Após Zidane, Real Madrid busca candidato para cargo inflamável

Agence France Presse
01/06/2018 às 16:48.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:23
 (Reprodução/Instagram )

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Órfão de Zinedine Zidane, que deixou o clube no auge após três títulos consecutivos da Liga dos Campeões, o Real Madrid está a procura de um novo técnico capaz de aceitar a honra e os riscos de um cargo inflamável e sempre sobre pressão.

Clube em ebulição

O conceito de lua de mel já não existe no Real Madrid. Quando se tem 13 títulos europeus, os troféus conquistados são rapidamente esquecidos diante dos próximos que podem vir. Daí a tensão permanente que convenceu Zidane a pedir demissão após dois anos e meio no cargo, cinco dias depois do tricampeonato inédito de um treinador.

"É um desgaste natural", resumiu na quinta-feira o francês de 45 anos, que tinha vínculo com o clube até 2020.

Após um ano de 2017 inesquecível, Zizou recebeu chuva de críticas a partir de janeiro após a eliminação para o modesto Leganés (1-0, 1-2) na Copa do Rei.

"Existem momentos duros na temporada, isso te faz refletir", explicou Zidane.

Jogador merengue entre 2001 e 2006, Zizou estava ciente das exigências do time. Um clube em permanente ebulição, no qual nenhum técnico ficou no comando por mais de três anos e meio neste século.

"Não existe material mais inflamável que o clube merengue, sempre exposto ao incêndio", resumiu nesta sexta-feira o jornal esportivo espanhol, Marca, em seu editorial.

Esgotamento sem fim

Treinamentos e coletivas de imprensa, antes e depois dos jogos, mais treinamentos... no Real Madrid, o técnico está sempre sob os holofotes, saltando de competições e acumulando viagens.

Vivendo intensamente cada encontro, Zidane compareceu diante da imprensa inúmeras vezes com um ar feliz, mas esgotado.

"Todo o ano é assim, com tantas competições, jogos, deslocamentos... Isso desgasta enormemente", declarou à AFP Alfonso Pérez, que jogou no Real Madrid (1991-1995) e no FC Barcelona (2000-2002).

"Quando alguém vai para um clube como esse, sabe ao que está se expondo. Pressão enorme, o dever de ir bem. É uma provação constante", lembrou o ex-atacante espanhol.

As turbulências são difíceis de suportar por muito tempo, assim como já explicaram Pep Guardiola (2008-2012) e Luis Enrique (2014-2017) quando deixaram o Barça.

Contexto exigente

Tanto no Real Madrid quanto no Barcelona, um jogo sem vitória já é considerado tropeço. Dois revezes seguidos fazem soar os alarmes e um terceiro instala a crise.

O Santiago Bernabéu é um dos estádios mais exigentes do mundo: quer assistir bom futebol, vitórias e títulos, vaiando sempre que necessário.

"Vivemos momentos complicados nesta temporada, quando existem vaias... Mas faz parte deste clube, é uma torcida exigente", reconheceu Zidane.

As polêmicas se revezam. Agora é necessário responder dez vezes a mesma pergunta sobre o suposto interesse merengue na contratação do brasileiro Neymar.

Cargo de risco, mas tentador

Diz-se que o elenco madrilenho é difícil de administrar, por conta de egos e irritações. Zidane conseguiu cuidar da estrela Cristiano Ronaldo, restaurar a confiança do desacreditado Karim Benzema e animar outros jogadores irregulares.

Ainda assim, após três Ligas dos Campeões em três anos, o time envelheceu. Será necessário reconstruí-lo e para isso o Real Madrid terá o bolso cheio graças às econômicas transferências feitas por Zizou.

A imprensa espanhola já indica rumores sobre o futuro treinador da equipe, que precisa estar disposto a assumir um time de alto risco. Entre os cotados estão os estrangeiros Mauricio Pochettino, Joachim Low e Jungen Klopp, ou algum jovem sem experiência que tenha história no clube, como Guti ou Raúl.

Nesta sexta-feira, o técnico da seleção alemã desmentiu que pudesse comandar a equipe, enquanto Pochettino deixou a porta aberta: "que aconteça o que tenha que acontecer", disse o treinador, mesmo após a renovação de contrato que o liga ao Tottenham até 2023.

"Você acha que existem técnicos que consideram que é difícil, que é preciso ser valente para agarrar um elenco assim? Eu pensaria exatamente o contrário", disse o argentino com um sorriso.

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