(Wesley Rodrigues)
Duas horas e meia na fila pode parecer tempo demais para quem já beira os 80 anos. Para Maurílio Moreira, nascido em Ihaúma, em 1935, foi o suficiente para concretizar um sonho que não foi realizado há 64 anos. Adolescente na Belo Horizonte de 1950, quando a cidade recebeu pela primeira vez jogos da Copa do Mundo, ele não teve condições de acompanhar as partidas disputadas no Gigante do Horto.
“Comecei a trabalhar com 9 anos, com carro de boi. Depois vim para Belo Horizonte e em 1950 já batalhava na indústria farmacêutica. Me lembro dos jogos e da repercussão da vitória dos Estados Unidos sobre a Inglaterra. Mas não tinha dinheiro para comprar os ingressos”, revela Maurílio.
Pouco depois das 11h, já com as duas entradas para o treino aberto que a seleção argentina vai fazer nesta quarta-feira (11), às 18h, na arena, ele desceu a rua Pitangui. Passou pela calçada com uma fila gigantesca, que por pouco não deu a volta completa no Independência. Ele levava nas mãos os objetos mais desejados do 10 de junho em Belo Horizonte: os ingressos que permitirão ver de perto, mesmo que numa atividade leve, o craque Messi, uma das estrelas do Mundial de 2014.
A impressão para quem passava pelo Horto é a de que seria disputado no estádio, na manhã da última terça-feira (10), um jogo de casa cheia. Eram milhares de pessoas numa fila que, por pouco, não deu a volta no quarteirão.
O tão falado “padrão Fifa” passou longe do Horto. Informações não existiam sobre a quantidade de ingressos, que inicialmente seriam 4 mil, com cada pessoa podendo retirar dois.
Por volta do meio-dia, a informação de que as entradas tinham acabado foi uma ducha de água fria nas milhares de pessoas que ainda formavam uma longa aglomeração.
O boato de que mais entradas seriam disponibilizadas chegou a provocar correria e tumulto na tentativa de se garantir lugar numa outra fila.
A informação não era verdadeira. As últimas entradas tinham sido as retiradas por Maurício Rungui, de 64 anos, oficial da reserva da Polícia Militar.
Apesar de ter chegado ao Independência às 11h30, ele entrou na fila preferencial. E garantiu o direito de ver treinar uma equipe que pode ter a sua torcida na Copa.
Atleticano, Maurício rompeu com a Seleção há mais de quatro décadas. “O Dario foi convocado em 1970, mas não jogou. Se tivesse jogado, seria o artilheiro da Copa. Desde então, torço contra o Brasil. Pode ser qualquer adversário”, afirmou o aposentado, que vestia uma camisa da Argentina. Um ano depois, Dario fez o gol do título do Galo no Campeonato Brasileiro.