Brasileiros 'invadem' cada vez mais cedo o futebol de Portugal

Estadão Conteúdo
14/01/2019 às 08:26.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:01

O volante Maurício Guedes Cruz Júnior jogou na Portuguesa dos 12 aos 18 anos. Um dos pontos altos de sua carreira foi a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2018, quando chegou à semifinal. Mesmo com a carreira em ascensão, ele decidiu se mudar para a Europa para iniciar sua vida profissional por lá. Hoje, o neto de portugueses atua no time sub-19 do Naval 1893, da segunda divisão portuguesa. Seu time não paga salários para os meninos da base, só alimentação e alojamento. Mesmo assim, o volante se diz feliz por estar na Europa, a maior vitrine do futebol mundial, em sua visão.

A trajetória de Maurício não é um ponto fora da curva. Os jovens brasileiros estão indo cada vez mais cedo para a Europa. A nova conjuntura vai além dos casos célebres, como o de Vinicius Junior, que foi contratado pelo Real Madrid quando tinha 17 anos, mas só se transferiu depois da maioridade. O cenário abrange também os jogadores que ainda buscam o estrelato e se transferem para times pequenos e medianos. Com isso, a Copa São Paulo perde um pouco de seu brilho como grande vitrine. "Todo jogador que está no Brasil sonha com uma transferência para a Europa. A oportunidade surgiu e era o meu sonho", diz o volante.

O que fez o lateral-esquerdo João Lucas arrumar as malas assim que completou a maioridade foi a diferença de estrutura comprovada pelos amigos que viajaram antes dele. "O Brasil, tanto no profissional como nas categorias de base, está um pouco atrás do futebol europeu. Os times de segunda e terceira divisões têm problemas de estrutura para os atletas. Na Europa, é diferente", compara o defensor, que começou sua passagem na Europa no Alcochetense, da terceira divisão portuguesa.

Em função do idioma, Portugal é o destino preferido. Hoje, o Brasil tem 152 atletas divididos pelas 18 equipes só na Primeira Divisão de acordo com o site Transfermarket, especializado em transferências internacionais. A Diretoria de Registro, Transferência e Licenciamento da CBF aponta que a terra de Cristiano Ronaldo e Luis Figo foi o país que mais contratou brasileiros na última janela. Foram 51, a grande maioria entre 18 e 23 anos. Esse movimento migratório cria alguns casos curiosos. O Naval tem oito brasileiros (cinco na base e três no profissional). Já o Portimonense tem 19 jogadores do País.

A Europa não é propriamente o paraíso para os principiantes. Pelo contrário. Alguns clubes não pagam salário e outros dão uma ajuda de custo que varia entre 150 euros (R$ 640) e 400 euros (R$ 1700). "Estou em busca de um objetivo, que é ser atleta profissional. Agora não estou ligando muito para dinheiro. Tudo tem seu tempo", diz Maurício.

Para a aventura dar certo, os atletas têm de se adaptar aos gramados sintéticos, realidade nas divisões inferiores, e às exigências táticas dos treinadores. Eles têm de encarar também o frio na casa dos 5 °C nesta época do ano. As relações têm uma temperatura um pouco melhor. "Nós fomos muito bem recebidos. Foi melhor do que eu imaginava", comemora João, que estava preocupado com preconceito e discriminação.

O economista Michel Augusto de Souza Teixeira viu na imigração antecipada um nicho de mercado. Ele criou uma empresa de gestão de carreira de atletas que oferece acompanhamento médico, preparação física e até assessoria financeira. Hoje, atende uma dúzia de atletas em Portugal, Itália e Malta. Assessora mais jogadores no exterior do que no Brasil, a maioria até 23 anos. "A Europa é a melhor vitrine. Além disso, mesmo que o atleta não dê certo, ele ganha credibilidade e valorização numa eventual volta ao Brasil", diz o empresário.

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