusive com uma série que a gente vai lançar agora.
Hoje a instituição conta com quais mídias para trabalhar a imagem institucional?
Estamos trabalhando essa imagem institucional de uma forma diferenciada para a sociedade de maneira geral. Nós temos vários canais de comunicação, mas os principais são o Instagram (@pmmg.oficial), que hoje conta com mais de 230 mil seguidores. Tínhamos um Instagram muito institucional, muito votado pela agenda do comandante e, agora, a gente parte para uma conversa com a sociedade, na qual damos mais rosto aos nossos policiais militares, falando das boas ocorrências, com boas imagens. Para além dessa mídia, temos dois canais no YouTube, um deles voltado para o público infantil, que é PMMG Mirim. No outro lado, temos o conteúdo não direcionado para crianças, um conteúdo de prevenção criminal principalmente. É o canal TV PMMG, onde os nossos principais produtos e programas são postados. Temos ainda o Facebook da polícia militar, além de podcasts, no qual levamos convidados para debater questões de segurança, prestamos contas para a comunidade e apresentamos os resultados da Polícia Militar. Sem falar que temos programas voltados para o público rural, programas de turismo. Fazemos tudo por meio de parcerias dentro dos órgão governamentais, parcerias que são operacionalizadas dentro da Diretoria de Comunicação.
Sobre a “Segunda Pele”, por que uma minissérie? Como surgiu a ideia?
Nós estamos com uma super expectativa para o lançamento. É uma série totalmente feita por policiais militares, pela instituição, desde a sua roteirização. Ela conta o cotidiano institucional, o dia a dia do policial militar. Achamos que ela seria necessária, porque temos o hábito de ver na mídia formal, séries que retratam um policial militar muito caricato, sempre muito violento e, às vezes, desprovido de conhecimento. E a instituição, na verdade, não é formada por pessoas assim. Nós somos formados por pessoas comuns e o objetivo dessa série é humanizar esse policial militar, mostrar de dentro para fora, para a sociedade como nós de fato trabalhamos, quem nós somos. Ela é composta por seis episódios de aproximadamente 20 minutos cada.
Essa mudança de paradigma comunicacional tem sido trabalhada dentro da corporação, nos cursos de formação com todos os policiais?
Sim. Nós temos aula de Comunicação Organizacional, inclusive leciono para algumas turmas, justamente para ensinar para o policial militar que ele é a imagem institucional. É nosso policial militar que vende a nossa imagem positivamente ou negativamente. Por isso, precisamos que ele também colabore com a comunicação. Sozinha não consigo alcançar os 853 municípios mineiros, mas o militar que está no destacamento, se ele tem uma boa concorrência, se ele tem uma boa intervenção, ele pode produzir conteúdo e esse conteúdo vai circular e gerar segurança pública, que é o mais importante.
E como as mudanças têm sido recebidas?
A gente sente uma receptividade muito grande, inclusive da imprensa, porque é uma parceira que traz bons resultados. Hoje, o militar sabe que não basta uma foto do produto apreendido. Ele mostra o produto apreendido, mas sabe que tem que narrar, sabe que não precisa aparecer, mas para que o conteúdo seja relevante. Temos ensinado isso para a nossa tropa.
A comunicação é uma área ampla. Além da visibilidade, requer uma série de habilidades interpessoais. Essas habilidades têm sido exigidas pelo comando?
Estão sim. Hoje para entrar na PM é exigido o nível superior, o que já nos garante um filtro de pessoas que são formadas na área de comunicação. Mesmo que ela não tenha formação, se ela tem interesse, pode servir na comunicação da instituição. Nesse aspecto, temos hoje na nossa comunicação policiais militares e, dois comunicadores formados, que trabalham na nossa equipe. Tenho programadores porque a gente tem toda uma parte de vídeos que demandam editores, programadores. Na Polícia Militar também temos o que chamamos de banco de talentos. O militar se inscreve e coloca toda a sua formação. A PM consegue, a partir dali, fazer uma melhor gestão daquele conhecimento. Os nossos militares também acabam buscando a formação na área para poder agregar à instituição justamente na área de comunicação.
Como a senhora chegou à comunicação da PM?
Veio com uma surpresa. Na PM, nós somos divididos em áreas de atuação. Temos a área de recursos humanos, da inteligência, do planejamento, da logística, financeiro e a comunicação. Nunca fui da área da comunicação, a minha carreira sempre foi na área operacional. Depois passei muito tempo na área de recursos humanos, acabei tendo uma experiência na parte de logística. Entretanto, nós temos um pré-requisito para virar oficial superior e, para que eu fosse promovida a major, foi preciso fazer um curso em 2017, no qual tive aulas na Diretoria de Comunicação. Lá, fui sorteada para dar uma entrevista coletiva, que fazia parte de um trabalho avaliativo. O coronel Santiago, na época major Santiago, me passou essa tarefa e, quando a executei, ele me disse que eu tinha ido bem. Nesta época, ele procurava alguém para começar a aprender o serviço na comunicação. Não fui para o setor de imediato, mas, em 2019, saiu uma transferência para a Diretoria de Comunicação e durante dois anos dividi com ele a função de porta-voz. No ano passado, assumi sozinha essa função.
Onde essa comunicação da PM estará no futuro?
Não tenho a menor dúvida que tudo que estamos vivendo na comunicação da PM é apenas parte de um grande e longo processo de expansão. A comunicação teve um ganho de importância institucional, ela ainda é pequena, mas a previsão é de que ela seja cada dia mais forte. A gente tem conseguido mostrar que mesmo para uma instituição muito tradicional, o quanto é importante o contato com o corpo externo, o quanto é importante comunicar bem internamente também. Hoje acredito que é talvez a nossa maior fortaleza, seja a nossa comunicação.
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