(Wesley Rodrigues)
Até o próximo dia 23, o Parque de Exposições da Gameleira é a sede da 35ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador.
No total, onze dias de provas de morfologia e marcha que reúnem 1,8 mil cavalos, minifazenda para as crianças, confraternizações, estandes de moda, gastronomia, venda e leilões de animais e embriões, que somam mais de R$ 25 milhões. Tudo isso, regado a muito conforto e sofisticação.
Comandada por Daniel Borja, que está no setor há 25 anos, a nova diretoria da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) resolveu dar um toque de glamour à exposição agropecuária. E a aposta foi certeira.
O maior encontro da América Latina da raça tem enchido os olhos de quem passa pelo local... e o bolso de quem quer fazer negócio. Ele é o entrevistado do Página 2 desta semana.
Confira a entrevista completa:
A exposição deste ano está mais sofisticada. É um novo padrão?
Se depender de nós, é sim. A exposição nacional é a “Copa do Mundo” do mangalarga marchador. E o Parque de Exposições da Gameleira é o Maracanã.
Queremos dar mais conforto aos associados. Por isso, trouxemos parceiros de muita qualidade para alimentação e atendimento.
Há, ainda, as inovações como a butique. Inovamos na produção de artigos voltados para a moda jeans, artigos para crianças e jovens, parcerias com novas empresas. Temos até cerveja com rótulo mangalarga marchador. É um evento para famílias e criadores.
Como se torna um criador da raça?
É necessário participar de leilões, visitar haras. O grande diferencial do mangalarga marchador é que trata-se de uma família. Para comprar um cavalo você tem que visitar várias pessoas.
Boas assessorias também são importantes. Hoje, existem profissionais que vivem do segmento equino. Essas assessorias ajudam os criadores a escolher animais que farão bons acasalamentos, dentre outras coisas.
Quanto tempo demora até o cavalo de um criador ser valorizado?
Depende do quanto ele vai investir. Tem gente que começou ano passado e já é campeão nacional, mas investiu R$ 5 milhões, R$ 6 milhões, R$ 10 milhões.
Mas também tem os criadores pequenos que se destacaram rápido no cenário porque compraram o embrião certo.
Como assim?
Vamos supor que eu compro um embrião e você compra outro embrião, ambos do mesmo cavalo. O meu pode ser muito ruim e o seu muito bom. Tem criador muito pequeno que é campeão porque deu sorte com um potro extraordinário.
Quanto custa manter um cavalo mangalarga marchador?
Cerca de R$ 1 mil por mês quando você tem apenas um cavalo. Nesse valor, entra manejo, mão de obra, alimentação, centro de treinamento para o cavalo ficar.
Como se dá essa valorização?
Por causa do embrião. O cavalo se torna um reprodutor e cada embrião pode ser comercializado a preços mais altos. Os cavalos premiados têm valorização imediata. Alguns cavalos aqui ganharam provas e o valor deles passou de mil para milhão em minutos.
A genética é um mercado paralelo?
Sim. Nós pensamos na genética do cavalo como se fosse genética do ser humano. Se você pegar um homem e mulher bonita, a possibilidade de nascer um filho bonito é muito grande. E a possibilidade de ele ganhar um prêmio de morfologia é grande.
O mesmo vale para a marcha. Se a marcha dos pais é boa, a possibilidade de os filhos nascerem semelhantes é grande. O importante é juntar as duas coisas, somar qualidades. Não adianta uma égua linda, se ela é ruim de montar. E vice-versa. A genética permite chegar a um resultado digno de prêmios.
O que vale mais, a morfologia ou a marcha?
A marcha. Definitivamente, a marcha. É o que define a raça. Quanto mais macio, mais valioso o cavalo. O cavalo mangalarga marchador tem esse nome porque você quase não sente o tranco do cavalo.
Você pode montar pela manhã e não sentir incômodo nenhum à noite. Você fica sempre tranquilo. Por isso, é a raça que mais cresce no Brasil.
Como é a alimentação do animal?
O animal pronto para a pista de competição precisa de uma alimentação especial, com proteínas e vitaminas. É um jogador como o Neymar.
Tem uma série de profissionais especializados que cuidam dele, como fisioterapeuta e técnico. Gera uma cadeia de empregos.
Quantos postos de trabalho o setor gera?
Mais de 100 mil de empregos diretos e indiretos. Do peão ao médico veterinário.
Qual o salário de um peão, em média?
De 3 mil a 10 mil reais.
A crise afetou o setor?
Nem o setor, nem os empregos. É um mercado muito aquecido, especializado e com carência de mão de obra.
Como você se tornou presidente?
Sou criador da raça há 25 anos. Tenho um haras em Arcos, com 260 cavalos. Aos poucos, fui crescendo o criatório, fazendo amizades.
Esta foi a primeira vez em 66 anos de associação que houve uma eleição com candidato único. Assumimos em 5 de janeiro deste ano. Toda a associação está unida. Todos em busca de um único rumo, a melhoria do segmento.
Qual o tamanho do plantel nacional?
Atualmente, são mais de 600 mil cavalos da raça no Brasil.
E em Minas Gerais?
O Estado, que deu origem à raça, tem mais da metade dos animais.
Quantos associados têm a ABCCMM?
Hoje somos cerca de 12 mil, mas este número aumenta todos os dias. Nossa intenção era ampliar em 900 o número de sócios por ano. Porém, somente até junho já alcançamos esta marca.
Há algum programa para ampliar ainda mais esse número?
Temos o projeto Avante Marchador. Por meio dele, divulgamos a raça pelo Brasil. Escolhemos cinco cidades para começar: Cuiabá, no Mato Grosso, Itumbiara, em Goiás, Paragominas, no Pará, e Imperatriz, no Maranhão.
Fazemos pequenas exposições, leilões e ações de mídia para reforçar a importância da raça no país. São regiões de alta potencial do agronegócio.
O que é o programa marchadores pela vida?
É um projeto que a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador lançou para ajudar sete instituições de câncer infantil. Arrecadamos vendas de animais, doações de coberturas.
Todo o dinheiro arrecadado no leilão que será realizado no dia 19 será doado para o projeto. Esperamos arrecadar R$ 1,5 milhão neste certame.