(Flávio Tavares)
Por onde passa, ele chama a atenção pela intimidade com a bola e sempre ouve elogios. Já coleciona medalhas que pesam no pescoço e os troféus de premiações individuais seriam suficientes para decorar uma grande prateleira. Qualquer craque do futebol atual poderia se encaixar na descrição. A diferença, porém, é que trata-se do desconhecido atacante Pedro Henrique Millas. Mas também, ele tem apenas 12 anos.
Natural de Belo Horizonte, o atleta mirim é considerado um fenômeno para a sua idade e é tratado como joia pelo Atlético. O presidente Alexandre Kalil já sabe que ele precisa de um olhar mais apurado para desenvolver seu potencial. "O Pedro tem muito futuro, tem todas as características de um jogador com potencial para se profissionalizar, mas ainda temos que tratar a questão dele com cuidado, já que é jovem demais", disse Helbert Barbosa, o treinador de crianças do Atlético.
Pedrinho não possui nenhum vínculo com o Galo e este é um dos pesadelos dos clubes brasileiros, por conta da famigerada Lei Pelé que impede vínculo profissional até os 16 anos e, por tabela, criou a figura poderosa dos empresários de jogadores no futebol globalizado.
Com apenas 12 anos, ele pode ir embora a hora que bem entender. E sua família já foi "seduzida" com promessas de um grande clube europeu e outros times do futebol brasileiro, como o Cruzeiro, onde Pedro já treinou, Fluminense, Santos e Internacional. Quando um menino apresenta uma qualidade acima dos demais, logo vem empresários de toda parte tentando fechar negócios com o pai. E Pedro, além de ter o talento reconhecido, possui outro atrativo: a dupla cidadania. O sobrenome Millas vem da avó materna, descendente direta de italianos naturais de Brescia, cidade ao norte da Itália.
Todos essas fatores já o colocaram na rota de observação de Milo Raiola, um dos grandes agentes Fifa do mundo, que possui clube satélite no Brasil e agencia carreira de jogadores como Ibrahimovic e Balotelli, além de ter levado para a Europa os "mineiros" Maxwell, Cris, Kerlon e Zé Eduardo, todos com passagem pelo Cruzeiro.
Mas a ideia de seus pais é ficar em Belo Horizonte, onde possuem residência e emprego. Por outro lado, a paciência pode ser a grande inimiga na questão, uma vez que ter um talento assim na família é aumentar as esperanças de uma vida próspera.
No Galo, Pedrinho só pode disputar amistosos, uma vez que não é federado pelo clube alvinegro. O Atlético não possui time em sua categoria. Então, ele vai à Cidade do Galo duas vezes por semana (terça e quinta) e, enquanto foca nos estudos na parte da manhã, completa sua semana de treinos no Futgol.
"Meu sonho é ser jogador e sei que tenho muita coisa a aprender, um longo caminho. Mas só de ter essa chance de jogar no Atlético me sinto feliz. A estrutura lá é muito boa, me sinto bem no Atlético", afirmou o jovem jogador.
"Eu sou amigo da família e sabia que o Pedro ia ser jogador quando estava na barriga da mãe (rissos). Se nada de anormal acontecer, vai ser profissional, não temos com o que se preocupar, estou há 20 anos nesse ramo e sei quando surge uma criança especial. Agora, é ter calma e esperar que a caminhada dele seja tranquila até se profissionalizar", afirmou Adilson Pereira, coordenador técnico da escolinha Futgol, no bairro Castelo, onde Pedrinho disputava torneios antes de chamar a atenção do Galo, há três meses.
Um grande passo para Pedro ficar conhecido entre os profissionais das categorias de base foi no torneio Go Cup, de Goiás, que reúne times de renome internacional.
Na última edição, o atacante levou o Futgol ao vice-campeonato, perdendo o título para a Lazio. Mas Pedro voltou para casa com a artilharia de sua categoria. Já são oito campeonatos seguidos nos quais o menino é o máximo goleador. Entre as outras equipes famosas que estavam no Centro-Oeste do país, destacam-se Atlético de Madrid, Boca Juniors, Shakhtar Donetsk, Sporting (POR), Benfica e Colo-Colo.
Resultados do acompanhamento nutricional
Diante de todas as promessas ouvidas, os pais de Pedro resolveram escolher o Atlético devido à fama que o clube tem em desenvolver jovens talentos e, principalmente, pela estrutura da Cidade do Galo para acolher crianças.
Apesar de treinar apenas duas vezes na semana lá e não poder usar o uniforme alvinegro oficialmente, Pedro já viu resultados na única ajuda extra-campo que o clube oferece: o acompanhamento nutricional.
"Não recebemos ajuda de custos do clube, tenho apenas o apoio financeiro de um parente que gostaria de manter em sigilo sua identidade, o Galo, porém, oferece nutricionista e vem dando certo. Ele crescer 5 centímetros e ganhou três quilos desde que chegou ao Atlético", afirma o pai da criança, Kinnier.
O Atlético não ofereceu nenhuma promessa para a família de Pedro, algo comum para os clubes que se interessam por este tipo de promessa. O técnico de longa data do atacante lembra que já chegou em seus ouvidos muitos empresários querendo levar o jogador para vários cantos do Brasil.
"Ouvimos muita coisa. Eles falam que vão dar isso e aquilo para o Pedrinho, mas sempre respondo que eles precisam ajudar a família. Mas rebatem dizendo que só podem ajudar os pais e o Pedro, que só querem levar eles. Só que veja bem: tem que dar boas condições para a família toda, assim não adianta", comenta Adilson Pereira.
Encantando e esnobando
Pedro Millas ainda tem um longo caminho pela frente até se tornar um jogador profissional. Mas ele já convive em um ambiente rodeado de gente importante do meio. Na Futgol, por exemplo, Adilson ajuda a organizar as peladas de fim de ano de alguns atletas famosos, como Fred, do Fluminense. Ele já foi treinador do filho do atacante Alecsandro ex-Galo, e Pedro sempre esteve presente.
Em uma dessas peladas, na Toca da Raposa II, Pedrinho tirou foto com Neymar e, há alguns anos, até esnobou o atacante francês Benzema.
"O Fred trouxe o Benzema para Belo Horizonte uma vez, para jogar pelada de fim de ano. Todo mundo quis tirar foto com ele, mas o Pedro falou: 'Vou não, pai, nem sem quem é esse aí", disse Kinnier.
Por falar em Neymar, o sênior, pai do jogador, já viu de perto o que Pedro é capaz de fazer. E Kinnier garante que o responsável por gerir a carreira do maior jogador brasileiro da atualidade foi só elogios.
"O pai do Neymar me disse: quem dera o meu filho tivesse o terço do talento do seu com a mesma idade dele".