(Divulgação)
Era de se esperar uma espécie de massacre na esteira do aguardado lançamento nos cinemas, ano passado, do longa-metragem “Chatô – O Rei do Brasil” – agora, uma das novidades disponíveis no serviço de streaming Netflix.
Pelo menos, a iniciativa – com Marco Ricca e Paulo Betti no elenco – tinha todos os ingredientes para virar alvo da metralhadora impiedosa de alguns analistas. Como todas os que acompanham o mundo do cinema sabem, a produção foi “pra” lá de tumultuada, fazendo com que fossem necessários 20 anos para “Chatô” chegar aos cinemas. Não bastasse, havia por trás um galã – Guilherme Fontes – que resolveu se arriscar a ser diretor de cinema com um projeto ambicioso, e muita suspeita sobre os recursos captados por ele.
É até possível fazer um paralelo entre o diretor de “Chatô” e Anselmo Duarte, um ex-astro da Vera Cruz que, no auge da carreira, também passou para trás das câmeras com um longa-metragem sobre os bastidores da televisão, em “Absolutamente Certo!” (1957). Curiosamente, nos agradecimentos deste filme aparece o nome da TV Tupi, emissora criada justamente por Assis Chateaubriand, protagonista de “Chatô”.
SABOR DIFERENTE
Os dois, que reclamaram bastante da perseguição que sofreram (no caso de Anselmo, pelos colegas do Cinema Novo, após ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, por “O Pagador de Promessas”), mostram o meio televisivo de maneira cômica e muito crítica, além de fazerem um documento do país em sua época. Em “Absolutamente Certo!”, vemos a influência do rock’n’roll e um olhar atento para o comportamento jovem.
Com “Chatô”, Fontes fez uma antevisão. O que poderia ter soado brejeiro há 20 anos, ganha sabor diferente nesse momento de rediscussão de valores, com a “carnavalização” usada na narrativa servindo de munição para um país em que, muitas vezes, o retrocesso e o crescimento, em seus mais variados setores, se alternam de maneira burlesca. Nada mais representativo do que Chatô aparecer de jagunço num programa de TV que pretende julgá-lo.