Entrevista

'Só quem dominar a Inteligência Artificial terá espaço no mercado’, afirma presidente do CRA-MG

Jehu Pinto de Aguilar Filho fala sobre a transformação que atravessa a profissão e que deve se intensificar nos próximos anos

Ana Luísa Ribeiro*
aribeiro@hojeemdia.com.br
Publicado em 15/09/2025 às 06:00.
Presidente do Conselho Regional de Administração de Minas Gerais (CRA-MG), Jehu Pinto de Aguilar Filho (Maurício Vieira)

Presidente do Conselho Regional de Administração de Minas Gerais (CRA-MG), Jehu Pinto de Aguilar Filho (Maurício Vieira)

“Somente o profissional que tiver conhecimento e domínio da Inteligência Artificial terá espaço no mercado de trabalho”. A frase do presidente do Conselho Regional de Administração de Minas Gerais (CRA-MG), Jehu Pinto de Aguilar Filho, resume a principal transformação que atravessa a profissão e que deve se intensificar nos próximos anos. 

Às vésperas da celebração dos 60 anos de regulamentação da Administração, pesquisas nacionais reforçam essa percepção. Um levantamento do CRA-SP com mais de 500 profissionais apontou o aprendizado contínuo e o uso cada vez maior da IA como prioridades para o futuro da área, ao lado de competências humanas como inteligência emocional e adaptabilidade.

Em Minas, o CRA-MG tem ampliado debates sobre empregabilidade e inovação. No último mês, o Conselho promoveu o Encontro Estadual de Administração, Empregabilidade e Negócios, que reuniu Grupos de Trabalho para identificar setores em expansão e refletir sobre os desafios da carreira.

Foi nesse contexto que o Hoje em Dia conversou com Jehu Pinto de Aguilar Filho, que avaliou o mercado de trabalho, destacou as habilidades mais valorizadas e falou sobre o legado da profissão. Confira a entrevista completa:

O CRA-MG realizou recentemente o Encontro Estadual de Administração, Empregabilidade e Negócios, justamente para discutir tendências do mercado e perfil profissional mais valorizado. Na visão do senhor, como está o mercado de trabalho para os administradores em Minas Gerais neste momento? Quais setores ou áreas têm mostrado mais oportunidades?
Na minha visão, o mercado de trabalho para administradores em Minas Gerais está em um momento de aquecimento e de grandes oportunidades. Durante o nosso Encontro Estadual, os Grupos de Trabalho (GTs) do CRA-MG identificaram que há um crescimento notável em diversas frentes, tanto para quem busca emprego quanto para quem deseja empreender. Os setores que mais se destacam são Recursos Humanos, Logística, Perícia, Gestão Condominial e Negociação, agronegócios, startups e games, entre outros. No entanto, é fundamental ressaltar que o mercado busca um novo perfil profissional, que domina tecnologia e Inteligência Artificial, e que possui um excelente relacionamento interpessoal, além de habilidades para solucionar problemas e trabalhar de forma holística.

Quais são as competências e habilidades que hoje mais chamam a atenção dos empregadores? Houve mudanças significativas nos últimos anos sobre o que é esperado de um administrador?
Sim, houve mudanças muito significativas. O que se espera de um administrador hoje vai muito além das competências técnicas tradicionais. O profissional precisa incorporar transformações digitais, responsabilidade social, sustentabilidade e compliance em sua atuação. Os empregadores buscam alguém capaz de aprimorar processos, interpretar dados, tomar decisões estratégicas, analisar riscos e liderar equipes de forma eficaz. Além disso, a visão sistêmica é crucial para compreender a organização em seu todo, interligada ao ambiente interno e externo das empresas.

Quanto às habilidades, o mercado valoriza profundamente o que chamamos de competências comportamentais: inteligência emocional, empatia, pensamento crítico e capacidade de negociação.

A habilidade de se adaptar a cenários incertos, de se comunicar de forma clara e de liderar com criatividade e foco em resultados são essenciais para que o profissional se destaque.

Apesar dessas oportunidades, quais são as maiores dificuldades que os administradores enfrentam para se inserir ou se manter no mercado? Faltam qualificações específicas, experiência prática, ou o desafio é a alta competitividade?
Considero que o maior problema da nossa profissão é a invasão de nossa área por pessoas que não possuem a qualificação e o registro de administrador. O CRA-MG trabalha ativamente para fiscalizar e conscientizar as organizações sobre a importância de contratar profissionais habilitados.

Além disso, a alta competitividade do mercado exige um investimento contínuo em qualificações específicas, especialmente em áreas como tecnologia, agronegócios, condomínios, games entre outra. A falta de experiência prática e o domínio de um segundo idioma, como o inglês, também se tornaram obstáculos. Para se manterem relevantes, os administradores precisam se atualizar constantemente em inovações como a Inteligência Artificial (IA), robótica e IoT. É preciso ter uma visão holística e desenvolver as competências comportamentais necessárias para demonstrar um impacto direto nos negócios.

Que ações o CRA-MG tem promovido para apoiar os profissionais diante dessas dificuldades? Além de eventos como o encontro estadual, há iniciativas de capacitação ou parcerias que merecem destaque?
No CRA-MG, criamos o programa de mentoria, onde conselheiros e profissionais experientes oferecem orientação para que os registrados se atualizem. Também estimulamos o empreendedorismo, incentivando os profissionais a se reinventarem em suas carreiras ou a iniciarem seu próprio negócio. O Conselho Federal de Administração (CFA) investiu na oferta de empregos em nível nacional, uma iniciativa que ajuda a conectar os profissionais a vagas. Além disso, nossos Grupos de Trabalho (GTs) se reúnem regularmente para debater as tendências e as necessidades do mercado, proporcionando um entrosamento maior e preparando os profissionais para atuarem nas áreas mais promissoras.

A inteligência artificial vem transformando o jeito de trabalhar em várias áreas. Na administração, como o senhor enxerga esse impacto? Quais mudanças já estão acontecendo no dia a dia das empresas?
A IA trouxe contribuições enormes para a nossa profissão, proporcionando um ganho de tempo sem precedentes e melhorando a tomada de decisões e a aferição de indicadores. Ela permitiu um ganho de escala com resultados extremamente proveitosos. No dia a dia das empresas, a IA já está automatizando processos, otimizando análises de dados e melhorando a eficiência operacional.

Enxergo que, hoje, somente o profissional que tiver conhecimento e domínio da Inteligência Artificial terá espaço no mercado de trabalho.

Nosso papel, como administradores, é utilizar a IA como uma ferramenta estratégica, nos libertando de tarefas repetitivas para focar em entregas mais criativas e diferenciadas, que geram um impacto direto e significativo nos negócios.

O CRA-MG tem algum plano ou diretriz para preparar os administradores para esse cenário tecnológico, que envolva IA e outras inovações? O que ainda precisa ser feito para que os profissionais estejam prontos para esse novo momento?
Sim, já estamos fazendo isso há alguns anos. A nossa diretriz principal é conscientizar, capacitar e apoiar a classe para que todos dominem a IA e outras inovações. Continuaremos mostrando, com cada vez mais ênfase, que o profissional que dominar a IA em sua essência é o que terá sucesso no mercado, seja em âmbito nacional ou internacional. Para que os profissionais estejam prontos, é fundamental que eles continuem investindo em educação contínua, participando de nossos eventos e cursos, e entendam que a adaptação é a chave para o sucesso neste novo cenário.

Este ano, está sendo celebrado o Jubileu de Diamante da Administração, com 60 anos de regulamentação da profissão no Brasil. Qual é o legado que o senhor acredita que esses 60 anos deixam para Minas Gerais e quais os próximos passos que o CRA-MG pretende dar para os próximos 60?
O maior legado desses 60 anos é a grande conquista da nossa profissão junto à sociedade e nas organizações. Hoje, independentemente do porte, nenhuma empresa - pública ou privada - sobrevive sem a ciência da administração. A profissão trouxe métodos, técnicas e padrões éticos, impulsionando o desenvolvimento econômico e a transformação social. Em Minas Gerais, garantimos a valorização e o respeito necessários para que o administrador gere resultados e ganhos.

Para os próximos 60 anos, nosso compromisso é continuar a liderar a profissão, preparando-a para os desafios do futuro. Nosso foco será a inovação tecnológica, garantindo que o administrador esteja sempre à frente, no centro das decisões estratégicas, moldando o futuro das organizações e da sociedade.

*Estagiária, sob supervisão de Ana Paula Lima

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