Convencer os empresários da moda mineira de que a união deles é necessária para conquistar mais espaço no mercado é a principal meta de Ana Elisa Dzenk, recém-empossada presidente da Associação Mineira das Empresas de Moda (Amem).
A diretora da grife do estilista e irmão Victor Dzenk, que ocupa o cargo na instituição pelo biênio 2017-2018, pretende, ao fim do período, ter dobrado o número de associados. Hoje, 64 marcas fazem parte do grupo, muitas delas expuseram os trabalhos no Salão de Negócios do Minas Trend, semana de moda mineira que aconteceu entre 4 e 7 de abril e atraiu compradores nacionais e internacionais.
Em entrevista ao Hoje em Dia, Ana Elisa Dzenk destaca o poder da moda em Minas e o potencial que as confecções têm para conquistar o mundo.
O objetivo da nova diretoria da Amem, encabeçada por você, é bem audacioso: dobrar o número de associados em dois anos. Quais estratégias estão traçadas para alcançar a meta?
Primeiramente, precisamos convencer os empresários da necessidade de união. E essa não é uma meta fácil. Todo mundo está tão envolvido com os próprios negócios e problemas que parar para sentar, conversar, trocar ideias, às vezes, é muito difícil.
A Amem existe há sete anos e, desde que nós, fundadores, iniciamos o projeto, ouvimos os empresários dizerem: “Isso já aconteceu, há 20 anos, com o Grupo Mineiro de Moda (associação de estilistas criada em 1980) e não deu em nada, é uma bobagem”.
Então, há um histórico de resistência?
Sim. Queremos mostrar a eles que, sem união, a gente também não vai a lugar algum. No entanto, antes de mostrar isso, o próprio empresário tem que se engajar na causa. Então, a Associação vem hoje trabalhando para trazer um resultado para que as empresas acreditem na instituição.
A partir desse acreditar, ele vai falar: “Nossa, realmente, eu tenho resultado, estou vendo que alguma coisa aconteceu depois que a gente se uniu”. E a gente vem fazendo várias coisas devagarzinho.
E como mostrar aos empresários esses resultados palpáveis?
As ações mercadológicas, por exemplo, nas quais o empresário sente que as vendas melhoraram ou que o fluxo de clientes aumentou, fazem com que ele perceba um retorno rápido.
À medida em que provamos para ele que se todos estivermos unidos, vamos conseguir um retorno efetivo, assim conseguimos a união. Aí da próxima vez, ele dirá: “Eu tenho que participar, que estar junto”. Isso porque ele viu o resultado.
Antes de ver um retorno positivo, sempre vai falar: “Isso é só uma filosofia, não vai dar em nada”. Então a gente está tentando, antes de qualquer ação interna, fazer uma ação externa com o mercado para que o empresário perceba que fazemos alguma diferença.
A Amem se propõe a ser uma interlocutora das empresas de moda mineiras?
Não posso dizer que é bem uma interlocução, é uma defesa dos próprios interesses. Claro, que cada um dentro da própria empresa, mas, em algum momento, nossos interesses são comuns.
Para que a gente seja ouvido, que chegue com uma proposta consistente para uma instituição grande como a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), por exemplo, precisamos falar em nome de um grupo maior.
Se a gente pensar BH hoje, com mais de 330 confecções, entre fábricas de roupas pequenas, médias e grandes, temos poucos associados. Mas, se ao fim deste biênio tivermos 120 filiados, estamos falando de 40% deste total. Então, podemos levar um projeto consistente para estas instituições a fim de fomentar nossos negócios, estaríamos falando em uma quase maioria.
Qual o principal desafio para que a moda mineira cresça mais do que já cresceu até aqui?
Os desafios são tantos... O mercado está complexo, a competitividade muito grande, temos concorrentes em outros estados brasileiros, como Rio de Janeiro e São Paulo, e no mundo em geral.
Precisamos melhorar em competitividade. A gente tem que estar não só no design, no glamour, já consolidados em Minas, vindos de outras gerações. O Grupo Mineiro de Moda trabalhou isso muito bem, deixou um legado importante para nós.
Você diria que esse design é o grande diferencial da moda mineira?
Sim. A nossa moda é reconhecida internacionalmente pelo design, por esse glamour, pelo feito à mão, pelos bordados... São qualidades inquestionáveis. O que temos a questionar é como fazer com que essa nossa moda chegue em um volume maior, com uma distribuição melhor, para aumentar nossa competitividade com grandes pólos, como São Paulo. Que a gente chegue para o cliente falando de igual para igual.
Em Santa Catarina, por exemplo, há indústrias que empregam 5 mil, 8 mil pessoas, mas não têm o mesmo diferencial que os mineiros. Priorizaram um modelo tecnológico, de produção em série. Eles têm expertise fabril, mas agora já sentem a necessidade de agregar mais ao modelo de negócio. Temos um grande intercâmbio de ideias e experiências com os empresários de lá.
Precisamos, então, aperfeiçoar nosso parque fabril?
Nós já temos fábricas com qualidade e capacidade, mas temos que fazer com que maior número de confecções tenham onde escoar a mercadoria. Não adianta ter todo mundo produzindo se não tem para quem vender.
É preciso trabalhar para que o cliente nos veja, para que tenhamos um fluxo maior de clientes em Belo Horizonte. Mostrar que aqui ele vai encontrar coisa boa, de qualidade, com design, que somos um pólo. Entregar tudo o que ele quer em um lugar só.
Quanto mais clientes circulando aqui, mais vamos fomentar a nossa indústria, alimentá-la. É uma roda que, quanto mais redonda estiver, mais bonita vai ficar, mais rápido vai girar e maior ficará.
O “see now, buy now” (veja agora, compre agora, na tradução livre) é uma realidade em expansão no mundo da moda (a ideia é que coleções sejam lançadas na própria estação em que serão consumidas). Você acha que no Minas Trend, que é um evento focado em mostrar tendências, existe uma resistência em aderir à corrente?
O evento que surgiu como Minas Trend Preview (MTP) tinha o objetivo de mostrar tendências dois meses antes de todas as outras semanas de moda: São Paulo, Paris, Milão, etc. E acho que foi onde acertou e por isso cresceu tanto. E a tendência, como a própria palavra diz, não é algo imediato.
Se a gente está lançando uma coisa futura, é impossível aquilo ser “see now, buy now”. Essa é a ideia, é o que o Minas Trend vem fazendo desde o início.
Mas essa inclinação para o novo modelo é do mundo, que está em mudança constante em função da velocidade das redes sociais. Por incrível que pareça, quando o MTP foi criado, há uma década, houve resistência do mercado. Os empresários achavam que não iam dar conta e nós conseguimos.
O que era realmente só um preview, uma pequena arara de roupas, hoje virou uma coleção inteira. Eu vejo isso como uma evolução. Hoje, nesta data, a gente já lança a coleção principal, completa.
E qual a próxima etapa da evolução?
A próxima etapa será definir qual vai ser o prazo mais justo possível que essa tendência vai estar nas lojas. Não é uma coisa fácil, os empresários têm de se adaptar.
Não somos só nós, há os fornecedores de tecidos, que também têm que entregar pedidos feitos hoje com pelo menos seis meses de antecedência. É toda uma engrenagem que tem que mudar.
Agora, se o Minas Trend passar a ter um outro formato de comercialização, seguindo o que já se faz no mundo, nós vamos ter de nos adaptar. Se vai ser na próxima edição, é difícil dizer.
O mercado está mudando e quem vai despertar essa mudança somos nós das associações. Acredito que a Amem vai fazer esse papel, de ter uma opinião dentro de grandes instituições, como a Fiemg e o Sindicato do Vestuário (Sindivest-MG).
Vamos levantar uma bandeira, ver quais são as necessidades da maioria. Não tenho esperança de que vamos mudar o mundo. Pretendemos fazer pequenas ações que, no final, tenho certeza de que, ao olhar para trás, veremos que fizemos muito, que evoluímos.