(AFP)
Desde o início da Copa do Mundo, mais da metade dos gols marcados -18 dos 35- até o fechamento da sexta rodada vieram de bola parada: 4 em cobranças de falta, 7 em tiros livres indireto ou escanteio e outros 7 de pênalti, proporções muito elevadas ao que é visto na Bundesliga alemã (35%) ou a Ligue 1 francesa (23%) na última temporada.
Jogadores como Golovin, Cristiano Ronaldo, Kolarov e Juan Quintero marcaram lindos gols de falta, uma das fórmulas que está tendo sucesso em terras russas para furar os cada vez mais fechados sistemas defensivos, como fizeram a a Suíça diante do Brasil e a Islândia contra a Argentina.
- O reino tático -
Os gols de bola parada muitas vezes são denegridos em relação a ações coletivas ou jogadas que nascem do talento dos jogadores, que conseguem resolver um lance na criatividade. Contudo, nem todas as equipes possuem a qualidade técnica do Brasil ou o senso do coletivo da Espanha, que anotou dois de seus três gols contra Portugal graças à magia de seus atletas.
"Sabemos desde o primeiro momento que os esquemas táticos estão muito fechados. É isso que vamos ver nos jogos da primeira fase, as bolas paradas serão uma arma determinante", analisou Aliou Cissé, técnico de Senegal.
O Uruguai pôde festejar os três pontos contra o Egito, na estreia na Copa do Mundo da Rússia, graças ao gol de cabeça do zagueiro José Giménez nos minutos finais, após cobrança de escanteio.
Arma ofensiva e poderosa, as cobranças de falta são um desafio para as defesas no Mundial russo. De fato, todos os gols sofridos por equipes africanas até esta segunda-feira vieram de bola parada: 1 no Egito, 1 no Marrocos, 2 na Nigéria e 2 na Tunísia.
Com isso, oferecer ao adversário um tiro livre parece uma pecado, como fez Gerard Piqué ao cometer falta em Cristiano Ronaldo na intermediária, a 5 minutos para o fim do duelo entre Portugal e Espanha. O próprio craque português pegou a bola e acertou o ângulo do gol espanhol, empatando a partida em 3 a 3.
- Bola suspeita -
Em cada competição, a bola oficial da Copa do Mundo é criticada pelos goleiros por sua trajetória imprevisível.
A Telstar 18, última produção da Adidas, parece seguir o caminho da Jabulani, a bola que gerou polêmica na África do Sul-2010.
Desde sua aparição, os goleiros reclamam. Serão "mais de 35 gols por causa da bola" na Rússia, previa o goleiro reserva da Espanha, Pepe Reina, após um amistoso com a Alemanha em que a bola da Copa foi usada.
"Houve muitas críticas, mas não podemos mudar nada (...) a tecnologia evolui e os jogadores vão marcar de 40 metros de distância", lamentou por sua vez o goleiro russo Igor Akinfeev.
Os goleiros, porém, não são capazes de responder a uma pergunta: se a trajetória da bola é tão imprevisível, como jogadores como Cristiano Ronaldo conseguem colocá-la onde querem.
- Sorria, você está sendo filmado -
Com a estreia do VAR na Rússia, mais pênaltis estão sendo marcados. Tudo é visto e qualquer ato ilícito pode se transformar em castigo dentro da área, obrigando as equipes a se adaptarem defensivamente à tecnologia.
O técnico inglês Gareth Southgate alertou aos comandados antes da Copa que não haveria mais impunidade.
"Não é que queremos enganar os árbitros, mas acabou isso de pensar que podemos fazer porque não será visto. É preciso ter atenção em campo sempre", afirmou.
Com o auxílio do VAR, já foram apitados três pênaltis na Copa da Rússia. A tecnologia, porém, ainda não foi usada para anular um gol. França e Suécia foram duas seleções que se beneficiaram da novidade.
"Escutei muitos comentários e digamos que, entre 10 pessoas, 7 acharam que foi pênalti e três não", disse o técnico da Austrália, Bert van Marwijk, que viu sua seleção perder para a França por 2 a 1 por causa de um pênalti marcado graças ao VAR.
"Tenho certeza que foi uma boa decisão, deixa as coisas mais fáceis para o árbitro", considerou o técnico da Dinamarca, Age Hareide, que também teve um pênalti contra sua equipe apitada pela tecnologia. Mas, no seu caso, o peruano Christian Cueva mandou a bola para fora na cobrança.