Conta.MOBI oferece alternativas digitais a clientes sem bancos

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
06/10/2017 às 22:37.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:07
 (LUCAS PRATES)

(LUCAS PRATES)

Ele está à frente do aplicativo que promete revolucionar o mercado de pagamento digital no país. Com espírito inovador e profundo conhecimento da legislação do setor de tecnologia, o advogado Ricardo Capucio deixou o direito de lado e entrou de cabeça em um projeto desenvolvido com ajuda da universidade de Stanford, na Califórnia. Em 2015, nascia o conta.MOBI.

Hoje, o aplicativo está mais robusto. Além de permitir que vendas sejam realizadas pelo cartão de crédito e débito mesmo para quem não tem a maquininha ou, sequer, conta no banco, é possível emitir boleto e fazer transações pelos Correios. Até o janeiro do ano que vem, a previsão é a de que todas as agências do país ofereçam o serviço, atingindo 1 milhão de clientes. O CEO da startup conta.MOBI é o entrevistado do Página 2 desta semana.

Como nasceu a empresa?
Sou advogado de direito de tecnologia. Em 2013, nós tínhamos um cliente da área de telecom que tinha um projeto grande na área de novas formas de pagamento. Mas não tinha legislação na época, e isso era um grande problema. Começamos a acompanhar a elaboração da nova lei das formas de pagamento no Brasil. Eu participei dos grupos de discussão, até que ela foi publicada em 2013. Foi um marco do setor de pagamento do Brasil. Como novidade, a legislação trouxe a conta de pagamento, a possibilidade de o celular ser uma conta de pagamento. Naquela época, fui convidado por alguns empreendedores, entre eles meu atual sócio, que também se chama Ricardo, para criar uma instituição de pagamento voltada para as Micro e Pequenas Empresas. Ele matriculou o projeto em um curso na universidade de Stanford e passamos. Foi a coisa mais bacana que nos aconteceu. A empresa deu certo.

Qual foi o pulo do gato?
Percebemos que tínhamos à nossa frente 7,5 milhões de microempreendedores individuais, que transacionam R$ 350 bilhões, e são excluídos. A maioria, não têm um sistema para receber eletronicamente.
E os bancos tradicionais não queriam os MEI como clientes. Durante uma reunião, por exemplo, o gerente de um banco chegou a falar comigo que quando os microempreendedores individuais chegavam para abrir uma conta tradicional, ele pedia muitos documentos, mesmo que desnecessários. A intenção era fazer com que o empreendedor desistisse de abrir a conta. Não vale a pena para eles, se levado em consideração o trabalho que dá. <EM>

E ali vocês viram uma grande oportunidade?
Sim. O microempreendedor individual precisa de uma conta de pagamento digital, integrada a meios de recebimento. Eles conseguem vender, mas não conseguem receber. Daí, criamos uma conta digital que pode ser aberta em cinco minutos pelo celular ou computador, gratuitamente. E automaticamente ele está incluído no sistema financeiro.

E como a empresa deslanchou? Houve investimento externo?
Logo após o curso de Stanford, tivemos uma reunião com a vice-presidente de cartões pré-pagos da América Latina da Visa, em Miami. Lá, a empresa nos acolheu no arranjo de pagamento deles e um fundo decidiu nos aportar. Aí voltamos e abrimos a empresa.

O que é possível fazer com o conta.MOBI?
Em cinco minutos o dono da conta já tem poderosíssimos sistemas de recebimento para transformar a vida. Quando abre a conta, por exemplo, você consegue emitir boleto para o cliente pagar e consegue receber cartão de crédito e débito sem comprar a maquininha, por exemplo. Basta mandar o link de pagamento para o cliente. Ele digita os dados do cartão e o dono da conta recebe. Também oferecemos um cartão de débito em que a pessoa pode movimentar a conta. Com ele, a pessoa pode sacar nos bancos 24 horas, por exemplo. O cartão tem a bandeira Visa e é aceito em todo lugar. Há, ainda, a possibilidade de o dono da conta receber dinheiro pelos Correios. Essa foi a grande novidade lançada na semana passada.

Como funciona?
Basicamente, funciona da seguinte maneira: qualquer pessoa consegue depositar e sacar em qualquer agência dos Correios utilizando o CPF, apenas. Nenhum dos dois precisa ter conta no banco.

É seguro?
No depósito não tem problema, não há possibilidade de fraude. O problema é no saque. Para isso, criamos um sistema com duplo grau de segurança. Para sacar, precisa ter o conta.MOBI. No aplicativo, ele diz quanto quer retirar. O sistema gera um código criptografado. De posse desse código, chamado de cupom de saque, ele vai à agência e apresenta o CPF, que é a segunda garantia de segurança.

E quanto o usuário paga por isso?
R$ 5,99 para cada depósito e R$ 5,99 para cada saque. Mas esse valor deve cair para R$ 3. Transações para outras contas do conta.MOBI não são tarifadas. Além disso, vendemos uma maquininha que aceita todos os cartões de crédito e débito. Ela custa R$ 199. Até janeiro, nossa intenção é a de que todos os Correios do país estejam aptos a receber depósitos via conta.MOBI. É a primeira startup do país integrada aos Correios

O que os Correios ganham com a parceria?
Temos mais de 30 mil clientes no país e começamos a ter problema com relação ao saque. Nem todo município tem agência bancária. Precisávamos de um grande parceiro. Fomos atrás dos Correios e eles acreditaram no projeto. Nosso público é muito próximo do deles. Nós repassamos a tarifa para eles. Nós ganhamos porque participamos do arranjo de pagamento da Visa.

E onde fica o dinheiro que é depositado?
Na Visa.

A Receita Federal estuda cobrar Imposto de Renda de investidor anjo. O que você acha disso?
O governo está na contramão do que proporciona crescimento econômico. No momento que você tributa investidor anjo, ou seed, que fomenta novas empresas, você mata na fonte a geração de economia e riqueza no país. Isso atrapalha de uma maneira geral o ecossistema de startups do país. Especificamente no caso da conta.MOBI não há interferência direta, porque já passamos dessa fase. Mas somos uma empresa engajada e somos contra qualquer tributação. Nos outros países há subsídio para quem quer investir em empresa nascente. Aqui deveria ser assim também.

"Percebemos que tínhamos à nossa frente 7,5 milhões de microempreendedores individuais,que transacionam R$ 350 bilhões, e são excluídos"
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