(Flávio Tavares/Hoje em Dia)
"Célio, um abraço para você. Tudo de bom e muito obrigado por tudo”. Pendurada na pequena recepção do modesto clube Comercial, no Barreiro, a camisa 10 do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, autografada pelo atacante Bernard, representa muito mais do que um simples presente ao primeiro treinador. É um objeto praticamente sagrado, que faz crianças e adolescentes sonharem mais alto na escolinha de futebol em que o mais jovem jogador da Seleção Brasileira convocada ontem deu os primeiros chutes. Bernard, de 21 anos, aquele menino franzino do Bairro Diamante, no Barreiro, que chegou a ser dispensado duas vezes do Atlético por causa da baixa estatura, é o sexto atleta nascido em Belo Horizonte a defender o Brasil em uma Copa do Mundo. A trajetória é um exemplo para a maioria dos meninos que sonham em trilhar o mesmo caminho, principalmente aqueles 380 que hoje jogam no Comercial. “Quando eu entro aqui neste campo eu me imagino pisando no Mineirão com a camisa da Seleção Brasileira. Lembro que o Bernard começou neste mesmo gramado e vejo que eu também posso conseguir o que ele conseguiu”, projeta Luiz Kenned, de 12 anos, que também atua como meia-atacante. Entre um treino e outro, a convocação da mais ilustre revelação do clube do Barreiro era o principal assunto ontem nas rodinhas de conversa dos futuros craques. “Ele chegou aqui com apenas quatro anos e meio trazido pelos pais. Até então era apenas uma recreação. Mas, quando tinha uns 7 anos, logo percebemos que tinha muito talento. Bernard se destacava para todo mundo. Impossível não perceber sua qualidade quando estava em campo”, relembra Célio Moreira de Castro, primeiro treinador do craque. “Fiquei muito feliz ao ver o nome dele na lista do Felipão. É uma emoção porque acompanhamos todos os passos”, completa. Bernard passou cerca de oito anos no Comercial até chegar ao Atlético, levado por Rubão, amigo da família e tido como um padrinho pelo jogador. Ontem, enquanto era convocado, o atacante marcava um gol que ajudou o Shakhtar a vencer o Slavutych por 3 a 0, pela Copa da Ucrânia. Sempre que pode, Bernard visita o campinho de grama rala e redes remendadas para rever os amigos e abraçar Célio. “Eu já toquei bola com ele quando ele veio aqui pela última vez. Prestei atenção em tudo e me imaginei até dando entrevistas para a imprensa”, completa Kenned. “Quero ser como o Bernard e chegar à Seleção”, diz o pequeno Gabriel Lucas, de 7 anos. Cada aluno paga atualmente uma mensalidade de R$ 80 para ter aula três vezes por semana no clube.