No dia seguinte ao fiasco do Santos na decisão do Campeonato Paulista contra o Ituano, o presidente em exercício, Odílio Rodrigues Filho, disse que não será candidato nas eleições de dezembro para continuar administrando o clube por mais dois anos. Em outubro do ano passado, em entrevista exclusiva ao Estado, o dirigente parecia interessado em tentar a sua primeira eleição para presidente, apesar do estatuto do clube vetar a sua terceira candidatura seguida - as duas
primeiras, como vice de Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro.
"Existe um conflito no estatuto (na questão) se eu posso ou não ser candidato, mas não tenho nenhum interesse em abrir essa discussão agora", disse Odílio, na oportunidade. De acordo com um dos membros do Comitê de Gestão, nas últimas reuniões Odílio já questionava se valeria a pena continuar presidindo clube.
A mudança de postura se deve às suspeitas levantadas sobre os valores da venda de Neymar ao Barcelona e às enormes dificuldades financeiras que o Santos atravessa,
com a antecipação da cota de televisão de 2015 e o comprometimento da cota de 2017 para devolver à Doyen Sports, parceira na contratação de Leandro Damião, os R$ 42 milhões, acrescidos dos juros, da compra do atacante.
Mesmo assim, Odílio não foi taxativo. Ele disse nesta segunda-feira que não pretende ser candidato e se que propõe a ser articulador da campanha do nome, ainda não escolhido, a concorrer pela situação, deixando brecha para ser "convencido", principalmente se o Brasil ganhar a Copa, abrindo perspectivas de melhora na situação dos clubes.
Com o fracasso nas finais do Paulista, a situação se agrava porque reduz drasticamente a possibilidade da entrada de pelo menos R$ 50 milhões com a venda de duas ou três revelações, para tapar buracos no caixa. Como também fica mais difícil o clube conseguir patrocínio master da camisa do time. Nesta segunda, um importante dirigente santista afirmou que a derrota nos pênaltis faz com que haja uma reflexão na Vila Belmiro. "Será que o time do Santos é tão bom quanto se acreditava? Ou seremos obrigados a endividar ainda mais o clube com a contratação de reforços para não corrermos riscos no Campeonato Brasileiro?", questionou.
A comemoração do 102º aniversário de fundação do clube, durante esta segunda-feira, no Memorial de Conquistas, foi esvaziada. Odílio fez um pronunciamento e também demonstrou dúvida sobre a real qualidade do time. "Como torcedores apaixonados, pensávamos comemorar o aniversário com mais um título de campeão em nossa galeria, mas fomos vices. Temos a oportunidade de refletir sobre o que nos falta para as demais competições na temporada e para sermos ainda melhores".
Para o sempre crítico Coutinho, os papeis se inverteram nas finais do campeonato. "O Santos deixou correr frouxo. Precisava brigar mais porque um título é um título. Fez de tudo para chegar, e na final para jogar do jeito que jogou. O Ituano mereceu pela maneira que jogou, com vontade e garra, algo que faltou para nós. Perdemos muitos gols, gols que não podemos perder nunca, principalmente em decisão", disse o ex-parceiro de ataque de Pelé. Sobre a atuação de Leandro Damião, ele preferiu não opinar. "Não sei. Isso vocês (jornalistas) têm que falar com a diretoria, que foi quem contratou".
Pepe relembrou algumas viradas históricas do Santos, inclusive 1963 contra o Milan, no Maracanã, e também estranhou o comportamento do time nos dois jogos da decisão do Campeonato Paulista. "Esperávamos festejar com a conquista do título, juntar as duas coisas, mas infelizmente não deu. Foi um momento inesperado e errado. Eu diria que vamos procurar aproveitar esse reencontro com antigos companheiros, do grande ataque, para um consolar o outro, e comermos juntos o bolo, amargo, por sinal. Não tem outro jeito", disse o ex-jogador e outro ídolo histórico do clube.
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