Entrevista

‘Uma carreira não é like ou views’, diz Ana Cañas ao celebrar a maturidade feminina com novo álbum

Cantora fala da nova obra, dos desafios enfrentados pelas mulheres no meio artístico, da música brasileira e da relação com Minas

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
07/04/2025 às 07:30.
Atualizado em 07/04/2025 às 07:34

Novo álbum chega após a bem-sucedida turnê “Ana Cañas canta Belchior” (Fernando Furtado/Divulgação)

Novo álbum chega após a bem-sucedida turnê “Ana Cañas canta Belchior” (Fernando Furtado/Divulgação)

A maturidade feminina da cantora Ana Cañas dá o tom do álbum com 11 faixas inéditas que chegou às plataformas digitais na última semana. Aos 44 anos – 21 de carreira –, a artista paulista apresenta o novo trabalho, que representa uma viagem pela sua vida e experiências, começando com a faixa-título “Vida Real”, que retrata a vivência em um pensionato, cercada por desconhecidos. 

O novo álbum chega após a bem-sucedida turnê “Ana Cañas canta Belchior”, com uma série de 180 shows que conquistou público. Nas palavras de Ana, este é um projeto sobre “as infinitas possibilidades da perenidade”. 

Ela ainda destaca que o disco foi “gestado” há muito tempo em seu coração. “É o que melhor me traduz em uma completude de metaversos”, acrescenta a cantora, que hoje tem como empresário o mineiro Fernando Furtado, que durante anos esteve ao lado do Skank.

Ana Cañas bateu um papo com o Hoje em Dia para falar sobre o álbum “Vida Real”, o atual momento da música brasileira, os desafios enfrentados pelas mulheres que se dedicam às artes e o carinho pelo público mineiro. Confira.

Com exceção de “O que eu só vejo em você”, composta por Nando Reis, todas as demais faixas foram compostas por você. Quanto tempo levou e como foi a produção do novo álbum?
Foram 14 meses em estúdio, mas foram anos compondo e escrevendo essas músicas, de 2013 à 2024.

Você estreou no cenário musical em 2007, com o álbum Amor e Caos. O que mudou de lá pra cá?
Ah... mudou muita coisa! Acho que um maior entendimento da própria essência e da responsabilidade em cima do palco. Foram alguns altos e baixos ao longo desses anos mas eles me ensinaram muito sobre onde e como apontar o coração sem medo. De uma certa forma, sou a mesma e não sou! A turnê dos 180 shows do Belchior pelo Brasil me trouxe uma nova perspectiva sobre o perene na arte, a força da palavra e a magia da poesia!

Então o público vai encontrar uma “nova Ana” em Vida Real?
Acho que uma Ana mais consciente e talvez madura, amalgamando as camadas todas. Eu pensei esse disco como um “caleidoscópio”, onde várias pedrinhas coloridas e diferentes se juntam e formam um mosaico bonito de se ver. Agora é torcer pro público também gostar.

A faixa-título “Vida Real” retrata a vivência em um pensionato. Quais as lembranças mais marcantes desta época?
São muitas! Foi um momento difícil na minha vida, de extrema vulnerabilidade financeira e emocional. Nesse pensionato, eu convivia com muitas profissionais do sexo da vida real e elas me ensinaram muitas coisas sobre empatia. Sempre dividiam o prato de comida comigo, falavam sobre suas experiências e sonhos.

Eu dormia num quarto sem janela e os ratos me faziam companhia no forro do teto, de noite. Eu distribuía panfletos nos faróis em São Paulo para sobreviver e foi aí, nesse momento, que me tornei cantora e comecei a cantar nos bares. Então, quando eu olho pra trás, agradeço por tudo que aprendi e, principalmente, pelo ofício descoberto nesse momento e que tanto me emociona e cativa!

Você esteve recentemente em Minas para uma apresentação em Belo Horizonte. O que só o público mineiro tem?
Eu amo Minas Gerais e Belo Horizonte! Eu sempre recebo muito afeto, muito carinho e muita alegria nos shows que faço nessas terras. Estou também trabalhando com um empresário mineiro, o Fernando Furtado, e isso estreitou ainda mais o meu vínculo com a cultura, ô trem bão! Nuh! 

Como você avalia a arte, principalmente a música, no Brasil atualmente? Tem o devido o reconhecimento?
Acho que muita coisa mudou e isso tem sempre o lado positivo e também o negativo. Mas os tempos são os tempos, e cada um traz seus desafios e idiossincrasias também. A internet facilita o acesso e a conexão real com o público, e isso é maravilhoso. Mas tem muito mais gente gravando e lançando música – o que não necessariamente traz uma qualidade maior, mas mais espaço e oportunidades – o que é legal e mais democrático também. Mas o desafio, pra mim, continua sendo o mesmo: uma carreira não é um like ou views... Uma carreira é olho no olho, é no abraço, é nos shows que ela principalmente se sedimenta. 

Há uma dificuldade maior para ocupar espaço na música pelo fato de ser mulher?
Com certeza, a indústria musical ainda é muito masculina. Os cargos altos e posições de poder são, majoritariamente, ocupados por homens. É um reflexo da sociedade como um todo, ainda. Mas vamos em frente, estamos mudando muitas coisas e alterando as estruturas. Como dizia Rita Lee: vai ser aos poucos, mas vai ser!

E o que espera para o futuro?
Show lindos, conexão real, afeto verdadeiro, lágrimas, abraços, uma corrente de amor pulsante que a música proporciona poderosamente em lugares únicos da alma!

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