Escola estadual no Sul de Minas é destaque no Enem

Igor Patrick
ipsilva@hojeemdia.com.br
11/10/2016 às 13:11.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:11
 (Divulgação)

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Uma escola na pequena cidade de São Sebastião do Paraíso surpreendeu no ranking do Enem divulgado pelo MEC. Atendendo pouco mais de 1200 alunos, a Escola Estadual Benedito Ferreira Calafiori apareceu na 10ª colocação entre as melhores instituições públicas do estado na prova de redação. A “Ditão”, como é chamada pela comunidade, obteve média de 652,52 e é a única do top 10 não-vinculada à universidades federais, ensino técnico ou militar.

A escola é um exemplo de um movimento geral observado em todo o estado. A média na prova de redação dos mineiros subiu de 522,98 para 574,69 pontos. Práticas simples adotadas em sala de aula podem ter contribuído para a melhora. De acordo com o diretor da escola, José Luiz Gomes, a percepção de avanço nas redações tem sido observada na escola ao longo dos anos graças a debates promovidos pelos professores de português.

Entendendo o público, composto segundo o José por “estudantes trabalhadores e filhos de trabalhadores”, a escola incentivou a busca de notícias recentes alinhadas com o cotidiano deles. Discussões foram propostas nas turmas para fundamentar o pensamento de cada candidato. 

“Os professores entendem que aqui não há nenhum aluno rico e alinham com o projeto pedagógico. Eles ensinam sem se preocupar especificamente com o Enem, mas sem perder a prova de vista”, avalia.

Outro aspecto positivo foi a criação de um grêmio estudantil, que convida os colegas a discutir pautas polêmicas.  Parte da gestão, a aluna do 2º ano do ensino médio, Thaís Perdiza acredita que o espaço aberto contribuiu para a ampliação do senso crítico.  “Complementa o que aprendemos em sala”, conta a jovem, que pretende estudar Medicina Veterinária na vizinha Alfenas.

Preparação

Com o Enem cada dia mais consolidado, estudantes têm se preparado mais para o gênero exigido na prova, praticando a modalidade argumentativa dissertativa em sala de aula. A leitura é da professora da UFMG, Regina Dell'Isola. Na opinião da educadora, que coordenou o vestibular da federal por dez anos, os professores e os livros didáticos estão preparados com conteúdo para subsidiar a argumentação dos candidatos.

“Sempre percebia erros comuns à maioria das redações. Posicionamento conflitante, uso de lugar-comum, falta de informação prévia que sustente o texto eram motivos que faziam as notas caírem. Os estudantes têm se mostrado mais maduros, o que ajuda a melhorar a nota”, analisa Regina.

A melhoria no indicador, porém, pode estar vinculada ao tema exigido em 2015: violência contra a mulher. “Feminicídio é algo muito próximo do aluno, que já foi objeto de redações em outros vestibulares. Tudo isso ajuda a ir melhor”, acredita a professora.

Gênero único engessa aluno

O domínio cada vez maior do gênero argumentativo dissertativo deve ser visto com cautela. Isso porque, de acordo com as especialistas, o ensino médio muito focado na preparação para o Enem tem reduzido espaço para outros gêneros narrativos como a narração e a descrição.

“A gente precisa questionar esse modelo que foca na preparação para um único tipo. No vestibular da UFMG, tínhamos essa preocupação de pedir o aluno para redigir uma notícia, um anúncio publicitário. Um aluno hoje pode até tirar nota máxima no Enem, mas isso não significa que ele sabe escrever”, pontua a professora da faculdade de educação da UFMG, Glaucia Muniz Proença.

Glaucia fez parte da comissão que elaborava a redação do vestibular da UFMG. Segundo ela, havia uma preocupação em diversificar a prova, cobrando a produção de uma notícia, carta ou artigo de opinião. “Da forma como está, o aluno pode até tirar uma nota boa na redação do Enem, mas isso de forma alguma significa que ele saiba escrever”.

Buscando evitar o problema, a secretaria de estado de educação orienta os professores a trabalhar todos os gêneros narrativos com os estudantes. De acordo com a superintendente da pasta, Cecília Rezende, a base curricular mineira propõe a abordagem de diferentes gêneros do discurso. “Entendemos que a produção da redação do Enem é consequência de habilidades mais amplas desenvolvidas no percurso do aluno em 12 anos de educação básica”, analisa. 

Ainda de acordo com a superintendente, a secretaria tem trabalhado para aprimorar os professores e envolver a comunidade escolar para tentar diminuir a distância entre as escolas particulares e públicas. “Todas as escola estaduais poderão fazer nas próximas semanas um simulado real do ENEM, onde o tempo e o esforço físico que a prova exige possam ser vivenciados pelos jovens. Também disponibilizamos on-line na plataforma do Programa de Avaliação da Aprendizagem”, informa Cecília.

ALÉM DISSO

Todas as redações do Enem são avaliadas de acordo com cinco normas definidas pelo Inep. As competências são avaliadas de 0 a 200 pontos, totalizando 1000 pontos. São eles: domínio da norma padrão da língua, compreensão da proposta de redação, seleção e organização das informações, demonstração de conhecimento necessário para argumentação do texto e elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados respeitando os direitos humanos. 

Erros com fuga total ao tema, textos menores que sete linhas, desrespeito aos direitos humanos, cópia dos textos de apoio e desenhos são motivos de anulação.

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