(Gisele Pimenta)
Executivos da Odebrecht têm percorrido bancos, clientes e parceiros para dar explicações e tentar acalmar os ânimos acirrados pelas acusações de que a empresa está envolvida em esquemas de corrupção. Debaixo do braço, carregam números para demonstrar que o grupo tem caixa para enfrentar a crise que chegou às portas da companhia desde que seu comandante, Marcelo Odebrecht, foi preso na operação “Lava Jato”, no dia 19 de junho.
Em termos financeiros, a fotografia do momento mostra que a empresa de fato tem capacidade para pagar sem grandes dificuldades sua dívida de curto prazo, e os credores parecem relativamente tranquilos. Não vislumbram algum tipo de aceleração dos R$ 88 bilhões em dívidas da empresa. A maior parte vence no longo prazo e o custo é baixo, cerca de 7,5% ao ano, segundo cálculos de analistas. Quase metade do custo dos juros no Brasil hoje. A empreiteira do grupo, entre as dezenas citadas ou investigadas na Lava Jato, é a que está em melhor situação. Das obras que fez para a polêmica Refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, já recebeu todos os aditivos que tinha pleiteado, segundo o diretor financeiro, Marco Rabello. Se quisesse, poderia pagar à vista até mesmo os títulos perpétuos, que não têm vencimento. Sua nota de classificação de risco ainda é de grau de investimento, ou seja, uma das melhores do mercado.
Cenário Mas os desafios e dificuldades estão à espreita de um dos maiores grupos empresariais do País. Alguns negócios passam por dificuldades, mesmo antes da “Lava Jato”, como o setor de açúcar e álcool e a hidrelétrica de Santo Antônio. Os investidores da empresa de óleo e gás não estão tão confiantes na capacidade da companhia de pagar dívidas, e temem rompimento de contratos da Petrobras. No segmento de transportes, alguns empréstimos novos estão travados. O estaleiro está paralisado porque seu cliente, a Sete Brasil, não paga. Além disso, empresários, executivos de bancos, parceiros, ex-funcionários, advogados e agências de classificação de risco já se perguntam como uma companhia tão ligada a governos estará daqui a cinco anos, em função das denúncias de pagamentos de propinas.
As parcerias com o governo estão espalhadas por todo o grupo. No setor petroquímico, é sócia da Petrobras na Braskem. Em óleo e gás, tem contratos estimados em US$ 7 bilhões com a estatal do petróleo (a empresa não revela o valor. O balanço retrata uma dívida de R$ 12 bilhões para as sete sondas que prestam serviço à estatal). No estaleiro, foi contratada para construir outras seis sondas.
Na área de transportes e saneamento, tem no Fundo de Investimentos do FGTS seu principal parceiro. Já o BNDESPar é sócio no setor de transportes e o principal financiador do negócio de açúcar e álcool. O maior investimento em debêntures do BNDESPar está justamente em empresas da Odebrecht, cerca de 12% dos R$ 16 bilhões aplicados nesse tipo de título. Do FI-FGTS, a Odebrecht é a principal aplicação, com 17% de seu patrimônio líquido total. Alberto Toron, advogado do dono da UTC, Ricardo Pessoa, deixa a defesa do delator. Ele diz ser a função incompatível com o cargo de juiz eleitoral que exerce em São Paulo.