POLÊMICA

Audiência pública termina com proposta de mudança de endereço da Stock Car em BH

Evento previsto para agosto gera polêmica devido a eventuais impactos no meio ambiente na região da Pampulha

Bernardo Haddad*
@_bezao
26/02/2024 às 18:24.
Atualizado em 26/02/2024 às 22:07
Corrida está marcada para o dia 18 de agosto e deve ser realizada no entorno do Mineirão (Reprodução/ Redes Sociais)

Corrida está marcada para o dia 18 de agosto e deve ser realizada no entorno do Mineirão (Reprodução/ Redes Sociais)

*Matéria atualizada para inclusão da nota enviada pela organização do evento

A Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana da Câmara Municipal de Belo Horizonte discutiu em uma audiência pública, nesta segunda-feira (26), a realização da etapa da Stock Car na capital mineira, em agosto. Durante o debate, participantes defenderam a mudança do local da competição. O evento está previsto para acontecer no entorno do Mineirão, na Pampulha.

Entre as preocupações estão danos ambientais e a dificuldade para se preservar o silêncio na região - nos arredores, fica o Hospital Veterinário da UFMG. Já a organização do evento afirma que a realização da prova tem como pilares "sustentabilidade, inclusão e segurança" e que o Mineirão e o entorno foram escolhidos após “diversos estudos de engenharia e impactos”, não havendo outro local em BH "que se adeque às especificidades técnicas da Stock Car” (leia mais abaixo). 

O vereador Sérgio Fernando Pinho Tavares (PL) diz temer reflexos da corrida na Lagoa da Pampulha, como uma eventual contaminação do espelho d’água pelo combustível dos veículos da competição.

Já o vereador Bruno Pedralva (PT) destacou o risco de danos "na região mais ecológica da cidade" e propôs que a prova seja transferida de local.

"A Cidade Administrativa já não é grande? Quando construíram lá, cortaram muitas árvores. Usem um pedaço da Linha Verde. Não precisamos desse evento que vai atrapalhar a vida das pessoas, do meio ambiente e dos animais".

Representando a UFMG, a professora Fábia Pereira Lima, diretora do Centro de Comunicação da UFMG (Cedecom), também manifestou a preocupação da instituição de ensino, que tem campus na Pampulha, com a prova.

"É uma discussão que precisa ser feita com cautela. A UFMG está fazendo um estudo técnico, que leva tempo, para verificar todos os impactos. Não nos parece o local mais adequado para a realização do evento".

Além dos vereadores e da UFMG, também participou da audiência pública o deputado federal Rogério Correia (PT). No início do mês, ele já havia se manifestado contra a Stock Car em BH, via redes sociais.

"Na nossa visão, a cidade tem muito a perder, pois o evento cortará cerca de 160 árvores. Primeiro, estamos vivendo um tempo de emergências climáticas, haja vista as grandes temperaturas que pairaram sobre BH. Se concretizada, a Stock Car causará mortandade também de animais e vai prejudicar até mesmo a UFMG", afirmou.

Na semana passada, o Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam) aprovou o corte de 63 árvores no entorno do Mineirão para a realização da Stock Car. Segundo a empresa responsável pelo evento, serão plantadas outras 688 como medida de compensação.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana da Câmara Municipal, vereador Ciro Pereira (PRD), se posicionou a favor da realização da Stock Car e destacou pontos que considera positivos na realização da  corrida. "Esse evento vai trazer muitos empregos para a cidade, toda uma atividade econômica".

Chefe da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e representante da Prefeitura na audiência,  Henrique Castilho diz que estão sendo tomados cuidados para que a prova aconteça sem interferir negativamente no meio ambiente.

“O Comam aprovou (a realização) em uma reunião de sete horas, uma ampla reunião na qual todas as perguntas foram respondidas. Um professor da UFMG está coordenando um projeto sobre a questão dos ruídos. Todo o evento tem certificação. Todo o combustível será recolhido", afirmou.

A Stock Car em BH está marcada para 18 de agosto. O campeonato tem 12 etapas, que acontecem de 3 de março a 15 de dezembro. A abertura será em Goiânia (GO) e o encerramento, em Interlagos (SP).

Em nota enviada ao Hoje em Dia, a organização da competição afirmou, entre outros aspectos, que estão sendo planejadas “medidas para mitigar o impacto sonoro do evento, com a instalação de barreiras acústicas no circuito, principalmente próximo à UFMG”.

Veja o texto na íntegra:

A sustentabilidade, inclusão e segurança são os pilares do BH Stock Festival. A organização do evento já planeja medidas para mitigar o impacto sonoro do evento, com a instalação de barreiras acústicas no circuito, principalmente próximo à UFMG. O desenvolvimento econômico e social da cidade também são prioridades e, por isso, diversas ações serão implementadas, como a neutralização de carbono por meio do plantio de árvores e o incentivo ao uso do transporte público, para reduzir o trânsito de veículos e as emissões de gases poluentes.

O cuidado com os resíduos gerados durante o evento também é uma responsabilidade assumida pela organização do BH Stock Festival. Será realizado o rerrefino do óleo lubrificante utilizado pelas equipes, por meio da empresa brasileira LWART, que faz a coleta de todos os fluidos utilizados pelas equipes da Stock Car e da Fórmula 1 no Brasil.

É importante ressaltar que os carros da Stock Car não utilizam óleo diesel e que a quantidade de gasolina contida nos tanques é menor quando comparada ao uso de um veículo de passeio, já que em uma corrida o fato peso é determinante e por isso as equipes buscam otimizar cada vez mais cada quilo que será tracionado pelo motor. E uma novidade é que não haverá reabastecimento durante as provas, o que minimiza ainda qualquer tipo de risco de vazamento.

Durante as competições, são apenas 31 automóveis na pista, número muito menor comparado ao fluxo de veículos durante o trânsito habitual na região. Outro ponto importante é com relação ao óleo lubrificante utilizado nos carros, que tem a mesma quantidade, ou menos, que outros tipos de automóveis que transitam pela orla da Lagoa da Pampulha.

A possibilidade de vazamento de qualquer tipo de fluido no asfalto é mínima, porém, mesmo que ocorra por algum motivo, a equipe da organização do evento estará a postos com um produto que absorve o resíduo instantaneamente sem o risco de cair em alguma galeria.

Todas as medidas implementadas pelo BH Stock Festival conferem ao evento o Certificado de Destinação Final, documento de valor legal que assegura a conformidade com as normas ambientais, além de chancelar a iniciativa como Carbono Neutro.

Com relação ao local do evento, é válido ressaltar que o Mineirão e o seu entorno foram escolhidos após diversos estudos de engenharia e impactos e que Belo Horizonte não tem nenhum outro local que se adeque às especificidades técnicas da Stock Car. E ainda, há o valor histórico, já que as vias ao redor do estádio já foram palco para emocionantes competições de automóveis.

A organização do BH Stock Festival deixa claro que a intenção é fomentar é trazer benefícios para a capital mineira. Isso fica nítido ao se observar os números: cerca de R$ 200 milhões serão injetados na economia do município, com a arrecadação de aproximadamente R$ 20 milhões de impostos por ano. O evento que vai incrementar o setor hoteleiro, de transportes, de bares e restaurantes e, com isso, mais de de 1.500 empregos diretos e indiretos devem ser criados.

De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o evento poderá gerar um impacto de até R$ 284,6 milhões ao município ao longo dos cinco anos de realização. Já a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead) estima um impacto de até 0,08% no Produto Interno Bruto (PIB) de Belo Horizonte já em 2024.

*Estagiário sob supervisão de Angel Drumond

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