(Centro Atleticano de Memória)
Depois de 14 anos da primeira final de um Campeonato Mineiro entre os dois maiores rivais do Estado, Atlético e Cruzeiro, que já tinha deixado o nome de Palestra Itália há mais de uma década, voltaram a se enfrentar na decisão de 1954, que foi disputada no ano seguinte. E foi, sem dúvida, a mais confusa de toda a história da competição, que teve a sua primeira edição em 1915.
O Estadual de 1954 teve três turnos, e o vencedor de cada um deles garantia 10 pontos na final, que foi disputada numa melhor de 25. O Cruzeiro venceu dois turnos, somando 20 pontos. O Atlético, um, ficando com 10. Na decisão, cada vitória valia 5 pontos e o empate, 2,5 para cada.
Assim, os cruzeirenses estavam a uma vitória do título, mas quem brilhou na decisão do Campeonato Mineiro de 1954 e garantiu a taça para o Atlético foi o folclórico atacante Ubaldo Miranda.
A grande novidade na decisão do Estadual de 1954 foi a utilização do Estádio Independência, que tinha sido inaugurado para receber os jogos da Copa do Mundo de 1950, que o Brasil sediou e teve três partidas disputadas em Belo Horizonte.
Na longa e confusa decisão do Campeonato Mineiro de 1954, foi o Atlético que se deu bem na melhor de 25 pontos. Na primeira partida da final, que só ocorreu no ano seguinte, o Galo venceu por 2 a 0. Depois se igualou ao Cruzeiro, com os mesmos 20 pontos, fazendo 3 a 0 no segundo duelo, com dois gols de Ubaldo. Quem vencesse o terceiro confronto somaria cinco pontos e levantaria o caneco. No entanto, o empate de 1 a 1 deixou cada equipe com 22,5.
O quarto jogo foi marcado para 1º de maio de 1955. Em caso de placar novamente igual, haveria prorrogação. Se a igualdade persistisse, as duas equipes seriam declaradas campeãs. O regulamento não previa critério de desempate.
Um fato curioso ocorreu antes do quarto confronto. O Cruzeiro ficou sem goleiro para o jogo. O titular Chico foi julgado durante a semana e suspenso pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), por causa de um clássico do primeiro turno, em que foi expulso por fazer gestos obscenos para a torcida atleticana. O time pediu "sursis" para o atleta. Como ele era reincidente, o TJD não concedeu. Além disso, a equipe cruzeirense não tinha goleiro reserva - havia dispensado Crush, fruto da desorganização do clube. O jeito foi improvisar, às pressas, o veterano Geraldo II, que encerrara a carreira há dois anos e atuava como auxiliar técnico no clube.
O Atlético abriu o placar da partida decisiva aos 16 minutos do primeiro tempo, com Ubaldo, e garantiu o título com o gol de Joel, aos 43 da segunda etapa. Foi o primeiro tricampeonato da história do clube. Do início do Campeonato da Cidade, em 1915, até meados da década de 50, América, Cruzeiro e Villa Nova já haviam conquistado três títulos consecutivos. O Galo era a única equipe entre as grandes que ainda corria atrás de um tri. Título que lhe havia escapado por seis vezes, em 1928, 1933, 1940, 1943, 1948 e 1951. Em três delas - 1928, 1940 e 1943 - por culpa do Cruzeiro. Por isso, a decisão de 1954 é inesquecível para os alvinegros.
AS FICHAS DOS JOGOS DECISIVOS
CRUZEIRO 0 X 2 ATLÉTICO
CRUZEIRO: Chico, Avelino, Bené, Adelino, Lazzarotti, Paulo Florêncio, Raimundinho, Guerino, Genuíno, Marambaia e Sabú. Técnico: Niginho
ATLÉTICO: Sinval; Afonso, Osvaldo, Geraldino, Zé do Monte, Haroldo, Tomazinho, Ubaldo Miranda, Joel, Gastão e Amorim. Técnico: Ricardo Diez
DATA: 17 de abril de 1955
LOCAL: Independência
GOLS: Joel, aos 23 minutos do primeiro tempo; e Gastão (sem registro do tempo de jogo)
ARBITRAGEM: Carlos Monteiro (RJ), auxiliado por Geraldo Toledo (MG) e Francisco Graça Filho (MG)
RENDA: Cr$ 328.230
ATLÉTICO 3 X 0 CRUZEIRO
ATLÉTICO: Sinval; Afonso, Osvaldo, Geraldino, Zé do Monte, Haroldo, Murilo, Tomazinho, Ubaldo Miranda, Joel e Amorim. Técnico: Ricardo Diez
CRUZEIRO: Chico; Avelino, Tião, Adelino, Lazzarotti, Dirceu, Raimundinho, Guerino, Genuíno, Paulo Florêncio e Sabú. Técnico: Niginho
DATA: 21 de abril de 1955
LOCAL: Independência
GOLS: Ubaldo Miranda, aos 3, e Joel, aos 39 minutos do primeiro tempo; Ubaldo Miranda, aos 39 minutos do segundo tempo
ARBITRAGEM: Alberto Malcher (RJ), auxiliado por Pedro Morais Sobrinho e Geraldo Toledo
PÚBLICO: 11.159 pagantes
RENDA: Cr$ 310.035
CRUEZEIRO 1 X 1 ATLÉTICO
CRUZEIRO: Chico; Avelino, Bené, Adelino, Lazzarotti, Pampolini, Raimundinho, Guerino, Genuíno, Paulo Florêncio e Sabú. Técnico: Niginho
ATLÉTICO: Sinval, Afonso, Osvaldo, Geraldino, Zé do Monte, Haroldo, Ubaldo Miranda, Tomazinho, Joel, Gastão, Amorim. Técnico: Ricardo Diez
DATA: 24 de abril de 1955
LOCAL: Independência
GOLS: Ubaldo Miranda, aos 20, e Raimundinho, aos 38 minutos do segundo tempo
ARBITRAGEM: Antônio Viug, auxiliado por Serafim Moreno e Luiz Teixeira, todos do Rio de Janeiro
PÚBLICO: 19.061
RENDA: Cr$ 325.970,00
ATLÉTICO 2 X CRUZEIRO
ATLÉTICO: Sinval, Afonso, Osvaldo, Geraldino, Zé do Monte, Haroldo, Ubaldo Miranda, Tomazinho, Joel, Gastão e Amorim. Técnico: Ricardo Diez
CRUZEIRO: Geraldo II, Avelino, Pampolini, Adelino, Lazzarotti, Dirceu, Raimundinho, Guerino, Genuíno, Paulo Florêncio e Sabú. Técnico: Niginho
DATA: 1º de maio de 1955
LOCAL: Independência
GOLS: Ubaldo Miranda, aos 16 minutos do primeiro tempo; Joel, aos 43 minutos do segundo tempo
ARBITRAGEM: Mário Vianna (RJ)
RENDA: Cr$ 517.245,00