(Bruno Cantini)
O Campeonato Brasileiro chega nesta quarta-feira (12) à penúltima rodada do primeiro turno com um equilíbrio raro na luta pelas primeiras posições na era dos pontos corridos com 20 equipes participantes e, em contrapartida, um abismo inédito entre o pelotão da frente e o que luta contra o rebaixamento.
A distância entre o líder Atlético e o Sport, quinto colocado e primeiro time fora da faixa de classificação para a Copa Libertadores, é de seis pontos (36 a 30). Desde 2006, quando o campeonato passou a ser disputado por 20 clubes, em apenas uma temporada a diferença foi menor depois de 17 rodadas. Em 2013, a essa altura o Cruzeiro liderava com 34 pontos e o Corinthians era o quinto colocado, com 29.
Houve ano em que essa distância chegou a 12 pontos. Isso ocorreu em 2012, quando o Atlético chegou aos 42 pontos e o Internacional tinha 30. Em 2007, o São Paulo somou 34 pontos em 17 rodadas e o Goiás, 26.
Diante do equilíbrio, o técnico corintiano Tite prevê que a definição das equipes que brigarão pelo título ficará para as rodadas finais. Sua equipe está invicta há nove rodadas, mas mesmo ainda não conseguiu tomar a liderança do Atlético.
Para o treinador, o que pode fazer a diferença ao longo da competição é o Corinthians conseguir repetir fora de casa o desempenho que possui como mandante. No estádio Itaquerão, na capital paulista, são até agora seis vitórias e apenas uma derrota.
O equilíbrio na parte de cima da tabela de classificação faz até o São Paulo, oitavo colocado com 28 pontos, confiar no título. Como o time tem quatro pontos a mais que o nono colocado, a Chapecoense, não perderá a posição na próxima rodada. "Temos todo um segundo turno pela frente", disse o técnico colombiano Juan Carlos Osorio, que sabe que o clube tricolor já tirou diferença maior para chegar ao título. "Em 2008, o São Paulo estava 11 pontos atrás do Grêmio na 20.ª rodada e conseguiu ser campeão. Sou otimista".
Se a disputa pelas primeiras posições é acirrada e com uma pontuação elevada, a zona do rebaixamento tem este ano as equipes com pior aproveitamento da história dos pontos corridos. Nunca a distância dos times que estão na faixa da degola para o 16.º colocado foi tão grande como agora.
O Goiás, primeiro time na zona do rebaixamento, tem 15 pontos, cinco a menos do que o Avaí. Isso significa que, a duas rodadas do encerramento do turno, dificilmente haverá mudança na formação do bloco - os outros três times não têm chance de chegar aos 20 pontos. E a distância que separa o Goiás do oitavo colocado já é de 13 (28 a 15).
Nas outras edições do Nacional, a maior diferença registrada na 17.ª rodada entre os times da zona de rebaixamento e o 16.º colocado foi de três pontos. Isso ocorreu em 2007 e 2013.
O péssimo rendimento das equipes da zona do rebaixamento criou um "fosso" com os demais clubes. Se o ritmo continuar assim, é provável que a distância cresça ainda mais com o passar das rodadas e a definição dos rebaixados ocorra bem antes da rodada final - no ano passado, Bahia e Vitória caíram no jogo derradeiro.
Ilusão
Um dos motivos que ajudaram a criar o abismo é a questão financeira. Com exceção do Vasco, que recebe R$ 70 milhões por ano da Rede Globo, mas tem uma dívida monstruosa, os outros integrantes do grupo ganham bem menos. Goiás e Coritiba levam R$ 35 milhões cada um e o Joinville (assim como outros clubes catarinenses) embolsa R$ 16,2 milhões.
A ilusão provocada por uma boa campanha no Estadual também influi no desempenho. Três times da zona de rebaixamento (Goiás, Vasco e Joinville) levantaram a taça - o time catarinense perdeu depois o título na Justiça e o Coritiba foi vice. Entraram no Brasileirão achando que poderiam encarar a concorrência e agora correm atrás de reforços (além de já trocado de treinador).
O vice-campeonato paulista do Palmeiras foi um resultado acima da expectativa, visto que o elenco tinha 24 jogadores novos em relação a 2014. Mais entrosado, o time está melhor agora e, por isso, briga em cima.
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