(PBH/Divulgação)
Especialistas defendem prevenção à aids com métodos combinados A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Vera Paiva, que participou do evento, lembrou que os jovens, independentemente de religião, iniciam a vida sexual aos 14 anos e precisam de informação antes disso. De 2006 a 2016, a prevalência da infecção aumentou 140%, entre jovens do sexomasculino, com idades entre 18 e 25 anos. No caso das meninas, a prevalência é menor, mas preocupa o crescimento da taxa entre as mais jovens, na faixa de 15 a 19 anos.
Além da camisinha, os especialistas defendem a ampliação da disponibilização da PrEP, que será distribuída pelo governo a grupos específicos a partir da semana que vem.
Apesar de a iniciativa ter sido comemorada, pesquisadores alertaram que a forma de distribuição das pílulas poderá significar uma mudança na política de combate à aids, pois não bastará qualquer pessoa ir ao posto de saúde e solicitar o tratamento pré-exposição.
“Tenho pensado qual a primeira política de HIV e aids no Brasil que não tenha sido universal, nesses anos todos”, questionou o sociólogo Alexandre Grangeiro, que já foi diretor do Programa Nacional de DST/Aids. “Talvez, a PrEP seja a primeira delas”, disse.Segundo Grangeiro, que atualmente é pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da USP, a maior parte da população brasileira faz “sexo na pele”, ou seja, sem preservativo. “Estamos voltando ao sexo na pele, se é o sexo na pele que a população quer, qualquer método de prevenção existente, que afirme essa possibilidade fazer o sexo na pele, é um método bem-vindo”, defendeu.
A partir da semana que vem, o Ministério da Saúde distribuirá 3,6 milhões de PrEP, durante um ano, de maneira gradativa e gratuita, em serviços de saúde de 22 municípios. As pílulas só serão distribuídas a grupos considerados chaves, como homens que fazem sexo com homens, gays, pessoas trans, profissionais do sexo e casais sorodiscordantes. O uso das pílulas será sob acompanhamento.
Para o advogado da Abia, Oséias Cerqueira, com a escolha de grupos específicos, a distribuição da PrEP poderá deixar de fora outros grupos que também necessitam desse tipo de método preventivo, como jovens negros. O percentual de abandono do tratamento, por exemplo, é maior entre jovens negros (11%) que brancos (8%).
O uso consciente de métodos combinados adequados à maneira como cada um quer desfrutar suas relações é fundamental, reforçou o psicólogo Thiago Pinheiros, também da USP. Para ele, nas campanhas de prevenção, a camisinha é apresentada como “um método asséptico” e nem sempre é funcional. E as campanhas precisam ser mais erotizadas.
Ao divulgar os números da aids na última sexta-feira (1º), Dia Mundial de Luta contra a Aids, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, explicou que PrEP é um medicamento específico, de uso contínuo e diário, que só pode ser tomado após a pessoa ter feito o teste de HIV e com acompanhamento. “Por isso não, em hipótese alguma, podemos esquecer da camisinha”, frisou, em nota divulgada no site da pasta.
Os números de diagnóstico e de tratamento de pessoas vivendo com HIV/aids melhoraram no Brasil, nos últimos anos, embora a doença esteja avançando entre a população mais jovem. Os dados ainda apontam que 830 mil pessoas convivem com o HIV, sendo que 112 mil não sabem que estão infectadas, portanto, sem tratamento.
Racismo
O advogado Oséias Cerqueira, da Abia acrescentou que o contexto da desigualdade no país e a chamada vulnerabilidade estrutural é determinante para maior ou menor exposição ao HIV. “A aids também é uma forma de extermínio da população negra no mundo”, frisou. Além disso, avalia que os tratamentos não são iguais para toda população.
“Estamos vendo que está morrendo no mundo, quem não tem acesso ou não a medicamentos”, criticou, em relação aos negros no Brasil e á África Subsaariana, a região mais atingida pela epidemia, no mundo. Para ele, por ter mais recursos e poder na sociedade, a população branca acaba sendo beneficiada. “A saúde é mercadoria [para quem pode pagar]”.
Representante do Ministério da Saúde, Paula Adamy, reconheceu o racismo estruturante na sociedade, que dificulta o acesso a serviços e nas próprias instituições de saúde. “Sabemos que não é a cor que vulnerabiliza, mas o racismo institucional. Isso cria barreiras de acesso, ponto que precisamos trabalhar, de maneira que não inviabilize o cuidado”, afirmou.