Pela primeira vez uma autoridade russa admitiu publicamente a existência de um esquema institucional de doping de atletas no país, embora poupe o presidente Vladimir Putin e seus principais colaboradores. Em entrevista ao New York Times, a atual presidente da Agência Russa Antidopagem (Rusada), Anna Antseliovich, chegou a usar o termo "conspiração" para definir o esforço que envolveu o serviço secreto e várias autoridades ligadas ao esporte para mascarar o uso de substâncias proibidas a partir dos Jogos de Londres-2012, mas principalmente em competições internacionais disputadas em solo russo, como os Jogos de Inverno de Sochi-2014 e o Mundial de Atletismo de Moscou, em 2013.
Relatório elaborado pelo especialista canadense Richard McLaren, cuja segunda parte foi divulgada no início do mês, revelou que 676 atletas do país estiveram envolvidos. Além do acesso a estimulantes e drogas como o meldonium, com orientações para não serem flagrados em exames, eles foram acobertados graças a um engenhoso sistema que incluia a troca de amostras de urina por material não-positivo. Muitas vezes as amostras eram manipuladas de forma grosseira – houve casos de mulheres cujas análises apresentavam DNA masculino.
O incidente levou à exclusão da equipe de atletismo dos Jogos Olímpicos do Rio, bem como de todo o time paralímpico. Os nomes identificados por McLaren, embora não tornados públicos, foram repassados às confederações das diversas modalidades e ao Comitê Olímpico Internacional (COI) que, com a Agência Mundial Antidoping (Wada), tem refeito uma série de exames colhidos desde os Jogos de Pequim-2008.
Ex-ministro do Esporte e atual diretor de um programa criado por Putin para combater o uso de substâncias proibidas, Vitaly Smirnov também reforçou o discurso da colega, embora sem entrar em detalhes. "Do meu ponto de vista, como um ex-ministro e ex-presidente do Comitê Olímpico, reconheço que cometemos muitos erros. Mas, não quero falar pelas pessoas que são responsáveis".
Tolerância zero
Outro país envolvido diretamente em casos de doping, a Etiópia promete adotar medidas mais rígidas que as determinadas pela Wada especialmente em sua principal modalidade, o atletismo. Quem garante é ninguém menos do que o bicampeão olímpico dos 10 mil metros rasos (Atlanta-1996/Sydney-2000) Haile Gebrselassie, que se tornou presidente da federação nacional do esporte. "Vamos banir do esporte aqueles que insistirem com a trapaça. Não há atenuantes para quem quer vencer dessa forma. A partir de agora será tolerância zero", garante.