Entrevista

‘O tênis brasileiro vive um momento fantástico’, diz o ex-atleta mineiro Bruno Soares

Um dos principais duplistas que existiu no mundo fala do legado da carreira no esporte

Angel Drumond
angel.lima@hojeemdia.com.br
31/03/2025 às 07:30.
Atualizado em 31/03/2025 às 07:38
Bruno Soares (Reproduçõa: Instagram)

Bruno Soares (Reproduçõa: Instagram)

O tênis brasileiro vive um momento de destaque internacional com nomes como João Fonseca e Bia Haddad consolidando trajetórias. Entre os grandes representantes da modalidade, Bruno Soares marcou época ao conquistar seis títulos de Grand Slam e encerrar a carreira como um dos principais duplistas do mundo.

Natural de Belo Horizonte, Soares acumulou 35 títulos em torneios da ATP e alcançou o segundo lugar no ranking mundial de duplas em 2016. Com um currículo que inclui conquistas no Aberto da Austrália e US Open, encerrou a carreira em 2022, deixando um importante legado para o esporte brasileiro. Além disso, esteve presente em quatro títulos de Masters 1000 e figurou no seleto grupo de campeões de Grand Slam do país.

Ao longo de 22 anos como profissional, o mineiro destacou-se não apenas pelos títulos, mas também pela regularidade e parcerias vitoriosas. Em 2016, tornou-se o primeiro brasileiro desde Maria Esther Bueno, em 1960, a vencer dois troféus em um mesmo Grand Slam. Em 2020, conquistou novamente o US Open e encerrou o ano como a dupla número um do mundo ao lado de Mate Pavic.

Em entrevista ao jornal Hoje em Dia, Bruno Soares destacou o fenômeno João Fonseca, refletiu sobre a própria trajetória e o impacto das conquistas para o tênis nacional. O ex-tenista também analisou o crescimento da modalidade no Brasil e as expectativas para o futuro do esporte.

Bruno Soares (Reprodução: Instagram)

Bruno Soares (Reprodução: Instagram)

Bruno, você teve uma carreira brilhante, com mais de 30 títulos e conquistas em Grand Slams. Olhando para trás, qual foi o momento mais especial da sua trajetória e o que te enche mais de orgulho quando pensa no que conquistou no tênis? 

Eu acho assim: na verdade, o que mais me enche de orgulho é a trajetória como um todo. Sim, a história, o processo, porque a gente sabe que não é fácil, né? No nosso país, com pouquíssimo incentivo, fazendo quase tudo por conta própria, até você chegar lá, ser reconhecido e conseguir sair com uma história como a que eu tive.

Conquistar o mundo, ganhar vários títulos, torneios de expressão, seis Grand Slams, ser duas vezes campeão mundial e líder em duplas. Esse é o meu maior orgulho. Acho que também pelo exemplo que deixei, pelo legado.

E, sobre a pessoa que sou, o ser humano, sempre me perguntam: “Como você quer ser lembrado?” Cara, eu acho que é o que sempre digo: como uma pessoa legal, simples, acessível, que conseguiu, com muito esforço, conquistar muitas coisas incríveis e viver, por muito tempo, o sonho de uma criança.

O tênis brasileiro sempre teve grandes ídolos, e agora João Fonseca surge como um novo fenômeno, já entre os 100 melhores do mundo e conquistando seu primeiro título na ATP. Como você vê essa ascensão dele e quais conselhos daria para que ele se mantenha no topo e siga crescendo na carreira? 

O tênis brasileiro vive um momento fantástico. Estamos em uma fase muito legal e, falando especificamente do tênis masculino, temos o exemplo do João Fonseca, que já se destaca desde muito jovem. João é um grande fenômeno, um talento incrível que temos. Com certeza, ele ainda conquistará muitas coisas importantes.

Acho que o conselho que eu daria a ele é continuar fazendo o que já vem fazendo e não perder o foco no processo. Quando somos mais jovens e estamos treinando, jogando torneios, a atenção sobre nós é menor. Estamos ali no dia a dia, com nossa equipe, nossa família. Mas, ao atingir o nível que ele alcançou, há uma grande explosão de tudo — de mídia, de atenção, de patrocinadores — e, com isso, vem uma demanda e uma pressão enormes. Muitas vezes, acabamos perdendo um pouco a atenção nos detalhes do dia a dia.

Vejo que ele tem lidado muito bem com isso. Está muito bem estruturado, tem uma família excelente e uma equipe muito competente. Então, acredito que ele está bem focado, e esse é justamente o conselho que eu reforçaria para ele.

Acredito que ele já faz isso com muita maestria, mas o grande ponto é manter-se sempre focado no processo e na evolução. Precisamos lembrar que ele tem apenas 18 anos e ainda tem muito a crescer.

Bruno Soares (Reprodução: Instagram)

Bruno Soares (Reprodução: Instagram)

Você chegou a ser número 2 do mundo nas duplas e jogou ao lado de grandes nomes, como Jamie Murray e Mate Pavic. Como foi competir nesse nível tão alto e qual a principal lição que levaria para um jovem como João Fonseca, que ainda está construindo seu caminho? 

Acho que a grande lição disso tudo é acreditar sempre e confiar no processo. O João já está enfrentando os grandes jogadores, jogando de igual para igual. Às vezes, deixa escapar uma partida, o que é normal, pois ainda está em um processo de amadurecimento e evolução, ajustando os detalhes do seu jogo.

Ele é um jogador com muitas armas, muitos golpes e várias opções. Agora, precisa aprender a usá-los da melhor forma possível e no momento certo. Mas acredito que ele tem uma autoconfiança muito alta, o que é fundamental para enfrentar grandes desafios.

Quando chegamos aos momentos decisivos – semifinais, finais, torneios importantes – é essencial acreditar em si mesmo antes de qualquer coisa. E acho que ele faz isso muito bem.

Depois da aposentadoria das quadras, você segue envolvido no tênis, seja como comentarista, mentor ou em projetos ligados ao esporte. Quais são seus principais planos e de que forma você pretende continuar contribuindo para o desenvolvimento do tênis brasileiro?

Depois da minha aposentadoria, estou envolvido com o tênis. Temos um braço de tênis dentro da empresa, a Fly Sports, que conta com uma academia aqui em Belo Horizonte e dois clubes onde trabalhamos com competição. Não estou envolvido no dia a dia da empresa, mas acompanho tudo o que acontece e participo sempre que possível.

Procuro ajudar da melhor forma possível os garotos que estão nesse processo de evolução. Além disso, temos mais um braço de experiências e consultoria, a Madland, onde realizamos eventos esportivos de diversas formas.

Meu principal foco, no entanto, é o mercado financeiro. Sou sócio de uma gestora, e essa é minha principal atividade no dia a dia.

Mas o tênis está no meu DNA, é minha grande paixão, e com certeza estarei envolvido com o esporte pelo resto da minha vida, de forma direta ou indireta.

O Brasil já teve momentos de grande destaque no tênis, com Guga, Bellucci, você e Marcelo Melo brilhando no circuito. Como você avalia o momento atual do esporte no país e o que falta para termos mais brasileiros competindo entre os melhores do mundo? 

Bruno Soares e Marcelo Melo (Reprodução: Instagram)

Bruno Soares e Marcelo Melo (Reprodução: Instagram)

O tênis brasileiro está em um momento muito bom. Hoje, vemos o tênis feminino brilhando como há muito tempo não acontecia. A Bia vem se consolidando no top 20 há três anos, e Luisa Stefani, que chegou ao top 10, sofreu uma lesão, mas já está voltando. Além delas, temos várias outras jogadoras se destacando.

Em 2021, conquistamos uma medalha olímpica com as meninas, um momento marcante para o esporte. No masculino, também vivemos uma fase muito positiva. João Fonseca lidera esse processo, com os dois Thiagos logo atrás. Além deles, temos Guto, Vitinho, Naná, Vitória e muitos outros jogadores de grande talento se destacando tanto no juvenil quanto no cenário internacional.

Mais do que isso, estamos vendo um tênis muito moderno, com atletas que realmente têm chances de se tornarem grandes competidores e profissionais de alto nível. O momento do esporte brasileiro é especial. As empresas estão cada vez mais atentas a isso, o que ajuda muito, pois é difícil desenvolver o esporte sem apoio financeiro.

Hoje, contamos com uma Confederação Brasileira de Tênis bem estruturada, com credibilidade e realizando um belíssimo trabalho. O momento do esporte no Brasil é, sem dúvida, muito especial.

No circuito, você sempre foi conhecido não só pelo talento, mas pelo carisma e parceria com seus companheiros. O que torna um grande jogador de duplas e como você vê o futuro do Brasil nessa modalidade, especialmente após o sucesso que você e Marcelo Melo conquistaram?

Olha, eu acho que um dos pontos principais da dupla é que ela é um esporte em equipe. Então, você precisa ter um olhar diferente. Diferente do jogo simples, onde você está sozinho, resolvendo seus problemas e encontrando soluções, na dupla o trabalho em equipe é fundamental.

A personalidade acaba impactando muito, porque é extremamente importante ter uma boa sinergia com o parceiro. O Brasil, por natureza, sempre teve grandes equipes e se destacou bastante em esportes coletivos. Acho que isso vem da nossa cultura, de sermos um país alegre, comunicativo e que gosta de interagir e conhecer pessoas.

Acredito que isso também contribui. E, sobre o que torna um grande jogador de dupla, obviamente, há a necessidade de se adaptar ao jogo em si, entendendo que ele é totalmente diferente do simples. Mas um dos fatores principais é, sem dúvida, a capacidade de jogar em equipe.

Bruno Soares recebendo uma homenagem do seu time do coração, o Cruzeiro (Reprodução: instagram)

Bruno Soares recebendo uma homenagem do seu time do coração, o Cruzeiro (Reprodução: instagram)

Mudando um pouco de assunto, sei que você é cruzeirense apaixonado! Como você está vendo o momento do Cruzeiro e quais são suas expectativas para a temporada? Dá para sonhar com um time competitivo brigando por títulos?

Olha, falar do Cruzeiro não está fácil, né? O time já faz um tempo que não vive seus melhores momentos.

Mas, desde a entrada do Ronaldo, começou a se estruturar. Agora, com a venda para o Pedrinho, acredito que esteja passando por mais um momento interessante. Temos um gestor com uma paixão enorme pelo time e um grande poder aquisitivo, capaz de causar um grande impacto no nosso clube. Espero que possamos voltar a ter um time competitivo e brigar pelos grandes títulos, como sempre foi a história do Cruzeiro.

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